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terça-feira, 5 de março de 2024

RESPEITANDO AS DIFERENÇAS: HOMOSSEXUALIDADE

Imagem: projetorespeiteasdiferenças
A PERGUNTA:

Quando um casal gay tem filhos, como explicar para a sociedade uma CERTIDÃO DE NASCIMENTO COM DOIS PAIS ? Ou então, com DUAS MÃES? No sentido de que Deus criou o homem e a mulher, que vemos na Bíblia, hoje sendo concretizado com adoção, fertilização in vitro, barrigas de aluguem, etc.? Papai quem é minha mãe ? Como eu nasci ? Mãe porque não tenho pai como os outros? Como rtesponder a estas perguntas das crianças com pais homossexuais?

Como não é nada fácil responder a estas perguntas, nem dos adultos, recorri a uma querida amiga psicóloga para nos ajudar em nossos relacionamentos com as crianças e pais da catequese. Eis aí a resposta da minha amiga psicóloga:
"Como explicar para uma criança sobre essa nova estruturação familiar, adoção de crianças e adolescentes por pais do mesmo sexo e a fertilização in vitro; .partindo do princípio que Deus fez o homem e a mulher para se unirem e constituírem uma nova família?

Primeiramente desejo esclarecer que não existe uma resposta certa ou errada.
Quando partimos do princípio que Deus, na sua infinita sabedoria fez o homem e a mulher para deixarem seus pais e constituírem uma nova família, também Deus, na sua infinita sabedoria, deu ao homem e a mulher o poder de decisão, o livre arbítrio.

E hoje, no mundo moderno, essa possibilidade do livre arbítrio tem nos mostrado muitas possibilidades de novas estruturações familiares, e nós, como catequistas, psicólogos, orientadores, temos que ter o cuidado de seguir uma lei: a Lei do amor e do respeito ao próximo. Acredito ser essa a Lei maior que devemos seguir. No momento em que lidarmos com essas diferenças, que aprendemos e cremos de forma preconceituosa e acusativa, podemos até achar que estamos seguindo os mandamentos, a Bíblia, a doutrina... mas, esquecemos que o maior mandamento é o AMOR. O AMOR em aceitar o outro como ele realmente é... de como ele se constituiu. Cada ser humano se constitui de forma diferenciada, devido a vários fatores.

Penso que, no momento em que tivermos de explicar à criança toda essa controvérsia, entre o que ontem aprendemos e o que hoje nos é apresentado, devemos sim, revelar todo o nosso conhecimento e crenças, mas em contrapartida, aceitar e respeitar o novo. Estimular a criança para que entenda que, apesar das contradições, das diferenças, não podemos implantar a divisão, a discórdia, o julgamento e o preconceito.

Existem muitas passagens na Bíblia que nos pontuam que intransigência não é um papel nos cabe ter. Exemplo significativo é de Jesus com Maria Madalena: não somos nós que devemos atirar a primeira pedra. E seríamos soberbos demais em dizer para uma criança que somos os conhecedores de toda a verdade. Talvez a soberba seja o nosso maior erro, mais do que a opção de aceitar um casamento gay, adotar filhos nessa situação e a fertilização in vitro. E sinceramente, a soberba da certeza é uma herança que jamais devemos deixar para uma criança."

Rose Kriger - Psicóloga

"Este texto traz reflexão sobre um momento bem atual e, a resposta a tantas duvidas continua sendo: ter atitudes verdadeiras, com transparência e afeto".

Marilisa de Almeida - Psicóloga

O que eu, Ângela Rocha, catequista "amadora" penso a respeito:

Primeiro perguntei ao Paulo, meu marido, sua visão “masculina do caso”, o que ele diria disso. Também pra saber a opinião de uma pessoa fora da catequese. Ele respondeu: "Isso é problema dos dois pais ou das duas mães." Paulo teve uma visão apenas a respeito da educação do filho e a respeito do "Pai, porque não tenho mãe?” Opinião da qual partilho. Mas, e se nos depararmos com crianças na catequese cujos pais são gays?

Um casal homossexual e que resolveu constituir uma relação e criar um filho (e tem grana pra bancar o processo), acredito que tenha cultura suficiente pra saber que deverá educar seu filho para a realidade em que ele vai enfrentar na vida. Os problemas que a criança vai enfrentar na escola e na sociedade muitas vezes estão sendo antecipados.

É claro que é difícil, nossa sociedade ainda não está preparada para não ter preconceitos com a preferência sexual. Mas, eu boto fé nas pessoas que tem coragem de assumir isso e enfrentar o mundo. E aqui me lembro de um filme: “Gaiola das loucas", lembram? Com Robin Williams, Nathan Lane, Gene Hackman. Uma comédia muito louca, como o nome diz. Os dois protagonistas gays tem um filho que criaram juntos. E o filme mostra um rapaz muito bem resolvido, que ama o “marido” do pai como se fosse uma "mãe". Claro que o filme não é bem um exemplo a se seguir. Mas eu costumo tirar das coisas aquilo que é bom e, no caso, o excelente relacionamento familiar deles.

Quanto a questão disso acabar em nossas mãos, na Igreja, temos duas questões sobre as quais precisamos de uma “dose de realidade”: Dificilmente um casal gay, que teve um filho por fertilização em vitro, é católico praticante; mais dificil ainda é os dois colocarem o filho na catequese...

Mas vamos lá: o que um(a) catequista deve responder sobre isso? Que homossexualismo é perversão? Sodomia? Pouca vergonha? Devemos não aceitar a criança na catequese? Como as outras crianças vão olhar isso?

Primeiro que nós devemos "exalar” por todos os nossos poros que somos DE JESUS. E Jesus é aquele que veio para os pobres, os oprimidos, os ladrões, as prostitutas, os "excluídos". Que visão de Jesus estaremos espalhando por aí se dissermos que ELE jamais aceitaria os homossexuais? Que visão intolerante do que é “diferente” estaríamos propagando? E a realidade é que existem muito mais casos de homossexualismo por aí, do que a gente pensa... 

Sobre o que sei do homossexualismo e como a gente trata do assunto com os adolescentes, a orientação é de que devemos ensiná-los a "respeitar" as pessoas. Não tratá-las como párias da sociedade e afastá-las definitivamente da Igreja e de Deus. Inclusive podemos encontrar essa orientação no Catecismo da Igreja Católica, itens 2357 a 2359. A Igreja diz que o homossexualismo vai contra a ordem natural da criação, mas pede que se aceite as pessoas. Condena os atos sexuais mas orienta a aceitar as pessoas e ajudá-las numa vida casta e de oração. A questão na Igreja Católica ainda traz muitas controvérsias. 

O que eu faria, como catequista, se me aparece um catequizando filho de dois pais sem nenhuma mãe? Ou de duas mães, sem pai? Eu aceitaria sem reservas e ia trabalhar o grupo para também aceitar. E ajudá-lo no que fosse possível a aceitar-se também, dentro da realidade em que vive. Acredito que se ele tiver amor verdadeiro dos pais (ou das mães), não terá dificuldades para enfrentar as incompreensões que possam vir.

O fato é que, como Igreja, devemos nos abrir para não julgar, respeitar as diferenças e as escolhas de cada um. O Papa Francisco é considerado progressista dentro da Igreja Católica e em 2013 numa entrevista disse: "Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?". Em 18 dezembro de 2023 o Papa Francisco editou um documento que autoriza a concessão de bênçãos a casais homoafetivos. A decisão é um marco histórico da Igreja Católica, que busca aproximação com a defesa dos direitos humanos e com a comunidade LGBTQIAP+.

“Ternura, por favor, ternura, como Deus tem com cada um de nós.”
(Papa Francisco)

Ângela Rocha
Catequista 
Graduada em teologia pela PUCR



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