* Alberto Meneguzzi
Meu livro de cabeceira tem sido o
Documento de Aparecida. À medida que
leio as conclusões da conferência, meu pensamento vai mais longe numa série de
situações que norteiam minha caminhada pastoral. Fico procurando fundamentar
minhas “teses” sobre comunicação e catequese, confrontando-as com o que diz o
documento.
Concluo, pois, que não estou tão
“fora” quando critico o atual modelo e sugiro outra postura da Igreja na área
de comunicação. Minha crítica não se baseia em “achismo”, mas, sim, em fatos,
alicerçada em várias leituras e também naquilo que ouço, assisto e vivo nas
minhas atividades pastorais. Baseia-se também na minha troca de experiências
com diversos catequistas e lideranças de todo país através da internet. Utilizo
essas novas ferramentas, como Blogs, Facebook, Skype, whatsapp e e-mails, também para evangelizar; seria
um tolo se não as usasse.
A Igreja não aproveita como
deveria as novas tecnologias e muito menos sabe se relacionar de maneira profissional
com emissoras de rádio, TV e jornais. Pouco estimula e apóia a criação de meios
de comunicação próprios e tem dificuldades em trabalhar de modo mais efetivo na
formação de comunicadores leigos para os novos desafios da mídia.
A Igreja ainda não descobriu uma
forma concreta de animar as iniciativas existentes na área de comunicação
católica, que são poucas, mas importantes. Essa, pelo menos, tem sido a
realidade quando observamos a quantidade de sites paroquiais que existem. Muitas paróquias e comunidades criam sites e páginas no Facebook, mas, com o tempo, deixam de fazer atualizações e os
abandonam. E o que diz o Documento de Aparecida sobre a internet?
A internet
vista dentro do panorama da comunicação social, deve ser entendido na linha já
proclamada no Concílio Vaticano II como uma das “maravilhosas invenções da
técnica”. [...] A Igreja se aproxima deste novo meio com realismo e confiança.
[...] Os meios de comunicação, em geral, não substituem as relações pessoas nem
a vida comunitária. No entanto, os sites podem reforçar e estimular o
intercâmbio de experiências e informações que intensifiquem a prática religiosa
através de acompanhamento e orientações. (487-489).
Se a Igreja considera tão
importante lidar com os meios de comunicação sociais e incentiva, nos seus
últimos documentos, uma relação diferente e mais profissional com a mídia, não
apenas com a católica; porque ainda trabalhamos tão mal nessa área? Porque não
insistimos que nossas paróquias tenham site? Porque não investimos mais em
jornais impressos, nem que seja uma edição por ano? Porque não organizamos mais
cursos sobre comunicação para catequistas e lideranças? Por que não estimulamos
mais as pastorais de comunicação, que, em muitas dioceses, existem apenas no
papel?
O Documento de Aparecida é
direto, não faz rodeios quando fala de comunicação. Foi essa a conclusão e
análise de diversos bispos da América do Sul e do Caribe, em conferência no Brasil,
que contou inclusive com a presença do Papa Bento XVI:
A importância
de sabermos lidar com os novos meios e as novas ferramentas tecnológica implica
uma capacidade para reconhecer as novas linguagens, que podem favorecer maior
humanização global. Estas novas linguagens configuram um elemento articulador
das mudanças na sociedade (883).
Sites parados, sem atualização,
representam mudanças na sociedade? Secretarias paroquiais cujas secretárias não
possuem acesso à internet simbolizam mudanças para a sociedade? Emissoras de
rádios católicas, geridas de forma amadora, que não acompanham os encontros,
eventos e palestras da própria Igreja, significam uma comunicação eficiente?
Dioceses que não possuem, e não se interessam em possuir, um jornal mensal
impresso, elaborado de forma profissional, com uma distribuição feita não
apenas aos que frequentam as celebrações, mas a toda comunidade; estão conforme
as orientações do Documento de Aparecida?
Claro, além da minha visão de
catequista e liderança pastoral, as minhas palavras possuem o ingrediente de
ser ditas por um profissional da área de comunicação. Sou jornalista e relações
públicas. Trabalhei durante quinze anos em rádio. Sou responsável,
atualmente, pela publicação de um jornal católico, que busca apoio de empresas,
patrocinadores, e é feito por jornalistas inseridos na comunidade cristã.
Talvez por isso a minha indignação seja mais veemente. Não é regra que a Igreja
como um todo trabalhe mal esse aspecto. Algumas dioceses estão caminhando a
passos largos para uma comunicação mais eficiente, em todos os níveis. Porém,
na grande maioria das paróquias, o que se vê é um marasmo constrangedor diante
das mudanças do mundo moderno e do aparecimento das novas tecnologias. É nosso
maior problema como Igreja: comunicar efetiva e profissionalmente.
A relação que deveríamos ter, ou
pelo menos tentar ter, consta de um triângulo que li num livro sobre liderança:
comunicação, reconhecimento e influência.
A frase é de Robert Dilenscheneider, da Agência Internacional de Relações
Públicas. Tentei relacioná-la com a comunicação da Igreja e o nosso trabalho de
evangelização, que, como liderança, pode se tornar mais eficiente e atrativo
quando obedecer ao triângulo da comunicação, do reconhecimento e da influência.
Se a comunicação é feita de forma eficaz, o reconhecimento surge; e o
reconhecimento, por sua vez, leva a influência. Aqui não se trata de
reconhecimento pessoal, mas das idéias e objetivos que fazem parte do projeto
de Deus, na catequese ou em qualquer outra pastoral, movimento ou serviço.
Se pensarmos bem, não era assim
que Jesus fazia?
Comunicava-se muito bem com as
pessoas (não sem antes ter se preparado muito para isso), sabia exatamente
aonde queria chegar, era persuasivo, obteve o reconhecimento do seu projeto (e
com isso também inveja e perseguição), teve seguidores (um líder sem seguidores
não é líder) e, assim, conseguiu influência. Suas palavras ecoam até hoje.
Se Ele fez tudo isso sem utilizar
internet, jornal, rádio e TV, o que ele faria nos dias de hoje se tivesse
acesso a todas essas tecnologias?
E nós, o que estamos fazendo para
uma sociedade diferente com os meios e ferramentas de que dispomos?
Texto extraído do livro “Missão de
Anunciar”, pg. 92, São Paulo: Paulinas, 2010. Atualizado em julho/2014.
*Alberto
Meneguzzi é escritor, jornalista, relações públicas, radialista e catequista.
Autor dos livros “Paixão de Anunciar”
e “Missão de Anunciar”, publicados
pela Editora Paulinas.
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