É muito importante, contudo, reconhecer que Tomé não se recusa a crer porque não quer fazê-lo. Ele apenas manifestou sua perplexidade, sua dificuldade em acreditar, mas nós não podemos negar que ele havia desejado acreditar ou reconhecer a verdade, que ele desejava também se encontrar de novo com o Mestre.
Existem pessoas que na vida optam por não acreditar. Preferem continuar sempre em sua idéia de que a ressurreição não existe, de que a fé é uma invenção humana, de que a Igreja é um bando alienados e que, portanto, este mundo é tudo o que temos e então é melhor aproveitá-lo ao máximo. Sabem que acreditar exige mudar de comportamento. Por isso, por comodidade, escolhem continuar na incredulidade.
Diante de alguém que questiona este comportamento, estas pessoas colocam exigências absurdas (que sabem que Deus não lhes dará) para que possam crer. Serão como Herodes que diante de Jesus, lhe pede que faça um milagre, uma demonstração de seu poder, como se Jesus fosse um mágico e fizesse um “show”, mas na verdade ele não tinha nenhum interesse em acreditar em Jesus e muito menos em abandonar a sua vida cômoda. Diante dele Jesus não fez nenhum milagre. Jesus não se prestou a satisfazer a sua curiosidade estéril. A quem não queria acreditar, todas as provas seriam inúteis, pois sempre encontrariam um porém que lhes justificasse continuar na incredulidade.
Tomé, ao contrário, amava o Senhor. Seguramente desejava com todo o seu coração que fosse verdade o que os demais estavam dizendo: isto significava que Jesus havia ressuscitado. Sem dúvidas, ele não conseguia acreditar, era demasiadamente grande o que lhes estavam dizendo. Suas palavras ainda que fortes não são palavras de quem desafia a Deus, mas são palavras de quem sente a necessidade de intervir misericordiosamente. E Jesus não o abandona. Oito dias depois, Jesus vem até ele. Acredito que estes oito dias foram muito intensos para Tomé. Seu coração viveu uma grande aflição: necessitava se encontrar com o Senhor, queria acreditar nele. Sua vontade de acreditar era manifesta, até pelo fato de que ele não se separa do grupo. E oito dias depois Tomé estava com eles.
Jesus reconhece a sinceridade do desejo de Tomé e o atende. Vem em meio a eles e lhes mostra suas mãos e seu costado e convida Tomé a tocá-lo. “Meu Senhor e meu Deus”. São poucas palavras, mas tão carregadas de sentimento que bastaram para revelar quão grande foram sua acolhida a Cristo ressuscitado. De fato, esta pequena frase é a primeira profissão de fé que a Igreja nascente faz ao seu Senhor, vencedor da morte. Desde aquele momento Tomé já não tem outras exigências a fazer a Deus. Aquele encontro lhe foi suficiente.
Tomé sabia que o Senhor estava vivo, que continuava sua intervenção na história, que ele não tinha que retornar àquilo que fazia antes de conhecê-lo, mas ele deveria continuar seu processo de transformação e conformação à proposta do Mestre.
É por isso que eu acredito que ainda hoje o Senhor está disposto a intervir em nossa história. Está disposto a curar nossa incredulidade manifestando sua presença e seu poder quando reconhece em nós a sinceridade de nosso desejo, de nos encontrar com Ele, de acreditar Nele, em sua ressurreição, em sua graça, em sua salvação. Para Ele não é um problema que algumas vezes nos venham dúvidas, perguntas, questionamentos... quando estas coisas nascem em um coração que está em busca da verdade, que quer encontrar o autêntico caminho que leva à vida. Estou seguro de que quando é assim, Ele vem em nosso encontro e misericordiosamente se apresenta e nos dá o que necessitamos. Mas, quando sente que em nós existe somente a curiosidade, ou a exigência egoísta de sua ação, sem que exista uma autêntica vontade de conhecê-lo, então permanece mudo, não se apresenta em nossa vida, nem nos deixa experimentar a força de sua ressurreição.
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