Estamos no ANO A - Mateus, que começou na primeira semana do Advento, dia 01 de dezembro de 2019 e vai até o Domingo do Cristo Rei, este ano, no dia 22 de novembro de 2020.
Precisamos conhecer melhor o Evangelho e entender as mensagens contidas nele, de forma a conduzir nossos catequizandos pelo caminho das escrituras, para isso precisamos ESTUDAR com afinco!
Leia atentamente o texto abaixo e na sequencia, tente fazer o exercício pedido. Isso servirá para aprimorar seu conhecimento do Evangelho! Também pode ser feito um estudo em grupo com os demais catequistas.
Utilize os dois textos ANEXOS, para complementar as informações.
ANEXO I:
ANEXO II:
ESTUDO
DO EVANGELHO DE SÃO MATEUS
(*Todas as citações onde não aparece o nome do livro são do Evangelho de Mateus.)
Autor: Mateus significa "dom de Deus" (Matatias,
no hebraico) é um dos Doze Apóstolos. Foi chamado enquanto estava sentado na sua
banca, pois era cobrador de impostos (9,9) *. Depois do chamado ofereceu um
almoço para Jesus e seu grupo (9,10-13). É o mesmo Levi de Lc 5,27 e era filho
de Alfeu (Mc 2,14).
Local e data: Na Bíblia, é o primeiro Livro do NT (é o mais longo
dos quatro Evangelhos). A maioria dos autores hoje concorda que foi escrito no
norte da Galileia; outros afirmam que foi na Síria (Antioquia). Foi escrito
primeiro em hebraico ou aramaico. Não temos mais o original. A data deve ter
sido por volta dos anos 80-90 dC. Seguramente depois que os romanos destruíram
o Templo no ano 70, e quando os cristãos já não podiam mais frequentar as sinagogas
dos judeus.
Objetivo: O objetivo principal deste Evangelho é que Mateus quer
responder a duas perguntas, que com certeza os cristãos se colocavam depois da
vida, morte e ressurreição de Jesus:
- Quem é Jesus?
(Conhecer). Jesus é o Emanuel, o Deus conosco, o Filho de Deus!;
- Como seguir Jesus
Cristo? (Fazer o que Ele mandou). Mateus mesmo dá o exemplo. Jesus o chama:
Segue-me! E ele, levantando-se, o seguiu! (Cf. 9,9).
Destinatários: Mateus escreve para os judeus que se converteram ao
cristianismo, por isso utiliza muito o AT e usa muitos termos hebraicos. Mas a
mensagem de Jesus é universal e por isso o Evangelho termina afirmando:
"fazei que todas as nações se tomem discípulos meus...” (28,19).
CARACTERÍSTICAS
PRINCIPAIS:
1. A certeza que Jesus é
Deus presente no meio de nós: no início,
meio e final:
- 1,23: “Ele será
chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”;
- 18,20: “Onde dois ou
mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de deles”;
- 28,20: “Eis que
estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
2. É o Evangelho do Pai:
Enquanto que em Marcos
Jesus aparece mais e é mais cristológico; em Lucas é o Espírito Santo que tem
uma função especial; em Mateus é a primeira pessoa da Santíssima Trindade que
tem destaque. Numerosas são as vezes em que Jesus fala de Deus como do Pai
nosso (21 vezes contra 5 de Lucas); o seu Pai (18 vezes, contra 6 de Lc e 3 de
Mc). Passagens interessantes são: 10,29 (cf. Lc 12,6); 10,20 (cf. Lc 12,12);
20,23 (cf. Mc 10,40).
Algumas parábolas, que
se encontram exclusivamente em Mateus, são verdadeiras parábolas do
"Pai": a parábola do servo infiel (18,23-35, cf. v. 35), a parábola
dos trabalhadores na vinha (20,1-12), a parábola das bodas reais (22,1-14; cf.
Lc 14,16-24), a parábola dos dois filhos (21,28-31), a parábola do joio e do
trigo (13,24-30; cf v.27).
3. É o Evangelho da
Justiça (3,15; 5,6; 10,20; 6,1.33;
21,32, etc):
- Jesus nasce no
ambiente de um homem justo (1,19);
- As primeiras
palavras de Jesus neste Evangelho são: “deixe como está, pois, convém que
cumpramos toda a justiça” (3,15);
- A busca fundamental
nossa deve ser “o reino dos céus e sua justiça” (6,33);
- O julgamento de Deus
será pela justiça e misericórdia que praticamos (25,31-46).
- O tema da
“recompensa” aparece muitas vezes.
4. O projeto que
Jesus anuncia é uma Boa Notícia, chamado de Reino dos Céus:
- O tema do Reino “dos
céus” (ou “de Deus” – 5 vezes) aparece 54 vezes no Evangelho;
- Mateus prefere usar
“reino dos céus”, para evitar a expressão “reino de Deus”, pois os judeus, por
respeito, evitavam pronunciar o nome de Deus (YHWH - Javé).
5. A valorização da
história e do Antigo Testamento:
- Jesus nasce da
descendência do povo hebreu. São 14 vezes três gerações (1,17). 14 é a soma das
consoantes hebraicas do nome David dwd (4 + 6 + 4 = 14). Jesus é três vezes
Davi;
- Várias vezes
encontramos “para se cumprir as Escrituras”, ou “o que foi dito pelos
Profetas”; ou “também está escrito”; ou “ouviste o que foi dito aos antigos”,
etc.
6. Aparecem fortes
conflitos com os judeus, principalmente com os fariseus:
O Evangelho foi
escrito depois da destruição de Jerusalém e do templo (70 dC). Era um momento
de ruptura entre judeus e cristãos. Era o tempo da reestruturação do judaísmo
formativo. Os cristãos nesta época eram expulsos das sinagogas, por isso Mateus
fala das “suas/vossas sinagogas” ou “sinagogas deles” (4,23; 9,35; 10,17; 12,9;
13,54; 23,34).
7. As mulheres:
- Na genealogia de
Jesus aparecem 5 mulheres. Isso era incomum no ambiente judaico. Todas têm
problemas: Tamar que perdeu o marido e se fez passar por prostituta (Gn 38);
Raab é prostituta (Js 2,1-21); Rute é moabita, isto é, uma estrangeira (Rt
1,4); Betsabeia era mulher de Urias, que Davi mandou matar para ficar com ela
(2Sm 11 e 12); e Maria, que ainda não era casada com José;
- É uma mulher que
unge Jesus e prepara seu corpo para a sepultura (26,6-13);
- As mulheres são o
grupo que é fiel até o fim (27,55-56.61) e são as primeiras as receberem a boa
notícia da ressurreição de Jesus e serão as primeiras anunciadoras de que Jesus
está vivo (28,1- 10);
- Porém, a infância de
Jesus é contada na ótica de José e não de Maria, como em Lucas.
8. Evangelho das
Bem-aventuranças (Mt 5,1-12):
- São 7 ou nove,
depende de como são contadas;
- A recompensa na
primeira (aos pobres) e na sétima (aos perseguidos pela justiça) a promessa é
no presente “deles é o reino dos céus”. As demais são no futuro: herdarão a
terra; serão saciados...;
- Diferente de Lucas,
os “Ai de vós” não vêm em seguida aos “felizes / bem-aventurados vós”. Eles
aparecem no capítulo 23;
- Deus quer o povo
feliz! E essa felicidade começa logo para quem entra no Reino;
- Pessoas pobres,
doentes, endemoninhadas, famintas, cegas, desempregadas, crianças, mulheres,
multidões... Este é o povo que Jesus encontra e são as privilegiadas no anúncio
do Reino.
9. Mateus utiliza
muitos números:
Mateus usa muito os
números, sobretudo 3, 5, 7 e 10. Ex.: narra 3 tentações de Jesus; 3 “quando...”
(6,2.5.16); 3 súplicas no monte das Oliveiras; temos 3 negações de Pedro; 3
séries de 14 (7 x 2) gerações na genealogia de Jesus. Encontramos 7 discursos
de Jesus, 7 parábolas sobre o Reino;
- O Evangelho está
organizado em 5 livrinhos (igual ao Pentateuco, no AT);
- Devemos perdoar não
7 vezes, mas setenta vezes sete, isto é, infinitamente;
- Encontramos em
Mateus 10 milagres (igual às 10 pragas ou aos 10 Mandamentos no AT).
10. Jesus é o novo
Moisés:
- A matança dos
meninos (2,13-18) recorda um fato semelhante com Moisés (Ex 1,15-22);
- Jesus é maior que
Moisés, pois Ele cumpre toda a Lei (5,17) e lhe dá uma nova interpretação
(5,21-48; 19,3-9.16-21);
- Várias vezes Jesus
sobe à montanha. Esta era o lugar privilegiado para o encontro com Deus. Jesus
sobe à Montanha (5,1), assim como Moisés foi ao Sinai. O sermão na Montanha
(5-7) e o envio dos Apóstolos pelo mundo (28,16-20) lembram as tábuas da Lei dadas
a Moisés no Monte Sinai.
11. Jesus é o FILHO
de Davi: O Novo Davi
- Menciona Davi ligado
a Jesus muitas vezes: 1,1.6.17; 9,27; 12,3.23; 15,22; 20,30.31; 21,9.15;
22,42.43.45;
- Jesus é chamado
FILHO DE DAVI 7 vezes: - Três vezes
pelos dois cegos (9:27; 20,30.31) e mais uma vez pela mulher Cananéia (15:22)
todos pedindo compaixão; duas vezes pela multidão que se admira (12,23) e na
entrada para Jerusalém (21,9); uma vez pelos meninos (21,15);
- E finalmente à
pergunta de Jesus os fariseus também reconhecem que o Cristo é o Filho de Davi
(22:42);
- Davi foi o Rei
considerado ideal porque conseguiu unir as 12 tribos de Israel tornando-os o
Povo de Israel. Jesus é o Novo Davi para unir todos os povos, tornando-os O
NOVO POVO DE DEUS.
12. O verbo “ver”:
- Jesus “viu” os primeiros
Apóstolos (4,18.21); “viu” Mateus (9,9); “viu” as multidões (5,1; 8,18; 9,36);
“viu” a sogra de Pedro de cama (8,14); “viu” a mulher doente (8,22); etc...
13. É o Evangelho
da Igreja:
- Duas vezes aparece a
palavra ekklesía: Igreja / Assembleia (16,18; 18,17);
- Mateus procura
corrigir certos problemas da comunidade: o perdão aos que erram, o bom
comportamento (parábola do semeador, todo o capítulo 18, a questão da
autoridade, o perdão etc.);
- Ele quer demonstrar
que os cristãos são o novo Povo de Deus e a Igreja é o verdadeiro Israel;
- O batismo substitui
a circuncisão. É o novo sinal de pertença ao povo de Deus;
- Foi o Evangelho mais
usado na Igreja primitiva. Seu estilo é de Catequese.
-----------------------
BIBLIOGRAFIA:
CNBB. Ele está no meio de nós. São Paulo: Paulus,
1998.
MOSCONI, L. O Evangelho de Mateus. São Leopoldo:
CEBI, 1990.
STORNIOLO, I. Como ler o Evangelho de Mateus. São
Paulo: Paulus, 1990.
* Introdução ao Evangelho de Mateus na Bíblia de Jerusalém, Edição Pastoral e Bíblia do
Peregrino.
Frei Ildo Perondi
Prof. no curso de Teologia da PUC-PR.
EXERCÍCIO: Ler o
Evangelho de São Mateus e ir anotando:
Quem é Jesus?
- É o Emanuel, isto é,
“Deus Conosco”
- É Jesus: o nosso
Salvador!
- É o “Rei dos Judeus”
(segundo os Magos)
- É uma ameaça para Herodes
e os grandes
- É o Deus Menino (cf. Mt
2,8-21)
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
Como seguir Jesus?
- Como os Magos: ir e
alegrar-se!
- Como fizeram Pedro e seu
irmão André
- Como fizeram Tiago e João
- Como as multidões que
seguiram Jesus
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
- _________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
ANEXO I:
Introdução e informações da BÍBLIA PASTORAL - Paulus:
EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS
JESUS, O MESTRE DA JUSTIÇA
Introdução
Mateus
apresenta Jesus com o título de Emanuel,
que significa: “Deus está conosco” (Mt 1,23). À medida que lemos este
Evangelho, vamos descobrindo o significado desse título: Deus está presente em
Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam os homens e os reúnem como
novo povo de Deus. As últimas palavras de Jesus (Mt 28,20) são uma promessa de
permanência: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.
Essas palavras, dirigidas ao grupo dos discípulos, mostram que Mateus vê a
comunidade cristã como semente do novo povo de Deus, povo que é o lugar onde se
manifestam a presença, ação e palavra de Jesus.
Segundo
Mateus, Jesus é o Messias
que realiza todas as
promessas feitas no Antigo Testamento. Essa realização ultrapassa as
expectativas puramente terrenas e materiais dos contemporâneos de Jesus, que
esperavam apenas um rei nacionalista para libertá-los da dominação romana.
Frustrados em suas expectativas, eles o rejeitam e o entregam à morte. Por
isso, a comunidade reunida em torno de Jesus torna-se agora a portadora da Boa
Notícia a todos os homens, a fim de que eles pertençam ao Reino do Céu.
Logo de
início, Mateus apresenta Jesus como o Mestre que
veio realizar a justiça: “devemos
cumprir toda a justiça”
(3,15). O restante do Evangelho mostra que, através da palavra e ação, Jesus
vai educando a comunidade cristã para a prática dessa justiça, isto é, vai
ensinando como se deve realizar concretamente a vontade de Deus.
De todos
os evangelistas, Mateus é aquele que apresenta didática mais clara. Entre o
prólogo (Mt 1-2) e a narrativa da morte e ressurreição de Jesus (26,3-28,20),
ele organiza o assunto de todo o seu Evangelho em cinco livrinhos, cada um contendo uma parte narrativa seguida de um discurso. Lendo atentamente, podemos perceber que
Mateus escolheu os episódios de cada parte narrativa, de modo a ilustrar o
discurso seguinte. E o discurso, por sua vez, resume e explica o que está
contido nessa narrativa. Assim a palavra de Jesus é sempre apresentada como
resultado de uma ação, e toda ação é sempre ensinamento, anúncio.
A
comunidade cristã, lendo Mateus, é convidada a olhar para dentro de si mesma,
afim de descobrir a presença de Jesus, que ensina a prática da justiça. Desse modo, a comunidade aprenderá a
dizer a palavra certa e a realizar a ação oportuna, no tempo e lugar em que
está vivendo.
O Evangelho segundo
Mateus começa com uma genealogia, para salientar que Jesus surge do povo de
Israel e o conduz ao ponto alto de sua história. Como “filho de Abraão” (1,1, Jesus) deve ser
entendido à luz de toda história contada nas Escrituras (Antigo Testamento).
Eis uma chave importante para abrir nosso texto: é a partir da história, das
tradições, da cultura do povo de Israel que Jesus será compreendido.
Ele é chamado também “filho de Davi” (1,1), o Messias (Cristo,
ungido, escolhido) que vem ensinar a respeito do Reino e realizar a justiça
(vontade) de Deus, da qual se deve ter fome e sede, e em relação à qual não se
deve temer a perseguição (5,6.10).
EVANGELHO
SEGUNDO SÃO MATEUS
Prólogo: A nova
história – Mt 1-2 : Evangelho da Infância de Jesus
PRIMEIRO LIVRINHO: Mt 3-7 - A JUSTIÇA DO REINO
1.1 - Parte narrativa: A chegada do Reino – Mt 3-4
1.2 - Discurso: O SERMÃO DA MONTANHA – Mt 5-7
SEGUNDO
LIVRINHO: Mt 8,1-10,42 - A DINÂMICA DO REINO
2.1
- Parte narrativa: Os sinais do Reino Mt 8,1-9,38
2.2 - Discurso: A missão dos discípulos – Mt 10,1-42
TERCEIRO
LIVRINHO: Mt 11,1-13,52 - O MISTÉRIO DO REINO
3.1
- Parte narrativa: A oposição a Jesus - Mt 11-12
3.2 - Discurso: As 7 parábolas do Reino – Mt 13, 1-52
QUARTO
LIVRINHO: Mt 13,53-18,35 - A IGREJA - SEMENTE DO REINO
4.1
- Parte narrativa: O seguimento de Jesus Mt 13,53-17
4.2 - Discurso: A vida da Igreja – Mt 18,1-35
QUINTO
LIVRINHO: Mt 19 – 25 - A VINDA DEFINITIVA DO REINO
5.1
- Parte narrativa: O Reino é universal - Mt 19-23
5.2 - Discurso: A vinda do Filho do Homem – Mt 24-25
PAIXÃO, MORTE E
RESSURREIÇÃO DE JESUS: Mt 26-28
Mandato de Jesus aos discípulos:
“Vão e façam com que todos se tornem meus discípulos...” Mt 28,19.
Da Bíblia Edição Pastoral
ANEXO II:
INTRODUÇÃO DA BÍBLIA DOS CAPUCHINHOS - Evangelho de São Mateus
INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE SÃO MATEUS
BÍBLIA DOS CAPUCHINOS
Este Evangelho, transmitido em
grego pela Igreja, deve ter sido escrito originariamente em aramaico, a língua
falada por Jesus. O texto atual reflete tradições hebraicas, mas ao mesmo tempo
testemunha uma redação grega. O vocabulário e as tradições fazem pensar em
crentes ligados ao ambiente judaico; apesar disso, não se pode afirmar, sem
mais, a sua origem palestinense. Geralmente pensa-se que foi escrito na Síria,
talvez em Antioquia ou na Fenícia, onde viviam muitos judeus, por deixar
entrever uma polêmica declarada contra o judaísmo farisaico. Atendendo a
elementos internos e externos ao livro, o atual texto pode datar-se dos anos
80-90, ou seja, algum tempo após a destruição de Jerusalém.
AUTOR
Do seu autor, este livro nada
diz; mas a mais antiga tradição eclesiástica atribui-o ao apóstolo Mateus, um
dos Doze, identificado com Levi, cobrador de impostos (9,9-13; 10,3).
Pelo conhecimento que mostra das
Escrituras e das tradições judaicas, pela força interpelativa da mensagem sobre
os chefes religiosos do seu povo, pelo perfil de Jesus apresentado como Mestre,
o autor deste Evangelho era, com certeza, um letrado judeu tornado cristão, um
mestre na arte de ensinar e de fazer compreender o mistério do Reino do Céu, o
tesouro da Boa-Nova anunciada por Jesus, o Messias, Filho de Deus.
COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
Mateus recorre a fontes comuns a
Marcos e Lucas, mas apresenta uma narração muito diferente, quer pela amplitude
dos elementos próprios, quer pela liberdade com que trata materiais comuns. O
conhecimento dos processos e os modos próprios de escrever de Mateus são de
grande importância para a compreensão do livro atual:
a) compilação de palavras e de fatos, de “discursos” e de
milagres;
b) recurso a certos números (7, 3, 2);
c) paralelismo sinonímico e antitético;
d) estilo hierático e catequético;
e) citações da Escritura, etc..
DIVISÃO E CONTEÚDO
Apesar dos característicos
agrupamentos de narrações, não é fácil determinar o plano ou estabelecer as
grandes divisões do livro. Dos tipos de distribuição propostos pelos críticos,
podemos referir três:
1. Segundo o plano geográfico:
a) o ministério de Jesus na
Galileia (4,12b-13,58),
b) a sua atividade nas regiões
limítrofes da Galileia e a caminho de Jerusalém (14,1-20,34),
c) ensinamentos, Paixão,
Morte e Ressurreição em Jerusalém (21,1-28,20).
2. Segundo os cinco “discursos”,
subordinando a estes as outras narrações: resulta daí um destaque para a
dimensão doutrinal e histórica da existência cristã.
3. Segundo o objetivo de referir
o drama da existência de Jesus:
Mateus apresenta o Messias...
a) em quem o povo judeu recusa acreditar (3,1-13,58) e
b) que, percorrendo o caminho da cruz, chega à glória da
Ressurreição (14-28).
Aqui, limitamo-nos a destacar:
I. Evangelho da Infância de Jesus (1,1-2,23);
II. Anúncio do Reino do Céu (3,1-25,46);
III. Paixão e Ressurreição de Jesus (26,1-28,20).
TEOLOGIA
Escrevendo entre judeus e para
judeus, Mateus procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus se cumpriram
as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias. A partir do
exemplo do Senhor, reflete a praxe eclesial de explicar o mistério messiânico
mediante o recurso aos textos da Escritura e de interpretar a Escritura à
luz de Cristo. Esta característica marcante contribui para compreender o
significado do cumprimento da Lei e dos Profetas: Cristo realiza as Escrituras,
não só cumprindo o que elas anunciam, mas aperfeiçoando o que elas significam
(5,17-20). Assim, os textos da Escritura neste Evangelho confirmam a fidelidade
aos desígnios divinos e, simultaneamente, a novidade da Aliança em Cristo.
Nele ressaltam cinco blocos de palavras ou “discursos” de
Jesus:
a) 5,1-7,28;
b) 8,1-10,42;
c) 11,1-13,52;
d) 13,53-18,35;
e) 19,1-25,46.
Ocupam um importante lugar na
trama do livro, tendo a encerrá-los as mesmas palavras (7,28), e apresentam
sucessivamente:
a) “a
justiça do Reino” (5-7),
b) os
arautos do Reino (10),
c) os
mistérios do Reino (13),
d) os
filhos do Reino (18) e
e) a
necessária vigilância na expectativa da manifestação última do Reino (24-25).
Desde o séc. II, o Evangelho de
Mateus foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das tradições
que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam
privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por Jesus como
juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já atuante no
mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o
discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e
penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não
identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe
o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória,
na perspectiva do Reino de Deus.
Como os outros Evangelhos, o de Mateus refere a vida e os
ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia
primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias;
a) Ele
é o Salvador esperado,
b) o
Emanuel,
c) o
«Deus conosco» (1,23) até à consumação da História (28,20);
d) é
o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os
Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus);
e) é
o Messias, no qual converge o passado, o presente e o futuro e que, inaugurando
o Reino de Deus, investe a comunidade dos discípulos a Igreja do seu poder
salvífico.
Assim, no coração deste Evangelho
o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado com Jesus de Nazaré, o
Filho de Davi e o Messias esperado, vivo e presente na comunidade eclesial.
——————–
FONTE:
Nenhum comentário:
Postar um comentário