EVANGELHO DO 4º DOMINGO TEMPO COMUM: LUCAS 4,21-30
Não é este o filho de José?
Na sinagoga de sua cidadezinha, Jesus havia acabado de ler no livro do
Profeta Isaías: O Espírito do Senhor me ungiu para anunciar a boa
notícia aos pobres (Lc 4,16-19). Sentado, observado por todos com
atenção, ele proclama: Hoje se cumpriu aos vossos olhos essa passagem
da Escritura (Lc 4,21). Suas palavras despertam admiração e respeito.
Mas ao mesmo tempo, escândalo: Não é este o filho de José? (Lc
4,22).
Qual a causa de tanto espanto? (Lc
4,22-24)
Jesus havia afirmado que o Espírito estava sobre ele. Logo sobre ele,
uma pessoa simples ali da aldeia, o filho de José que todo mundo conhecia! Ele
não era sequer sacerdote do Templo! Com que ousadia afirmava ter recebido
o Espírito? Por trás destas perguntas, ainda nos dias de hoje, está outra
indagação: será mesmo verdade que a salvação vem dos pequeninos?
Mas não era só isso! Sob a ação do mesmo Espírito, ele havia proclamado
o Ano Jubilar, ano de graça do Senhor, ano do perdão das dívidas (Lc 4,19),
como lemos em Deuteronômio 15,1-18 e em Levítico 25,8-55. De muitas leis, o
judaísmo não se esquecia, mas esta era melhor não lembrar: aceitar o Ano do
Jubileu significaria parar de acumular, dar descanso à terra, perdoar dívidas
contraídas pelos mais pobres, buscar a igualdade… Melhor tapar os ouvidos.
Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria, conclui Jesus (Lc
4,24). Com essa frase, ele mesmo dá o critério da autenticidade de seu
ministério: a rejeição. Na história de seu povo, verdadeiros profetas e
profetisas eram rejeitados (cf. Jeremias 26,11; Amós 7,10-13). Ainda hoje, os
verdadeiros profetas, os verdadeiros líderes do povo são caluniados,
injustamente perseguidos, condenados sem crime e presos.
Os de casa rejeitam, quem é estrangeiro
acolhe (Lc 4,25-27)
Jesus recorre à vida de seu povo, a histórias bem conhecidas na Bíblia
para ajudar a comunidade a superar o escândalo.
A primeira é a da Viúva de Sarepta, cujo nome, infelizmente, não foi
preservado. Havia muitas viúvas no meio do povo judeu, e Elias foi enviado a
uma viúva estrangeira em Sarepta, na Sidônia. A história está em 1 Reis 17 e é
uma passagem muito bonita: Elias chega faminto, é acolhido por uma mulher e uma
criança também famintos. Há relação de confiança e de acolhida, e as vidas são
salvas. Não só a da viúva e de seu filho, mas também a do próprio Elias. A
segunda história tem a mesma lógica: havia muitos leprosos a serem curados em
Israel, mas Eliseu cura novamente um estrangeiro, o sírio Naamã (2 Reis 5).
Se os de dentro do seu povo não o aceitam, Jesus deixa claro que
encontrará fé e adesão entre os de fora. E o questionamento se nos faz
automático: estamos nós, pessoas que nos julgamos “de dentro”, aceitando de
verdade a proposta? Que testemunho a sociedade cristã ocidental vem dando à
humanidade? Ou continuamos aceitando a perseguição a nossos profetas e
profetisas?
Passou no meio deles e prosseguiu o
caminho (Lc 4,28-30)
O Evangelho de Lucas foi escrito em torno do ano 90 do primeiro século
do cristianismo. E recolheu, como todos os evangelhos, histórias contadas de
boca em boca, a tradição oral das comunidades. A escolha das duas histórias (a
de uma viúva e de um leproso, ambos estrangeiros) mostra com evidência a
preocupação da comunidade de Lucas em mostrar que a abertura ao diferente, aos
estrangeiros e às estrangeiras, já vinha de Jesus. Um bom “puxão de orelhas”
para nossas comunidades ainda permeadas de tanto preconceito e intolerância, de
resistência ao ecumenismo e de tão pouco diálogo inter-religioso!
E o que fazer com gente de nossas comunidades que finge não enxergar e
que não quer abrir a cabeça e o coração? Não adianta o confronto direto, é
melhor passar no meio deles e seguir o caminho (Lc 4,30). É
preciso encontrar estratégias de resistência e de sobrevivência para que o
projeto não seja lançado no precipício. Com a ternura de sempre,
com a força e a graça do Espírito!
fonte: cebi.org.br
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