16º. DOMINGO DO TEMPO
COMUM
O joio e o trigo
A
parábola do joio e do trigo revela uma profundidade antropológica: o bem o mal
coexistem em nosso coração. Não podemos negar isso, nem seria diabólico admitir
tal realidade. E mais: não podemos arrancar o mal. Fazemos, portanto, coisas
boas e coisas não tão boas, ainda que desejemos dividir a realidade em dois
grupos: de um lado os bons (onde nós estamos), de outro lado os maus.
Jesus
nos ensina que o trigo cresce com o joio. Ele não deseja arrancar o joio antes
do tempo. Nós carregamos o bem e o mal, pois ainda não somos santos, plenos. A
plenitude virá por graça, para além desta história. Precisamos aprender a conviver
com o mal, sem se conformar com ele. Não podemos ficar frustrados por ainda não
sermos perfeitos, pois não chegamos à plenitude do Reino. Precisamos integrar o
mal, ou seja, aprender com ele, não dar tanta força para nosso lado sombrio,
aceitando o fato de que somos pecadores. A psicologia analítica corrobora com
esta linha de pensamento. Este modo de conduzirmos a vida é muito mais humano.
Desumano é ficar se culpando por qualquer falha, é tentar, com as próprias
forças e com propósitos inúteis, alcançar uma perfeição inatingível.
Outro
equívoco seria não compreender que as pessoas carregam o seu joio. Assim, não é
justo julgar os que não agem ou pensam como nós ou fazer justiça, condenar todo
o mal deste mundo. Apenas Deus pode fazer a justiça, só ele vai separar o joio
do trigo no fim dos tempos, isso não cabe a nós.
As
parábolas de Jesus nos ensinam a termos uma paciência histórica diante da
realidade do já e ainda não. Poderíamos perder a esperança diante dos
males do mundo, poderíamos nos revoltar contra Deus diante das injustiças da
história. A parábola nos ensina a esperar, pois o Reino de Deus cresce
gradativamente. Às vezes não tão gradativamente assim, pois há retrocessos
históricos no âmbito global, social e pessoal. O importante é que sejamos
fermento na massa, sinais do Reino, cultivadores de boas sementes, ainda que
tenhamos sementes estragadas…
São
Paulo afirma que o Espírito Santo ora em nós com gemidos inefáveis. Já vimos,
no domingo anterior, que o gemido do Espírito é uma ânsia positiva, pois geme a
expectativa da plena liberdade dos filhos de Deus e da libertação integral de
todo o Universo. É isso que desejamos – um mundo sem males, sem dor, sem lágrimas,
sem morte. É isso que o Espírito anseia, mas também nos ensina, ao trabalhar em
nosso interior, que isso não vem de uma hora para outra, que ainda não chegou o
tempo, que não podemos saciar no agora todos os nossos desejos.
Por
isso, São Paulo nos orienta que não sabemos pedir o que convém. Presos em nosso
egoísmo, pediríamos milagres e a cura definitiva de todo mal. Mas com o auxílio
do Espírito, ansiamos tudo isso na paciência da história, na certeza de que
Deus vai nos guiando em cada vitória e em casa derrota da jornada. A oração do
Espírito geme para que o Reino venha: Venha a nós o Vosso Reino, enquanto
caminhamos neste mundo de ambiguidades, nós que somos povo santo e pecador, nós
que em nossa miséria somos dignos, pela misericórdia, de trabalhar para que o
Reino seja já, ainda que por antecipação.
Amém!
Pe.
Roberto Nentwig
Santuário
São José –Curitiba – PR.
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