Amo escrever! E ser convidada para escrever junto com uma pessoa que a gente admira, melhor ainda. Em 2010, o Alberto Meneguzzi me convidou para escrever este artigo com ele e o resultado foi (sou suspeita pra falar, mas...) muito bom! É um texto longo, mas, vale a pena ler.
*Alberto
Meneguzzi
Ângela
Rocha
Uma reportagem especial publicada no jornal
Zero Hora de Porto Alegre, mostra o que vem por aí em termos de tecnologia. “Olhar para o futuro nem sempre significa ver
o invisível” diz a apresentação da matéria.
A reportagem mostra previsões de inovações tecnológicas para os próximos
10 anos e faz um alerta: “Todas as
previsões indicam melhorias consideráveis em relação à atualidade, mas também
sugerem mudanças radicais de comportamento”. É impressionante, uma das dez previsões
apresentadas diz que num curto espaço de tempo, a chamada web das coisas (onde tudo se conecta a internet) será massificada,
“eletrodomésticos, lâmpadas, portas e
janelas entre outros dispositivos, estarão ligados em rede e isso possibilitará
controle a distância: mesmo fora de casa será possível programar um aspirador
de pó.” Outra previsão é que o quadro negro, utilizado nas escolas, será
eletrônico. Com isso, as informações atingem os notebooks dos alunos (fornecidos pela própria escola) via
transmissão sem fio. O DVD, para se ter uma ideia, já está ultrapassado e seu
sucessor, o blu-ray já está quase
também, perdendo espaço para as memórias flashs.
Já não se fala mais em Giga (byte), agora a conversa de Tera(byte) pra lá. Ufa!
A reportagem trata ainda de carros megaflex, com uma série de tecnologias
ainda mais avançadas que as atuais, chips
que poderão ser úteis para o monitoramento de tratamentos de seres humanos
mesmo a milhares de quilômetros de distância e até de lentes de contato que
transformarão o olho humano em algo semelhante a uma tela de TV: “Por meio de uma conexão sem fio, será
possível receber imagens de um computador a uma distância de até 15 a 20 metros , visualizado,
por exemplo, interlocutores em conversas via internet”. E tudo deverá estar
disponível até o final da próxima década.
Isso tudo quando algumas pessoas (inclusive os
autores deste artigo!), ainda encontram dificuldades no manuseio do próprio
celular! Até mesmo achar um nome na agenda de telefones, ou operar o controle
remoto da TV que ainda está na tecnologia analógica, são tarefas que precisam,
no mínimo, de um tutorial do Google. Na
verdade, somos de uma geração que nasceu no final da década de 60, o que nos
faz quase jurássicos em termos de
tecnologia. A primeira transmissão em cores na televisão aconteceu quando
tínhamos cinco ou seis anos. A internet, para nós, não tem mais do que dez anos
e os telefones celulares mais sofisticados, não ficam muito longe disso.
A geração
Z
Na mesma reportagem, está publicada uma
entrevista com Andrea Bisker. Ela é Diretora para a América Latina de uma
empresa britânica, que trata sobre o impacto das novas tecnologias nas relações
pessoais. Segundo Andrea, a geração “Z” (aqueles que nasceram após o ano dois
mil, chamados nativos digitais) vive num mundo conectado, mas que causa
angústia. “Tudo é muito rápido, e isso
pode fazer com que esta geração retome as raízes familiares para encontrar
conforto”. Ela diz também que esta geração “Z” não tem paciência para relações:
“A independência vem em função de uma
sociedade chamada líquida. Também é líquido o amor. Significado, e não dinheiro
é a grande mudança.” Andrea Bisker faz, porém, um alerta interessante: “Ideais éticos e ecológicos irão predominar. As
empresas já perceberam que essa geração Z vai comprar de quem é sustentável.”
Será? Esperemos que sim.
Como catequistas, convivemos com esta geração “Z”
já há um bom tempo. O que dá para notar é que os jovens estão sendo educados
nas questões ambientais. Falam de reciclagem, efeito estufa, questões
climáticas, camada de ozônio e tantos outros assuntos correlatos, com uma
desenvoltura fora do comum. A escola tem feito o seu papel e terá que fazer
muito mais daqui por diante. A Igreja ainda não encontrou a fórmula para tratar
disso de maneira direta e sem rodeios. Questões ambientais quase nunca são
abordadas nos conteúdos da catequese e quando são, estão colocadas de forma
pouco atrativa.
Por um lado, esta geração “Z” discute
abertamente quase tudo que se refere ao meio ambiente, por outro, se mostra consumista
ao extremo. São jovens facilmente influenciados pela propaganda e, ao mesmo
tempo, preocupados com o meio ambiente. Geram cada vez mais resíduos, descartam
com uma rapidez voraz uma série de produtos, mas dão aulas de como reciclar de
forma correta os resíduos que são produzidos em suas próprias casas. É uma
contradição desafiadora. Observa-se na catequese, que esta geração “Z”, pelo
menos nas comunidades urbanas, está num caminho sem volta na relação com as
novas tecnologias. A grande maioria sabe manusear um computador desde criança e,
com isso, cria uma linguagem própria, se alia em comunidades, busca relacionamentos
diferentes numa comunicação quase que instantânea. Já enterramos o Orkut e o
MSN; agora e-mails, blogs, estão quase
no mesmo caminho; Messenger, twitter, Facebook, Instagram, Myspace... Nem acabamos de listar e, provavelmente, já tem
outra rede social, despontando por aí. Os celulares então, estão cada vez mais
avançados, hoje, eles dão acesso a internet, tiram fotos, filmam, baixam jogos,
músicas, vídeos e podem ser acessados por um comando de voz, se transformando,
quase, em extensões do corpo desta garotada. E o Whatsapp? Quem não está nele, está fora do planeta terra!
Mas não nos cabe aqui um aprofundamento em
novas tecnologias, até porque, nossa capacidade é um tanto limitada. Nossa
intenção é fazer uma relação com a catequese, com o “fazer” dos catequistas,
com o linguajar usado, com as técnicas utilizadas nos encontros de catequese e,
com a postura que precisamos adotar frente a uma era que, veio para ficar, e
está, cada vez mais, influenciando comportamentos e atitudes.
O
catequista, a catequese e as inovações tecnológicas
Uma coisa que se pode perceber na catequese, é o
“descaso” da maioria dos catequistas e das comunidades-igrejas, com relação a
essas novas tecnologias. Quando alertados sobre o nível e o volume de
informações que crianças e jovens, trazem hoje, como bagagem para a catequese,
muitos evangelizadores acreditam que a “boa e tradicional” catequese dará um
jeito nisso. Ignorar que os jovens têm muito mais conhecimento de mundo do que
nós é, sem dúvida, um dos motivos para que muitos deles fujam da catequese e,
consequentemente, da Igreja. Os catequistas precisam estar “antenados”, saber
das novas “modas” e tendências, precisam saber como os jovens se comunicam e como
“leem” esse novo mundo.
Claro que uma adesão maciça a essas novas
formas de comunicação, não é a solução. Não aprenderemos de uma hora para outra,
a fazer “catequese virtual”. Nem é esse o caso. Igualdade, fraternidade,
justiça e amor incondicional (que são as mensagens da catequese), podem até ser
transmitidas via “online”. Mas a “via”
abraço, carinho e olhos nos olhos, não pode ser deixada de lado. Igreja ainda é
“comunidade”, laço, pertença, encontro e, sobretudo, relação humana. O que deve
se transformar é nossa postura com relação a isso tudo. É a nossa linguagem, a
nossa aceitação e entendimento de que esse mundo que está aí é o mesmo, mas,
visto de outra forma, na maioria das vezes, por meio de uma tela cada vez com
menos polegadas. E não dá para pedir para descer como se fosse trem. Tem que
continuar a viagem.
Aliás, o Papa Bento XVI na mensagem que
escreveu para a 43ª edição do Dia Mundial das Comunicações, em 2009, já salientava
que o desejo de interligação e o instinto de comunicação, que se revelam tão
naturais na cultura contemporânea, na verdade, são apenas manifestações
modernas daquela propensão fundamental e constante que têm os seres humanos
para se ultrapassarem a si mesmos entrando em relação com os outros. Segundo ele, “quando nos abrimos aos outros, damos satisfação às nossas carências
mais profundas e tornamo-nos de forma mais plena, humanos”.
A alegação de muitas lideranças pastorais,
leigas ou não, para rejeitar ou ignorar essa nova postura que envolve um
comportamento diferente em relação às inovações tecnológicas, é que a realidade
urbana das grandes cidades é uma (nem todos têm acesso as novas tecnologias) e
a realidade rural, das pequenas cidades e das periferias, é outra. O que se
esquece é que, mesmo o Brasil sendo um país essencialmente agrícola, 80% da
população é urbana (Fundo de População das Nações Unidas – Agência Estado, 2010).
Isso faz com que comunidades inteiras, mesmo estando em grandes centros,
encontrem-se em estado de grande pobreza e sejam excluídas da sociedade e da
“era da informação”. Paralelamente observa-se que muitos jovens das camadas
mais pobres possuem celular e que as Lan
Houses, estão sempre cheias. A grande maioria das escolas públicas ensina
informática aos seus alunos, mesmo as de periferia. O jovem pode não “ter” um
computador, mas tem acesso a ele, sem dúvida alguma. Da televisão nem se fala:
hoje ela é um “computador”, é só conectar os periféricos.
Então, de que realidade é essa que estamos
falando? A maioria esmagadora das nossas crianças e jovens sabem, sim, em que
mundo estão vivendo. Muitos dos nossos catequistas é que parecem não saber. E
mais, se sou catequista numa comunidade onde as pessoas não tem acesso a esse
tipo de informação, é meu dever proporcionar isso a elas. Fazer com que elas
continuem alheias a essa nova realidade é trabalhar contra o projeto da
catequese. É preciso fazer com que, além de “estarem
‘no’ mundo, elas estejam ‘com’ o mundo” (Paulo Freire, educador). Ao mesmo
tempo, nessa conexão entre o novo e o antiquado, é preciso fazer alertas
importantes para as nossas crianças e jovens.
Bento XVI, fala ainda em sua mensagem, sobre o
perigo de que, com este avanço tecnológico, as relações entre as pessoas se
transforme em algo descartável. O sumo pontífice diz que é preciso existir uma
harmonia entre ambos: “O conceito de amizade logrou um renovado lançamento
no vocabulário das redes sociais digitais que surgiram nos últimos anos. Este
conceito é uma das conquistas mais nobres da cultura humana. Nas nossas
amizades e através delas crescemos e desenvolvemo-nos como seres humanos. Por
isso mesmo, desde sempre a verdadeira amizade foi considerada uma das maiores
riquezas de que pode dispor o ser humano”. O Papa pede para que o conceito
e as experiências de amizade não sejam banalizadas, que a família e as pessoas
que fazem parte de nossa realidade cotidiana, na escola e no trabalho, não
sejam deixadas de lado em detrimento a essa nova cultura do online. Diz ainda: “De fato, quando
o desejo de ligação virtual se torna obsessivo, a consequência é que a pessoa
se isola, interrompendo a interação social real. Isto acaba por perturbar
também as formas de repouso, de silêncio e de reflexão necessárias para um
desenvolvimento humano saudável”.
Parece cômodo ignorar tudo isso. Acreditar que
as mudanças vão demorar a acontecer. Porém, o que se vê, é que a cada dia,
novos meios e tecnologias são criadas a serviço do homem. E não podemos
esquecer que também estamos “a serviço” deste mesmo homem, como irmãos que
somos. E que a tecnologia não é um “fim”. É um meio, uma conexão. Então é
preciso que a Catequese e a Igreja como um todo, se preocupem, e muito, com a web das coisas. Os catequistas precisam
se “conectar”, caso contrário, perderemos o download
(bonde) da história. E esse, não passa de novo. Nem fica disponível para
sempre...
(Janeiro 2010, atualizado em 2016).
* Sobre
os autores:
Alberto Meneguzzi – Catequista de Crisma e
Jornalista em Caxias do Sul - RS
Angela Rocha – Catequista de Crisma em Londrina
– Paraná.
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