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sexta-feira, 5 de março de 2021

JESUS É UMA AMEAÇA AO TEMPLO - REFLEXÃO DO EVANGELHO DE DOMINGO

 

Imagem: Pinterest

Reflexão sobre João 2,13-22: Entendendo um pouco mais o evangelho do domingo

Contexto

Se olharmos o contexto de João 2,13-22, veremos que é totalmente diferente do mesmo relato em Mateus, Marcos e Lucas. Nos Evangelhos sinóticos, o ataque ao templo e relatado também na Páscoa, mas no fim da atuação de Jesus, pouco antes de sua prisão. João coloca esse episódio no início do ministério de Jesus, após a vocação dos discípulos e o sinal nas bodas de Caná. Com isso, João coloca um peso especial nesse relato: mostra que Jesus, no início de seu ministério, identificou o templo como um problema-chave. Após a narrativa do conflito no templo, João relata a conversa de Jesus com Nicodemos sobre a participação no Reino de Deus. Isso para mostrar que as lideranças dos judeus, desde o início do ministério de Jesus, não o entenderam e o encararam como uma ameaça. Esse texto, colocado no início do Evangelho, mostra que o templo é uma ameaça para o Reino pregado por Jesus e que Jesus era uma ameaça para o templo. No fim, quem prendeu Jesus foram os soldados do templo e o torturaram a mando da direção do templo.

Conflito central do texto

O templo tem que ser destruído porque se desviou de sua função, ou melhor, porque cumpre exatamente a função dada a ele por Salomão: ser aparelho ideológico do Estado. O templo virou sustentáculo do sistema econômico vigente. Atacando os cambistas e vendedores, Jesus atacou a família do sumo sacerdote, que tinha autorização para comercializar no templo. Dessa forma, também atacou o sumo sacerdote e a função do templo de ser o sustentáculo econômico da capital. O templo girava em torno do econômico e legitimava o sistema econômico, que, por sua vez, legitimava o político e o ideológico. E o econômico era decidido pelo Império Romano, e esse designava o sumo sacerdote, que, por sua vez, legitimava a opressão via religião. Jesus diz no v. 16: “Não façais da casa de meu pai casa de negócio”. O negócio não era apenas vender algumas pombas e cabritos, mas era a venda de todo o país, do povo e do projeto de Deus e do próprio Deus. Assim, o templo era o empecilho número um na construção do Reino de Deus.

Posição de Jesus frente ao templo

Jesus usava o templo como espaço para a sua pregação, pois ali se reunia gente, era o local apropriado para a pregação do Reino. Só que o templo não fora concebido para tal e, por isso, tinha que ser destruído. O contato diário que Jesus tinha com o povo acontecia longe do templo. Ele descentralizou a pregação, o perdão, a purificação, que eram de graça e através dele e não do templo.

George V. Pixley diz em O Reino de Deus na p. 86: “O movimento de Jesus viu, como principal obstáculo à realização do reino de Deus na Palestina, o templo e a estrutura classista que o templo apoiava”. Na p. 95, Pixley afirma que a pregação de Jesus e de seu movimento girava em torno do amor ao inimigo, do perdão, do suportar o mal. Isso era tática para separar a sua pregação da dos zelotes, que viam nos romanos o inimigo principal do povo. Por isso, esses pregavam e agiam pela via militar para alcançar a libertação. O movimento de Jesus não via Roma como principal inimigo. Achava que era necessário primeiro afastar a dominação do templo sobre o povo. Esse legitimava a dominação romana, como antes legitimara a monarquia e o modo de produção tributário. Os zelotes queriam apenas os romanos fora; eram religiosamente conservadores e nacionalistas. Não tocariam no templo nem na estrutura de classe.

Função do templo no AT e NT

1 Reis 5.4-5 diz: “Porém, a mim o Senhor meu Deus me tem dado descanso; não há nem inimigo, nem adversidade alguma. Pelo que intento edificar uma casa em nome do Senhor, meu Deus”.

O reinado de Salomão era época de paz. 1 Reis 4 mostra a espoliação a que o povo estava sujeito. Quando há guerra, dá para justificar o tributo (que era cobrado em mercadoria – produtos do campo – e em trabalhos forçados), porque se necessita manter o exército e o Estado que está aí para proteger. Em época de paz, no entanto, o Estado não tem mais serventia para as tribos e aldeias: deixa de ser necessário. Por isso, Salomão começa com a construção do templo, para justificar a cobrança do tributo em época de paz, ou melhor, para dar continuidade à cobrança do tributo, que agora não tem mais justificativa. A justificativa para formar o Estado foram as ameaças externas, mas a raiz estava nas desigualdades internas (Juízes 8.33 – idolatria; 1 Samuel 11.7 – boi; 1 Samuel 25 – ricos e servos; Êxodo 21 e 22 – boi e escravo; 1 Samuel 22.1-5 – dívidas; 1 Samuel 13.19-23 – ferro). O templo tem a função de justificar a cobrança de tributos e legitimar o Estado e o sistema econômico tributário. Antes, Deus era contra o Estado (Deuteronômio 6.20-23; Josué 6-8; 2 Samuel 7.1-7). Agora, com o templo, Deus é manipulado e deve justificar o Estado com uma nova teologia: da bênção, do sacrifício, dos ritos, da natureza. O templo vira aparelho ideológico do Estado. E o Estado surgiu por causa da luta de classes, para favorecer a classe que havia acumulado posses.

O templo também teve essa função no tempo de Jesus: colocar Deus ao lado da classe dominante e justificar a exploração teologicamente. Jesus diz: “Não façais da casa de meu Pai casa de negócio”. Essa era a função do templo: legitimar os negócios da classe dominante de Israel e de Roma. Por isso, esse templo tem que ser destruído. Jesus diz ao povo de Israel para destruir o templo e que ele o reconstruirá em três dias. O v. 21 fala que, após a ressurreição de Jesus, ele será o templo vivo; e com esse não dá para legitimar a espoliação da classe dominante e o seu Estado. Sem templo haverá só Deus, e Jesus será o intermediário entre Deus e as pessoas. Não mais o templo. Com o fim do templo chega ao fim a legitimação, via fé, da exploração econômica, que determina o político, o social e o ideológico. O templo escondia Deus e o revelava como aliado da classe dominante. Assim também foi no carnaval do Rio há alguns anos atrás, quando uma escola de samba saiu com Cristo como mendigo, rodeado por outros mendigos. Naquela ocasião, o cardeal do Rio proibiu o Cristo mendigo de desfilar. O carnavalesco cobriu o Cristo mendigo com uma lona preta com os dizeres: Mesmo proibido, rogai por nós. O templo hoje também encobre o Cristo verdadeiro, pois ele é crítico à classe dominante e à religião cristã acoplada ao sistema econômico.

João coloca esse texto no início do seu Evangelho, porque a chave da luta de Jesus está aqui: o templo e sua teologia legitimam a estrutura de classes e impedem a viabilização do Reino de Deus.

A partir de Salomão, quando esse colocou a Arca da Aliança (que simbolizava a presença de Deus no meio dos camponeses) no Santo dos Santos, Deus habitava no templo ao lado do palácio. A partir daí, Deus era controlado pelo Estado para legitimá-lo e o que ele representava: os interesses da classe dominante. Isso os romanos sabiam e usaram o templo tal e qual foi usado no AT. Atacando o templo, Jesus atacava todo o sistema de dominação e a sua teologia. Os profetas já haviam atacado o templo com sua prática. Lembro Jeremias 26,18, Amós 5.21-27 e Miqueias 3.12. Também Herodes compreendeu a função do templo e, por isso, o embelezou (com o dinheiro do povo), tentando legitimar o seu reinado.

Jesus ordena no v. 19: “Destruí este santuário”, porque vocês o construíram, e Jesus o reconstruirá através de seu corpo. Por isso, Apocalipse 21,22 afirma: “Nele não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus todo poderoso e o Cordeiro”. Deus não mais se manifesta através do templo, se é que já se manifestou nele ou através dele. João diz em 1.14: “E o Verbo se fez carne e armou tenda entre nós”. Por isso, o templo deixou de ser revelação de Deus. Após a morte de Jesus, o véu do templo rasgou. A vida de Jesus revela que Deus não está preso, rompendo com o templo definitivamente.

Atualização

O texto nos leva a refletir e questionar a prática da Igreja hoje, enfim, sobre a nossa prática. Qual o papel da Igreja dentro da luta de classes hoje no Brasil? Como Jesus se posicionaria hoje no Brasil frente ao conflito de classes e à atuação das Igrejas dentro dessa realidade? Estamos fazendo o papel do templo de Jerusalém, que esteve aliado à classe dominante e ao imperialismo romano e legitimava a espoliação da classe camponesa e não reagia ante a dominação romana, enfim, legitimava o sistema econômico com todos os seus desdobramentos?

Salomão e Davi pensaram o templo como instrumento religioso e ideológico para legitimar o Estado e a existência de classes na sociedade. Jesus se revoltou contra isso. Deus não se coloca a serviço dos exploradores e suas estruturas, mas as combate. Essa foi a cruz de Jesus desde o início de seu ministério, e ela apenas se completou na Sexta-Feira Santa. Atacando o templo, Jesus enfrentou todo o sistema de dominação econômica, política, social, religiosa e ideológica da época. Isso lhe trouxe a cruz, mas também a ressurreição, que é o sinal visível de que Deus supera as reações contra seu projeto. Combatendo o seu projeto, eles o tornaram mais claro, mais completo e indestrutível.

 

1) Qual o porquê e o significado da ação de Jesus no templo?
2) Como a ação de Jesus no templo nos questiona enquanto Igreja?
3) Hoje, a prática da comunidade, a exemplo de Jesus, questiona o sistema econômico, político, social, ideológico e religioso? Sua prática profética procura mudá-lo ou o legitima?

 

Texto de Günter Wolff.

Fonte: Proclamar Libertação – Volume XIX, 1993.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

A SEMENTE DA NOVA COMUNIDADE - (João 1, 35-51)

Imagem: Cebi.org.br

Como sempre, os Biblistas do CEBI, nos trazem um excelente estudo sobre o Evangelho deste 2º Domingo do tempo Comum - Ano B.

“Aleluia, aleluia, aleluia.
Encontramos o Messias, Jesus Cristo, de graça e verdade ele é pleno; de sua imensa riqueza graças, sem fim, recebemos” (Jo 1,41.17).

1. SITUANDO

Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam o chamado dos primeiros discípulos de maneira muito mais resumida: Jesus passa na praia, chama Pedro e André. Logo depois, chama Tiago e João (Marcos 1,16-20). O Evangelho de João tem outro jeito de descrever o início da primeira comunidade que se formou ao redor de Jesus. Ele traz histórias bem mais concretas. O que chama a atenção é a variedade dos chamados e dos encontros das pessoas entre si e com Jesus. Deste modo, João ensina como se deve fazer para iniciar uma comunidade. É através de contatos e convites pessoais, até hoje!

O Quarto Evangelho é uma catequese muito bem feita. Ele não só mostra como se formou a primeira comunidade, mas também, através dos vários títulos de Jesus, descreve a fé desta comunidade, que é modelo para todas as outras comunidades. Assim, ao longo dos seus 21 capítulos, ele vai revelando quem é Jesus. Os títulos, que vão aparecendo durante os encontros e as conversas das pessoas com Jesus, fazem parte desta catequese. Eles ajudam os leitores e as leitoras a descobrirem como e onde Jesus se revela nos encontros do dia-a-dia da vida.

2. COMENTANDO

João 1,35-36 – O testemunho de João Batista a respeito de Jesus

João Batista tinha sido executado por Herodes em torno do ano de 30. Mas até o fim do século I, época em que foi escrito o Quarto Evangelho, a liderança dele continuava muito forte entre os judeus. Por isso, era importante o testemunho de João Batista chamando Jesus de “Cordeiro de Deus”. Este título evocava a memória do êxodo. Na noite da primeira Páscoa, o sangue do Cordeiro Pascal, passado nas portas das casas, tinha sido sinal de libertação para o povo (Êxodo 12,13-14). Para os primeiros, cristãos Jesus é o novo Cordeiro Pascal que liberta o seu povo (1 Coríntios 5,7; 1 Pedro 1,19; Apocalipse 5,6.9).

João 1,37-39 – Dois discípulos de João seguem Jesus

Dois discípulos de João Batista, animados pelo próprio João, foram em busca de Jesus. Jesus responde: “Venham e vejam!” É convivendo com Jesus que eles mesmos devem poder verificar e confirmar se era isto que estavam buscando. O encontro confirmou a busca: “Era isso mesmo!” Os dois nunca esqueceram a hora do encontro: eram 4 horas da tarde! Também hoje, as comunidades devem poder dizer: “Venham e vejam!” É ver e experimentar para poder testemunhar. O apóstolo João escreve na sua primeira carta: “A vida se manifestou. Nós a vimos e dela damos testemunho!” (1 João 1,2).

João 1,40-42 – André apresenta Pedro a Jesus

André descobriu que Jesus é o Messias. Ele gostou tanto do encontro, que partilhou sua experiência com o irmão e deu testemunho: “Encontramos o Messias!” Em seguida, conduziu o irmão até Jesus. Encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus! É assim que a Boa Nova se espalha pelo mundo, até hoje! Conosco pode acontecer o que aconteceu com o irmão de André. No encontro com Jesus, ele teve seu nome mudado de Simão para Cefas (Pedra ou Pedro). Mudança de nome significa mudança de rumo. O encontro com Jesus pode produzir mudanças profundas na vida da gente. Deus queira!

João 1,43-44 – Jesus chama Filipe

No dia seguinte, Jesus voltou para a Galileia. Encontrou Filipe e o chamou: “Segue-me!” O importante do chamado é sempre o mesmo: “seguir Jesus”. Os primeiros cristãos fizeram questão de conservar os nomes dos primeiros discípulos. De alguns conservaram até os apelidos e o nome do lugar de origem. Filipe, André e Pedro eram de Betsaida (João 1,44). Natanael era de Caná (João 22,2). Jesus era de Nazaré (João 1,45). Eram todos lugares bem pequenos, lá na roça do interior da Galileia! Hoje, muitas vezes, esquecemos ou nem conhecemos os nomes das pessoas que estão na origem de nossa comunidade. Lembrar os nomes é uma forma de conservar a identidade.

João 1,45-46 – Filipe leva Natanael a Jesus

Filipe encontra Natanael e fala com ele sobre Jesus: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas! É Jesus, o filho de José, de Nazaré!” Mais um título para Jesus! Jesus é aquele para o qual apontava toda a história do Antigo Testamento. Natanael pergunta: “De Nazaré pode vir coisa boa?” Natanael era de Cana, que fica perto de Nazaré. Possivelmente, na pergunta dele transparece a rivalidade que costuma existir entre as pequenas aldeias de uma mesma região. Além disso, conforme o ensinamento oficial dos escribas, o Messias viria de Belém na Judéia. Não podia vir de Nazaré na Galileia (João 7,41-42).  Novamente, de André vem a mesma resposta intrigante: “Venha e veja você mesmo!” Não é impondo mas sim vendo que as pessoas se convencem. Novamente, o mesmo processo: encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus!

João 1,47-51 – A conversa entre Jesus e Natanael

Jesus vê Natanael e diz: “Eis um israelita autêntico, sem falsidade!” E afirma que já o conhecia quando estava debaixo da figueira. Como é que Natanael podia ser um “israelita autêntico” se ele não aceitava Jesus como messias? É porque Natanael “estava debaixo da figueira”. A figueira era o símbolo de Israel (cf. Miqueias 4,4; Zacarias 3,10; 1 Reis 5,5). “Estar debaixo da figueira” era o mesmo que ser fiel ao projeto do Deus de Israel. Israelita autêntico é aquele que sabe desfazer-se das suas próprias ideias quando percebe que elas estão em desacordo com o projeto de Deus. O israelita que não está disposto a fazer esta conversão não é autêntico nem honesto. Natanael é autêntico. Ele esperava o messias de acordo com os ensinamentos oficiais da época (João 7,41-42.52). Por isso, inicialmente, não aceitava um messias vindo de Nazaré. Mas o encontro com Jesus ajuda-o a perceber que o projeto de Deus nem sempre é do jeito que a gente o imagina ou deseja. Ele reconhece o seu engano, muda de ideia, aceita Jesus como messias e confessa: “Mestre, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel!” A confissão de Natanael é apenas o começo. Quem foi fiel, verá o céu aberto e os anjos subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Experimentará que Jesus é a nova ligação entre Deus e nós, seres humanos. É a realização do sonho de Jacó (Gênesis 28,10-22).

3. ALARGANDO

 A galeria dos encontros com Jesus no Evangelho de João

No Evangelho de João, são narrados com detalhes muitos encontros com Jesus quer marcam para sempre a vida das pessoas. Os primeiros discípulos nunca mais puderam esquecer aquele momento. Um deles, provavelmente o “discípulo amado” ainda se lembrava da hora em que encontrou Jesus: “Eram 4 horas da tarde!”. O outro, André, chamou o irmão dele, Pedro (João 1,35-51). Nicodemos foi encontrar Jesus de noite. Os dois tiveram uma conversa difícil (João 3,1-13), mas Nicodemos, apesar da crítica de Jesus, ficou amigo. Ele o defendeu numa discussão com os chefes (João 4,14; 7,50-52) e, depois da morte de Jesus, lá estava ele, novamente, com perfumes para a sepultura (João 19,39). João Batista alegrou-se ao ver o crescimento do movimento de Jesus (João 3,22-36). A samaritana encontrou Jesus junto do poço (João 4,1-42) e dentro dela passou a jorrar água viva (João 4,14; 7,37-38). O encontro com o paralítico se deu junto às águas de um santuário popular (Jo 5,1-18). Foi na praça do templo que se deu o encontro com a mulher que ia ser apedrejada. Ela reencontrou a dignidade e a paz (João 8,1-11). O cego encontrou Jesus, que lhe abriu os olhos e se revelou a ele como o Filho do Homem (João 9,1-41). Marta e Maria foram ao encontro de Jesus no caminho e experimentaram a sua força revitalizadora (João 11,17-37).

Estes e outros encontros são como quadros colocados em uma galeria. Eles vão revelando aos olhos atentos de quem os aprecia algo que está por trás dos detalhes, a saber, a identidade de Jesus. Ao mesmo tempo, mostram as características das comunidades que acreditavam em Jesus e davam testemunho da sua presença. São também espelhos, que ajudam a descobrir o que se passa dentro de nós quando nos encontramos com Jesus.

 Os títulos de Jesus

Logo neste primeiro capítulo, as pessoas que vão sendo chamadas professam a sua fé em Jesus através de títulos como: Cordeiro de Deus (João 1,36); Rabi (João 1,38); Messias ou Cristo (João 1,41); “aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas” (João 1,45); Jesus de Nazaré, o filho de José (João 1,45), Filho de Deus (João 1,49); Rei de Israel (João 1,49); Filho do Homem (João 1,51). São oito títulos em apenas 15 versos! Quando uma pessoa é muito querida, ela recebe um grande número de apelidos. Assim também Jesus no Evangelho de João. Nestes e em tantos outros nomes ou títulos, as comunidades transmitiam o que Jesus significava para elas. Todos estes nomes traduzem o enorme esforço dos primeiros cristãos em querer conhecer Jesus para melhor amá-lo. Mostram ainda a diversidade da busca.

Eis uma lista incompleta de alguns títulos de Jesus que aparecem neste e nos outros capítulos do Evangelho de João. Eles revelam a fé das comunidades do Discípulo Amado. A grande variedade dos títulos revela a diversidade não só da busca, mas também da própria teologia. Não havia uma doutrina única:

1,1 Palavra, Verbo
1,9 Luz
1,14 Filho Único
1,17 Messias ou Cristo
1,29 Cordeiro de Deus
1,34 Eleito de Deus
1,38 Rabi ou Mestre
1,49 Filho de Deus
1,51 Filho do Homem
2,21 Templo
3,2 Vem de Deus
3,29 Esposo
4,9 Judeu
4,26 Messias
4,42 Salvador do Mundo
5,18 Igual a Deus
6,34 Pão da vida
6,41 Pão descido do céu
6.42 Filho de José
6,69 Santo e Deus
7,52 Galileu

8,24 Eu sou (João 8,28.58)

8,48 Samaritano
9,2 Rabi
9,5 Luz do mundo
9,7 Enviado
9,11 Homem Jesus
9,17 Profeta
9,22 Cristo
9,38 Senhor
10,7 Porta das ovelhas
10,11 Bom pastor
10,30 Eu e o Pai somos um
11,25 Ressurreição
12,13 Bendito em nome do Senhor
12,13 Rei de Israel
13,13 Mestre e Senhor
14,6 Caminho, Verdade e Vida
15,1 Videira
18,5 Nazareno
19,5 Homem

Resumindo: Para o Evangelho de João, a fonte da vida consiste em acreditar que Jesus de Nazaré, o filho de José (João 1,45), é Messias (João 1,41) e Filho de Deus (João 1,49). Foi exatamente para isto que o evangelho foi escrito (João 20,31).

 Mesters, Lopes e Orofino.

FONTE: CEBI - https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/a-semente-da-nova-comunidade/