HOMILIA DO 29° DOMINGO DO TEMPO COMUM
– ANO B
O evangelho de hoje é provocador. Os melhores alunos de Jesus solicitam
uma coisa totalmente contrária ao que ele tentou ensinar. Pedem para
sentar nos lugares de honra no seu reino, à sua direita e à sua esquerda.
Não compreenderam nem a pessoa, nem o modo de agir de Jesus. Seu pedido era tão
vergonhoso que o evangelista
Mateus, quando contou mais tarde a mesma história, disse que foi a mãe deles que pediu (MT 20,20).
Mateus, quando contou mais tarde a mesma história, disse que foi a mãe deles que pediu (MT 20,20).
Devemos situar esse
episódio no seu contexto. Mc 8,31-10,45 é a grande instrução de Jesus a
caminho, balizada pelos três anúncios da Paixão. O evangelho de hoje é a
continuação do 3° anúncio da Paixão: estamos no fim da instrução, e parece que
até os melhores alunos ainda não aprenderam nada. De fato, só aprenderão depois
da morte e ressurreição de Jesus. Por enquanto, em contraste com a incompreensão
dos alunos, eleva-se a grandeza da lição final: o dom da própria vida.
A 1ª leitura
prepara-nos para compreender melhor o evangelho. É o 4° cântico do Servo
Sofredor. No seu sofrimento ele assumiu a culpa de muitos. Por isso, Deus o ama
duplamente: porque ele é justo e porque seu sangue leva os outros a serem
justos. Infelizmente, a humanidade precisa de vítimas da injustiça para
reencontrar o caminho da justiça. A recente história da América Latina está
cheia disso: os mártires que com seu sangue testemunharam o caminho da
fraternidade. E ao lado desses mártires de sangue temos ainda os mártires do
dia-a-dia, que não são poucos: pessoas que sacrificam sua juventude para cuidar
de pais idosos, que sacrificam carreira lucrativa para se dedicar à educação
dos pobres … São estes que santificam nosso mundo cruel.
O justo que dá sua
vida pelos outros é chamado “servo”, porque serve. Ele é o antipoder. O povo
diz: “Quem pode mais, chora menos”. O Servo diria: “Quem pode mais, serve
menos”. Jesus diria: “Quem ama mais, sofre mais”. Jesus é a plena realização do
“servo”. Aos apóstolos ambiciosos que desejam ter os primeiros lugares no Reino
ele opõe seu próprio exemplo: “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele
que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.
O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em
resgate por muitos” (Mc 10,45).
Casualmente, este
evangelho coincide com o trecho de Hb lido na 2ª leitura. Aí o servo de Deus é
chamado de sacerdote. Não no sentido do Antigo Testamento – pois aí os
sacerdotes eram muitos e deviam ser descendentes de Aarão, o que Jesus não era.
Mas no sentido de oferecer a Deus, por todos nós, a própria vida. Aliás, ele é
o único sacerdote conforme o Novo Testamento. Aqueles a quem chamamos de
sacerdotes são na realidade “ministros”, servos do sacrifício exercido por
Jesus. Eles ministram no altar o sacrifício de Jesus, exercendo o sacerdócio
ministerial. E os fiéis unem-se ao dom da vida Jesus exercendo na vida cotidiana
o sacerdócio batismal do povo de Deus.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
FONTE: franciscanos.org
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