PARTE II - SEGUNDA INFÂNCIA
Texto bíblico Lc 2, 41-52
“Todos os anos, os pais de
Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando ele completou doze anos,
subiram para a festa, como de costume. Terminados os dias da festa, no momento
de voltarem, Jesus permaneceu em Jerusalém, sem que seus pais percebessem.
Pensando que se encontrasse na caravana, fizeram o caminho de um dia e
procuravam-no entre os parentes e conhecidos, mas, como não o encontrassem, voltaram a
Jerusalém, à procura dele. Depois de três dias o encontraram no templo, sentado
entre os mestres ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que ouviam o
menino ficavam extasiados com sua inteligência e suas respostas. Quando o
viram, seus pais ficaram admirados, e sua mãe lhe disse: “Filho, por que agiste
assim conosco? Olha, teu pai e eu andávamos, angustiados, à tua procura!” Ele
respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é
de meu Pai?” Eles, porém, não entenderam o que ele lhes havia dito .Jesus
desceu, então, com seus pais para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava
todos os esses acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em
sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens,”
(Tradução
-Bíblia CNBB- 3ª edição-2019)
Dando continuidade ao tema Espiritualidade
da criança e do adolescente, iniciado no artigo anterior, inspirado pelo
texto bíblico apresentado, podemos verificar que os pais de Jesus, Maria e José,
educaram Jesus na fé, com todo o zelo e cuidado com o Filho de Deus. E Jesus se
desenvolve em um ambiente familiar de oração e fidelidade a Deus.
Na Encíclica do Papa Francisco,
Amoris Laettia, encontramos:
A
educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé,
que se vê dificultado pelo estilo de vida atual, pelos horários de trabalho,
pela complexidade do mundo atual, onde muitos têm um ritmo frenético para poder
sobreviver. Apesar disso, a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a
perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo. Isto começa
no batismo, no qual- como dizia Santo Agostinho- as mães que levam seus filhos
“cooperam no parto santo”. Depois, tem início o percurso de crescimento desta
vida nova. A fé é um dom de Deus, recebido no batismo, e não o resultado de uma
ação humana; mas os pais são instrumentos de Deus para a sua maturação e
desenvolvimento. (AL, 287)
Na
caminhada catequética os catequizandos precisam de um ambiente acolhedor, tanto
na família, quanto na comunidade. Durante o seu desenvolvimento a criança vai
absorvendo o comportamento de seus familiares e dos grupos de convivência.
Na primeira infância, conforme Calandro e Ledo (2010), denominam a idade de 0 a 6 anos, a criança contempla tudo a seu redor, tudo é novidade para ela, um mundo a descobrir. Repete os gestos, brinca, dança, toca (tato) e é dotada de espontaneidade e cheia de energia.
De 0 a 2 anos a criança percebe o mundo pelo olhar de seus pais, a fé ainda é indiferente, porém, “as pré-imagens de Deus estão inseridas neste primeiro contato que a criança estabelece com o meio familiar” (CALANDRO e LEDO, 85). A confiança que ela tem no adulto é que estabelece o sentido de cuidado e amor. A afetividade é fator primordial em todo os períodos do desenvolvimento da criança, principalmente na primeira infância. De 3 a 7 anos, a fé já é projetada, a criança assimila a cultura de seus pais, e a comunidade aos quais os pais frequentam.
A segunda infância, de 7 a 9 anos, conforme Calandro e Ledo (2010), é o período da sistematização da criança, ela já vai se reconhecendo em um grupo maior, mas, com a sua identidade sendo formada. Com a experiência escolar também presente neste período, ela vai formando seu repertório tanto de fé, quanto de bases da educação científica. É a idade que entram na catequese.
Os catequistas, atentos à essas mudanças e realidades, precisam estar atento à maturidade gradativa de fé, que as crianças vão tendo ao longo da vivência na catequese. O Diretório Nacional de Catequese nos seus números 199 e 200 orienta:
199. A
infância constitui o tempo da primeira socialização, da educação humana e
cristã na família, na escola e na comunidade. É preciso considera-la como uma
etapa decisiva para o futuro da fé, pois nela, através do Batismo e da educação
familiar, a criança inicia a sua iniciação cristã. No final da segunda infância
(pré-adolescência), uma fase curta, mas efervescente do desenvolvimento humano,
ou até mais cedo (primeira infância, começa-se em geral o processo de iniciação
eucarística). É nessa idade que se atinge o maior número de catequizandos e há o
maior envolvimento de catequistas por causa da Primeira Comunhão Eucarística,
que não deve ter caráter conclusivo do processo catequético, mas a continuidade
com uma catequese de perseverança que favoreça o engajamento na comunidade
eclesial.
200. A
educação para a oração (pessoal, comunitária, litúrgica), a iniciação ao
correto uso da Sagrada Escritura, o acolhimento dentro da comunidade e o
despertar da consciência missionária são aspectos centrais da formação cristã
dos pequenos. É preciso cuidar da apresentação dos conteúdos, de forma adequada
à sensibilidade infantil. Embora a criança necessite de adaptação de linguagem
e simplificação de conceitos, é importante não semear hoje o problema de
amanhã. Simplificar com fidelidade e qualidade teológica exige boa formação e
criatividade. É necessário ter cuidado para que, em nome da mentalidade
infantil, não se apresentem ideias teologicamente incorretas que depois serão
motivo de crise de fé. (DNC, 2006)
Sendo assim, o que a Catequese
pode oferecer para a formação na fé destas crianças e desses adolescentes
diante de tanta dificuldade e adversidade? As famílias estão cada vez mais
distantes de uma vivência de fé autêntica; os pais têm dado pouca atenção a seus
filhos e filhas e tentam preencher o espaço que é devido aos eles com coisas
materiais: celulares, tablets, videogames, brinquedos, etc. E, muitas das vezes,
o que as crianças e adolescentes precisam, é simplesmente um abraço, um colo,
um ombro, um ouvido atento às suas indagações.
Muitos relatos de catequistas nos
contam das frustrações de seus catequizandos, com inúmeras dificuldades familiares:
presença de alcoolismo, depressão, separação, conflitos, sobrecarga de funções
para a mãe, que sempre tem que dar conta de tudo ou do pai, com dificuldade de
ouvir seus filhos e filhas, por estar por demais focado no trabalho.
A catequese a serviço da
evangelização acaba abarcando todas essas realidades dos catequizandos. A
comunidade de fé, também precisa acolher todas as situações e colaborar com a
formação na fé daqueles que estão sobre seus cuidados.
Assim, durante os encontros
catequéticos - sejam presenciais na paróquia, ou ainda, para aqueles que optam
por catequese em casa (com os pais e acompanhamento do catequista) - pode-se
propor momentos celebrativos, apresentação dos símbolos, do espaço litúrgico,
momentos de partilha de alguma situação concreta, histórias inspiradoras de
diversos santos e santas presentes na Tradição da Igreja, etc. Alguns subsídios
catequéticos, como o “Crescer em Comunhão”, da Editora Vozes, trazem em seu
itinerário de temas, celebrações catequéticas a cada bloco de temas. Estas
celebrações proporcionam encontros mistagógicos, orantes, com reflexões e cantos,
e pode ser convidada a família do catequizando.
Pode-se também, visitar as famílias
para conhecer a realidade de cada catequizando, para que a comunidade conheça as
alegrias, dificuldades e esperanças de cada um, pois, a partir do olhar do
catequista e da comunidade, pode-se proporcionar
à família que vem para a catequese, um espaço de partilha e de superação das eventuais
dificuldades em família.
Referências:
CALANDRO, Eduardo; LEDO, Jordélio
Siles. Psicopedagogia Catequética -
Reflexões e vivências para a catequese conforme as idades. Vol.1 – Criança. São
Paulo: Paulus. 2019.
_______ Psicopedagogia Catequética - Reflexões e
vivências para a catequese conforme as idades. Vol. 2 – Adolescentes e jovens.
São Paulo: Paulus, 2019.
COMISSÃO BÍBLICO CATEQUÉTICA -
ARQUIDIOCESE DE CURITIBA. Formação Básica de Catequistas - subsídio com
os principais temas para formação de catequistas. Curitiba: Editora
Arquidiocesana, 2008
CNBB. Diretório Nacional de
Catequese - DOC 84. 5ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007.
PAPA FRANCISCO. Amoris Laetitia: sobre o amor na
família. Exortação Apostólica Pós-sinodal.
São Paulo: Paulus, 2016.
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