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terça-feira, 22 de julho de 2014

COMUNICAÇÃO, RECONHECIMENTO E INFLUÊNCIA


* Alberto Meneguzzi

Meu livro de cabeceira tem sido o Documento de Aparecida. À medida que leio as conclusões da conferência, meu pensamento vai mais longe numa série de situações que norteiam minha caminhada pastoral. Fico procurando fundamentar minhas “teses” sobre comunicação e catequese, confrontando-as com o que diz o documento.

Concluo, pois, que não estou tão “fora” quando critico o atual modelo e sugiro outra postura da Igreja na área de comunicação. Minha crítica não se baseia em “achismo”, mas, sim, em fatos, alicerçada em várias leituras e também naquilo que ouço, assisto e vivo nas minhas atividades pastorais. Baseia-se também na minha troca de experiências com diversos catequistas e lideranças de todo país através da internet. Utilizo essas novas ferramentas, como Blogs, Facebook, Skype, whatsapp e e-mails, também para evangelizar; seria um tolo se não as usasse.

A Igreja não aproveita como deveria as novas tecnologias e muito menos sabe se relacionar de maneira profissional com emissoras de rádio, TV e jornais. Pouco estimula e apóia a criação de meios de comunicação próprios e tem dificuldades em trabalhar de modo mais efetivo na formação de comunicadores leigos para os novos desafios da mídia.

A Igreja ainda não descobriu uma forma concreta de animar as iniciativas existentes na área de comunicação católica, que são poucas, mas importantes. Essa, pelo menos, tem sido a realidade quando observamos a quantidade de sites paroquiais que existem.  Muitas paróquias e comunidades criam sites e páginas no Facebook, mas, com o tempo, deixam de fazer atualizações e os abandonam. E o que diz o Documento de Aparecida sobre a internet? 

A internet vista dentro do panorama da comunicação social, deve ser entendido na linha já proclamada no Concílio Vaticano II como uma das “maravilhosas invenções da técnica”. [...] A Igreja se aproxima deste novo meio com realismo e confiança. [...] Os meios de comunicação, em geral, não substituem as relações pessoas nem a vida comunitária. No entanto, os sites podem reforçar e estimular o intercâmbio de experiências e informações que intensifiquem a prática religiosa através de acompanhamento e orientações. (487-489).

Se a Igreja considera tão importante lidar com os meios de comunicação sociais e incentiva, nos seus últimos documentos, uma relação diferente e mais profissional com a mídia, não apenas com a católica; porque ainda trabalhamos tão mal nessa área? Porque não insistimos que nossas paróquias tenham site? Porque não investimos mais em jornais impressos, nem que seja uma edição por ano? Porque não organizamos mais cursos sobre comunicação para catequistas e lideranças? Por que não estimulamos mais as pastorais de comunicação, que, em muitas dioceses, existem apenas no papel?

O Documento de Aparecida é direto, não faz rodeios quando fala de comunicação. Foi essa a conclusão e análise de diversos bispos da América do Sul e do Caribe, em conferência no Brasil, que contou inclusive com a presença do Papa Bento XVI:

A importância de sabermos lidar com os novos meios e as novas ferramentas tecnológica implica uma capacidade para reconhecer as novas linguagens, que podem favorecer maior humanização global. Estas novas linguagens configuram um elemento articulador das mudanças na sociedade (883).

Sites parados, sem atualização, representam mudanças na sociedade? Secretarias paroquiais cujas secretárias não possuem acesso à internet simbolizam mudanças para a sociedade? Emissoras de rádios católicas, geridas de forma amadora, que não acompanham os encontros, eventos e palestras da própria Igreja, significam uma comunicação eficiente? Dioceses que não possuem, e não se interessam em possuir, um jornal mensal impresso, elaborado de forma profissional, com uma distribuição feita não apenas aos que frequentam as celebrações, mas a toda comunidade; estão conforme as orientações do Documento de Aparecida?

Claro, além da minha visão de catequista e liderança pastoral, as minhas palavras possuem o ingrediente de ser ditas por um profissional da área de comunicação. Sou jornalista e relações públicas. Trabalhei durante quinze anos em rádio. Sou responsável, atualmente, pela publicação de um jornal católico, que busca apoio de empresas, patrocinadores, e é feito por jornalistas inseridos na comunidade cristã. Talvez por isso a minha indignação seja mais veemente. Não é regra que a Igreja como um todo trabalhe mal esse aspecto. Algumas dioceses estão caminhando a passos largos para uma comunicação mais eficiente, em todos os níveis. Porém, na grande maioria das paróquias, o que se vê é um marasmo constrangedor diante das mudanças do mundo moderno e do aparecimento das novas tecnologias. É nosso maior problema como Igreja: comunicar efetiva e profissionalmente.

A relação que deveríamos ter, ou pelo menos tentar ter, consta de um triângulo que li num livro sobre liderança: comunicação, reconhecimento e influência. A frase é de Robert Dilenscheneider, da Agência Internacional de Relações Públicas. Tentei relacioná-la com a comunicação da Igreja e o nosso trabalho de evangelização, que, como liderança, pode se tornar mais eficiente e atrativo quando obedecer ao triângulo da comunicação, do reconhecimento e da influência. Se a comunicação é feita de forma eficaz, o reconhecimento surge; e o reconhecimento, por sua vez, leva a influência. Aqui não se trata de reconhecimento pessoal, mas das idéias e objetivos que fazem parte do projeto de Deus, na catequese ou em qualquer outra pastoral, movimento ou serviço.

Se pensarmos bem, não era assim que Jesus fazia?

Comunicava-se muito bem com as pessoas (não sem antes ter se preparado muito para isso), sabia exatamente aonde queria chegar, era persuasivo, obteve o reconhecimento do seu projeto (e com isso também inveja e perseguição), teve seguidores (um líder sem seguidores não é líder) e, assim, conseguiu influência. Suas palavras ecoam até hoje.

Se Ele fez tudo isso sem utilizar internet, jornal, rádio e TV, o que ele faria nos dias de hoje se tivesse acesso a todas essas tecnologias?

E nós, o que estamos fazendo para uma sociedade diferente com os meios e ferramentas de que dispomos?

Texto extraído do livro “Missão de Anunciar”, pg. 92, São Paulo: Paulinas, 2010. Atualizado em julho/2014.



*Alberto Meneguzzi é escritor, jornalista, relações públicas, radialista e catequista. Autor dos livros “Paixão de Anunciar” e “Missão de Anunciar”, publicados pela Editora Paulinas.

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