As famílias cristãs amadurecidas são a rocha sólida e firme sobre a qual se edifica o edifício da nova humanidade.
A família cristã amadurecida,
transcende a rigidez do modelo patriarcal. Isto não significa qualquer
diminuição da autoridade paternal. É uma família onde as pessoas crescem
verdadeiramente em maturidade amorosa. Todas as pessoas são tomadas a sério.
Conviver, nesta família,
significa interagir com pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de
comunhão amorosa. Por se estruturarem em dinâmica amorosa, os seus membros, à
medida em que se realizam, são acolhidos na sua realidade de pessoas únicas,
originais irrepetíveis. Ninguém pretende fazer passar os outros por um molde
pré-concebido, pois todos entendem que as pessoas não são peças de artesanato
feitas em série.
Os membros da família cristã
amadurecida têm consciência dos seus direitos e deveres. Todos entendem o que é
a dignidade da pessoa. Todos sabem que comunhão não significa fusão ou anulação
das diferenças pessoais. Nesta família, As pessoas sabem que amor não é uma
mera questão de sentimentos. Amar implica atos e atitudes concretas. O
verdadeiro amor implica que as pessoas se elegem mutuamente como alvo de
bem-querer. O amor também exige que as pessoas se aceitem como são, apesar de
serem diferentes.
Na calda amorosa desta
família, as pessoas aprendem que o amadurecimento humano implica a capacidade
de agir de modo a facilitar a realização e felicidade dos outros.
Na família cristã amadurecida,
as pessoas sentem-se responsáveis pelas próprias tarefas, condição importante
para edificar a comunhão familiar. Todos entendem que a humanização das pessoas
não acontece pelas leis da natureza, pois é uma tarefa que só pode acontecer
mediante o amor. Todos aprendem que as pessoas são iguais, Não por serem peças
feitas em série, mas, por terem a mesma dignidade.
Na família cristã as pessoas
aprendem a colaborar. A família é uma comunidade de amor onde há papéis,
funções e missões diferentes a realizar. Não pode haver família equilibrada sem
autoridade. Mas todos sabem que a autoridade, na família, se realiza em
diálogo, pois não se trata de um poder arbitrário e caprichoso. Na comunidade
familiar todos têm tarefas e funções. Todos tomam a sério e procuram executar
de modo sério a sua missão, Condição importante para a edificação e o bem-estar
família. Como as pessoas se sentem estimadas e valorizadas no que fazem, realizam
as suas tarefas com agrado.
É uma família aberta à
novidade de cada um, pois as pessoas aprendem que cada pessoa é única, original
e não se repete. É uma família consciente da dinâmica da humanização, por isso
todos têm condições para poder emergir na sua unicidade pessoal. Eis a razão
pela qual não há pessoas desenquadradas ou marginalizadas, pois cada um é
chamado a agir e cooperar na medida das suas possibilidades e talentos. Ninguém
desvaloriza a cooperação do outro só por esta ser pequena ou mínima. Por se
sentirem aceitas, as pessoas colaboram de modo alegre e generoso. Por isso
vivem felizes e sentem-se em plena realização pessoal. Por esta mesma razão
procuram render o melhor dos seus talentos.
Nesta família ninguém cultiva
a mediocridade. Também não se demitam ou abandalham na execução das suas
missões e tarefas. Como consequência deste modo de agir, os membros desta
família são pessoas profundamente responsáveis. Esta família é um grande dom de
Deus, pois é um alfobre de excelentes obreiros de uma sociedade melhor. Nota-se
que os membros desta família têm sentidos e razões para viver. É notório o seu
jeito alegre de viver e se relacionar com os outros. Não há pessoas vazias,
pois todos têm objetivos e metas para atingir.
Como todos são tomados a
sério, a contribuição de cada um é estimada por todos. Nesta família não há
covardes nem heróis. Todos sabem que recebemos os talentos de Deus pela
mediação uns dos outros. O nosso mérito e grandeza consistem no fato de
fazermos render esses talentos. Procedendo assim, as pessoas realizam-se e
possibilitam a realização dos outros. Todos tomam parte naquilo que a todos diz
respeito.
Para que isto seja possível, há
momentos de encontro para elaborar projetos e tomar decisões em diálogo. As
pessoas são responsabilizadas no sentido de assumirem as tarefas programadas e
decididas por todos. De tempos a tempos há momentos de revisão, a fim de se
tomar consciência do modo como se está realizando o que ficou decidido e
programado. Quando as circunstâncias o aconselham, altera-se o que estava
programado. Mas não há lugar para a demissão ou alheamento das pessoas. É
importante que ninguém se sinta excluído. As pessoas compreendem que a meta é
chegar à plena comunhão familiar.
Por isso os mais novos vão
aprendendo que a união e comunhão familiar não são inimigas da felicidade e da
realização pessoal. Pelo contrário, é uma condição fundamental para a
humanização das pessoas. Nesta família há espaços para o trabalho, o encontro,
o convívio familiar, para receber os amigos, para o descanso, condições
importantes para que a vida das pessoas tenha qualidade.
Todos sabem partilhar a
alegria. Aprender, nesta família, não é tarefa aborrecida, pois a regra básica
na tarefa de ensinar e aprender é o amor. As pessoas sentem-se livres para
pensar e falar. Mas também todos conhecem a importância de escutar os outros
com atenção.
Nesta família, a autoridade
dos pais jamais se demite. Mas nunca cai na arbitrariedade e muito menos em
situações de injustiça. Compete aos pais estar atentos e chamar a atenção no
sentido de se cumprir o que foi programado e decidido: horários para as
refeições e o descanso, tempos de trabalho, critérios para receber os amigos,
realização das tarefas, etc.
Nesta família existe uma coisa
muito bonita: Todos são capazes de se olharem nos olhos e sorrir uns para os
outros. No olhar dos membros desta família e no seu modo de sorrir nota-se a
transparência, alicerce da verdade e da lealdade.
Uma família cristã amadurecida
não acontece de modo espontâneo. É uma tarefa que se realiza com decisões,
escolhas, opções e compromissos.
Há espaços para a partilha da
Palavra de Deus e a oração. Os mais novos sentem-se livres e motivados para
participar, pois sabem que são levados a sério, seja qual for o seu grau de
crescimento e maturidade. Os mais novos aprendem a orar segundo o Espírito
Santo, a fim de se evitarem repetições monótonas ou atribuir um efeito mágico a
rezas sem conteúdos de vida e sem horizontes de Fé teologal. Por esta razão, as
pessoas atingem um elevado nível de maturidade humana e cristã. Mas ninguém se
esquece da sua condição de pessoa em realização. Todos levam a sério a questão
do seu crescimento pessoal e do crescimento dos outros.
Esta família é um espaço
privilegiado para a ação do Espírito Santo, pois nela acontece verdadeiramente
fraternidade e comunhão. Como as pessoas sentem que os outros são um dom para
si, procuram igualmente ser um dom para os outros.
Por serem cristãos
esclarecidos, os membros desta família sabem ultrapassar os laços do sangue, abrem-se
aos outros com horizontes de Fé, a fim de construírem a família de Deus, a qual
ultrapassa os laços do sangue. É este o impulso que leva as pessoas a
empenharem-se nas comunidades cristãs comprometendo-se, com o seu trabalho de
evangelização, trabalham seriamente na edificação da família de Deus, pois,
pela Fé, sabem que o vínculo da comunhão da Família de Deus é o Espírito Santo.
A família é tanto mais cristã quanto
mais dinamizada pelo amor, a Palavra de Deus e o Espírito Santo. Neste sentido
é um espaço privilegiado para as pessoas amadurecerem na vida teologal de Fé,
Esperança e Caridade.
Esta família vive
verdadeiramente a dinâmica sacramental do matrimônio, pois visibiliza,
explicita e corporiza para o mundo o mistério de Deus que é uma família de três
pessoas em comunhão de perfeição infinita. Devido aos diálogos e encontros de
programação e decisão, nesta família existe um objetivo comum para o qual todos
procuram convergir. Por viverem em união com Cristo ressuscitado as pessoas
entendem perfeitamente o ensinamento de Jesus segundo o qual nós fazemos uma
união orgânica e dinâmica com o Senhor ressuscitado. No evangelho de São João
Jesus explicita esta realidade de maneira muito simples e, ao mesmo tempo,
muito profunda dizendo: “Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim
e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer. Se alguém não
permanece em mim é lançado fora como um ramo e seca. Esses são apanhados e lançados
ao fogo e ardem” (Jo 15, 5-6).
Na família cristã amadurecida
não há homens ou mulheres “faz tudo”. Isto deforma e incapacita os filhos para,
por seu lado, virem a construir uma família feliz. É melhor todos a fazer
pouco, que apenas um ou dois a fazer tudo. As pessoas que têm a sorte de nascer,
viver e crescer numa família cristã amadurecem enormemente na vida teologal
tornando-se, deste modo, sal, luz e fermento no mundo, como diz o evangelho de
Mateus (Mt 5, 13-16).
As famílias cristãs
amadurecidas são a rocha sólida e firme sobre a qual se edifica o edifício da
nova humanidade.
Pe. Santos Calmeiro
Matias - CER
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