HOMILIA DO 27. DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
Seria o divórcio o centro da
reflexão de Jesus no Evangelho deste domingo? Poderíamos erroneamente reduzir
Jesus ao legalismo, enquanto sabemos muito bem, pelo Evangelho, que Jesus se
distancia deste caminho.
A pergunta dirigida a Jesus
tem como pano de fundo a injustiça legal dois judeus e a dureza dos seus
corações. No tempo de Jesus, o homem podia dispensar a mulher simplesmente por
não estar mais satisfeito com ela. A mulher era largada e não podia mais contrair novo matrimônio sem a autorização
do homem. Ora, Jesus aproveita a pergunta para condenar o machismo, o
autoritarismo amparado pela lei. Faz o
resgate da Palavra de Deus, dizendo que no princípio não era assim, ou seja, os
decretos primordiais não são fundados no egoísmo, mas no amor genuíno.
O livro
do Gênesis nos diz que quando um homem e uma mulher se unem, “os dois formarão
uma só carne, assim, já não são dois, mas uma só carne” (Gn 2,24). A primeira leitura reforça a
pregação do Senhor. Quando Adão estava no paraíso, vivia sozinho, mas o Senhor
não deseja a sua solidão. Então da-lhe uma companheira. Não lhe dá alguém para
ser oprimido ou para oprimir, não recebe Adão um instrumento de dominação, mas
alguém tirado de seu lado, de sua natureza: “Desta vez, sim, é osso dos meus
ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do
homem” (Gn 2,23).
O livro das origens nos
ensina que a vocação do homem não é a solidão, mas o amor. É na relação com o
outro, na alteridade, ou seja, no confronto com o diferente, que se descobre a
si mesmo e se encontra a realização. Isto acontece de um modo especial na relação
entre homem e mulher, quando os opostos se confrontam e se unem.
Porém, viver um ao lado do outro
não é ainda garantia de partilha, de construção mútua. Casais podem dormir na mesma cama e não
formarem uma comunhão. Também podemos estar cercados de uma multidão e mesmo
assim nos sentirmos sozinhos. A solidão só é oportunidade de crescimento, de
dar e de oferecer algo.
O amor exige respeito,
sabedoria, ternura, empenho. Não somente na relação homem e mulher, mas todas
as relações humanas devem ser regidas pelo princípio da relação de alteridade
respeitosa, que é fruto do amor.
Jesus é o maior modelo deste
amor que está totalmente longe da opressão. Isto porque sua encarnação é o
maior gesto que desfigura o poder, colocando no seu lugar a manifestação de um
amor que é capaz de se rebaixar, humilhar-se, derramar-se. Na carta aos Hebreus
vemos Kenosis (= rebaixamento) de
Deus, que mesmo divino, submete-se a ser menor os anjos e a sofrer na cruz. Por
que Deus não se manifestou como um poderoso rei? Poderia ser Ele um grande
general, um grande homem da corte, um homem de posses. Mas não quis. Se
quisesse visibilidade explícita, deveria ter se encarnado no século XXI e ser
filho de um dono de emissora de TV e não filho de um carpinteiro nos subúrbios da
Palestina do século I. A revelação de Deus
em Jesus Cristo nos desconcerta. Parece que o ser humano está distante de seu
exemplo, pois de modo geral o poder e o prestígio nos dominam e pervertem as
relações familiares, comunitárias, trabalhistas.
A criança é o modelo da
dependência do Pai, do despojamento frente à autossuficiência. Não busquemos
modelos de autossuficiência em pessoas cheias de vaidade, mas na singeleza das
crianças, que são pequenas, ternas, dependentes e transparente.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba- PR
FONTE:
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
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