Estava aqui pensando no que dizer à inquietação de uma
catequista, lá de Barra Bonita – SP, que me chamou no whatsapp um dia destes.
Sim, porque o que ela “perguntou”, na verdade é uma inquietação de todos
nós. Mas, é bom que sejamos inquietos. O evangelizador precisa se inquietar e
não aceitar as coisas exatamente como elas são. Agora, o que não podemos deixar
acontecer é que essa inquietação mate nosso espírito de luta e nos deixe
prostrados simplesmente recebendo - ou não recebendo, dependendo do caso - as
coisas como vêm, prontas e acabadas.
Mas, vamos a “inquietação”:
Por que temos tantas reclamações das catequistas sobre o
quase abandono de algumas paróquias, com relação às necessidades dos catequistas
e da catequese?
Para começar, quero dizer que não se coloca nada numa taça já
cheia – falando do pretenso conhecimento que muitos acham que tem e por isso
não querem aprender mais nada – ou seja, ninguém aprende se acha que já sabe e
tem tudo que precisa. E esta é a frase que me inspirou:
“Não é possível derramar mais água numa taça já cheia; assim
também Deus não pode verter as suas graças numa alma cheia de distrações e
frivolidades.” (São
Maximiliano Maria Kolbe)
Quem sabe nossos padres e lideranças não estejam, então, com
a alma cheia de distrações e frivolidades?
E aqui quero lembrar a vocês que um padre é, antes de tudo
(não deveria, mas é), o administrador da paróquia. Tanto no quesito pastoral
quanto administrativo/financeiro. Afinal uma paróquia é uma “empresa”, com CNPJ
e tudo. Evidentemente ele poderia contratar um profissional para isso, mas, é
uma questão administrativa que cabe à Igreja, como instituição resolver.
Voltemos àquela questão da “taça cheia”: Muitos acham
que o mandato vocacional proporciona sabedoria infinita e recorrem ao Espírito
Santo (que não fez graduação nenhuma em finanças), para prover o que lhe falta
em especialização e conhecimentos necessários. Com raras exceções, os padres
não sabem administrar as finanças de uma paróquia e esta, acaba sendo mantida
pelo coração caridoso dos seus fiéis. Ouso dizer que muitos trabalham apenas em
prol de manter suas suntuosas Igrejas. Aliás, esta também é uma das reclamações
de muitos dos nossos catequistas, que usam seus próprios recursos para
conseguir fazer uma catequese mais elaborada.
Enfim, aqui alguns diriam que só nos resta rezar. Rezar para
que nossos líderes, por algum milagre dos céus, tomem consciência de que, sem
os leigos, principalmente os catequistas, não haverá mais paróquia para
administrar.
E aqui eu recorro a mais uma frase de São Maximiliano: “O
fruto do nosso apostolado depende da oração. Se falamos de oração, não se deve
entender que seja preciso ocupar muitas horas em estar de joelhos e em oração,
mas que sejam feitos atos internos...”.
“Atos internos”. O que este venerável santo quis dizer com isso? Acho que se
lembrarmos que o ato mais nobre da vida dele foi se oferecer para morrer no
lugar de um pai de família num campo de concentração nazista, não precisamos
pensar muito na resposta. A oração deve nos mudar por dentro e fazer com que
façamos “lá fora”, os atos e as mudanças que precisamos.
Mas, aí está uma coisa que a gente não se põe muito a pensar.
No quanto as orações têm o poder de nos mudar “internamente”. Aos nos
confessarmos fracos e impotentes e pedirmos ajuda a Deus, estamos,
inconscientemente, ajudando a nós mesmos. A despertar o “Espírito Santo” que
existe dentro de nós. De nada adianta nos pormos a rezar sem dar uma “ajudinha”
a esse Espírito Santo. Não recebemos dele sete dons? Onde estão quando
precisamos?
E essa “ajudinha” é justamente pensar no que afinal se pode
fazer para que nossa catequese fique melhor. Claro que é difícil mudar alguma
coisa quando coordenações e párocos estão apáticos e desmotivados ou sequer
acreditam na catequese. Mas, mudanças podem ser “operadas” nas pequenas coisas
que “nós” fazemos!
E que “pequenas coisas” são essas que podemos fazer, meus
queridos catequistas?
Primeiro, independente de saber se o padre ou o coordenador conhece o Diretório
e os documentos da catequese, preciso “EU” mesma conhecê-los.
“Ah, mas não posso por em prática tudo o que diz lá!”.
Quem disse que não? Se eu sei qual é a metodologia de
Jesus, o que é interação fé e vida, o que pretende o método ver-julgar-agir;
por que não posso colocá-los em prática? O “como” se catequiza é uma das formas
mais eficientes de se conseguir realmente, catequizar! Posso não estar
influenciando as gerações que me precedem e meus pares já estarem
"perdidos", mas, com certeza, influencio aquelas que virão. Ninguém é
mais o mesmo depois que “experimenta” Jesus de verdade, depois que se encontra
com ele. E esse encontro, é mediado pela catequese.
E quando não temos as “armas do poder” é preciso um
pouco de paciência. Se não sou “nada” na paróquia - pelos menos em termos de
influência com o pároco ou coordenação - o negócio é mudar NO espaço em
que me é permitido. E este espaço se chama “grupo de catequizandos”, onde provoco
mudanças verdadeiras quando consigo fazer ecoar a Palavra de Deus no coração de
cada um.
É claro que preciso seguir as “normas” e as “regras” da
pastoral. As “orientações” da coordenação. Não posso fugir delas. Tenho que
trabalhar com elas a meu favor, por mais que não concorde com elas.
Para mim, por exemplo, é uma rematada tolice e um atestado de
incompetência, usar qualquer coisa como “controle” de frequência de missa ou
dos próprios encontros de catequese. Se as pessoas não comparecem a um evento
que você convida é porque este evento não as atraia. Obrigá-las a ir, e fazer
que isto se transforme num “costume” ou “hábito”, é o que faz muitas pessoas
fracas na fé. E como temos fracos na fé ajoelhados todos os dias na
Igreja!
Eu não obrigo catequizando nenhum a ir à missa e nem faço
“chamada” em encontro. Só que eu sei perfeitamente quem foi ou não foi e porque
faltou. Isso porque “converso” com eles, converso com os pais. As crianças vão
à missa quando os pais vão à missa. Adianta eu fazer terrorismo com eles?
Deveria é fazer com os pais. Mas, estes se eu fizer, vou afastar ainda mais da
Igreja.
Não se deve ir à missa por costume ou hábito. É preciso ir porque
nos faz bem celebrar com a comunidade, faz bem cantar e rezar junto com a
comunidade, faz bem receber o “pão” junto com a comunidade.
Fico extremamente feliz quando encontro minhas crianças e
seus pais na missa. Faço questão de cumprimentá-los com um abraço. Porque sei
que estão lá porque querem, não porque os obriguei. Esta é apenas uma das
“coisinhas” que a gente pode tentar fazer. E continuar se inquietando sempre.
Inquietar-se é bom. Mas, é melhor ainda quando nos anima a mudar, a fazer
pequenas coisas que podem ser tornar grandes na vida das pessoas que estão ali
sob a nossa responsabilidade.
E para finalizar, um velho provérbio: “As
palavras ensinam, mas os exemplos arrastam”.
2 comentários:
Muito bom, também acho que forçar catequizandos a realizar qualquer coisa não é bom.
Na catequese, o catequista é o manual principal. Ser catequista, é apresentar a sua própria vida.
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