A catequese conduz o batizado à participação plena, ativa e frutuosa na liturgia. Ajudar o catequizando a fazer a experiência dos símbolos e gestos celebrados faz parte de uma educação que leva-o a experimentar os sinais tão simples e tão humanos da liturgia não apenas como elementos deste mundo, mas, aos olhos da fé, também como realidades divinas.
Como já ocorria nos primórdios da
Igreja, a catequese deve tornar-se um caminho que introduza o cristão na vida
litúrgica, ou melhor, no mistério de Cristo, “procedendo do visível ao
invisível, do sinal ao significado, dos sacramentos aos mistérios”[1], sempre com o mesmo
objetivo de levar à vivência da fé. “A liturgia, com seu conjunto de sinais,
palavras, ritos, em seus diversos significados, requer da catequese uma
iniciação gradativa e perseverante para ser compreendida e vivenciada”[2].
A mistagogia é a arte de
iniciação no mistério da Páscoa de Cristo, da qual ganha sentido todos os atos
salvadores da vida e que são atualizados na celebração da liturgia de acordo
com o sinal empregado. Mistagogia significa “ser introduzido no mistério”, no
plano de Deus de salvar o mundo em Cristo (cf. Ef 1, 3-13). Este é o grande
mistério: o Pai amou tanto o mundo que nos enviou o seu único Filho para nos
salvar. Por sua vez, Cristo nos ama até o fim. O Pai o ressuscita e em Cristo
alcançamos a vida eterna.
Mistério é sempre uma revelação
por parte de Deus de algo conhecido só por ele. Por exemplo, proclamando o
Batismo, Deus evidencia que nos quer seus filhos, membros de sua família.
Promovendo a Eucaristia, revela-nos que ele mesmo quer ser nosso alimento
espiritual. Há que passar do pobre sinal visível do sacramento ao mistério de
graça.
Começar a ver
Ter fé é decisivo para acolher a
graça que os sacramentos oferecem. A luz da fé faz enxergar a ação salvadora de
Deus. Assim, o simples banho batismal passa a ser a imagem da morte e
ressurreição de Jesus.
Passamos dos sacramentos aos
mistérios, ou seja, partimos do visível para o invisível, do sinal sacramental:
água, luz, pão e vinho para o mistério da salvação: água viva, luz do mundo,
pão do céu, enfim, para a vida eterna.[3]
Efetivamente, o rito visto
somente de fora não oferece automaticamente o significado de que é portador.
Esse significado deve ser descoberto, revelado pela Palavra, pela catequese.
Mais ainda, deve ser professado pela fé.
Quatro passos
É necessário ajudar o
catequizando a entrar num mundo coerente de Sinais pessoais e vivos. É preciso
que redescubra o universo simbólico em que se move a liturgia. Não se trata de
explicar, mas de colocar o objeto ou a ação simbólica num determinado contexto
humano, bíblico e celebrativo, de modo que possa aprender e viver o seu
significado.
Cremos que o catequizando, ao
vivenciar ritualmente os símbolos mais frequentes na liturgia no pequeno grupo,
liderado pelo testemunho do catequista, descobrirá a vitalidade do rito, como
experiência atual da graça do Senhor que vem ao seu encontro. Posteriormente,
ao participar da liturgia na comunidade reunida, esse mesmo catequizando terá
desenvolvido suficientes referências para integrar-se no corpo da assembleia e
participar ativa, consciente e frutuosamente.
Identificamos quatro passos, e
cada um deles oferece uma gama de sentidos que, conjuntamente somados, nos
revelam a passagem de Deus em nossa vida. Assim como acontece quando subimos os
degraus de uma escada, o significado do símbolo vai se concretizando passo a
passo, daquilo que ele mostra aos nossos sentidos até chegar ao seu significado
final, que só alcançamos com a fé.
Esses simples sinais tornam-se
símbolos carregados da graça transformadora do Espírito que gera a vida nova,
prenúncio da plenitude da Jerusalém Celeste.
1º passo: sentido cotidiano
Se ficarmos atentos, em nosso dia
a dia, vemos gestos, palavras e imagens grandiosas que revelam ternura,
compaixão, solidariedade e conforto. Costumamos dizer: um gesto vale mais
que mil palavras. É mais natural partir daquilo que conhecemos para
acrescentarmos outros significados ao gesto. Há que mostrar o enraizamento dos
elementos e dos gestos em nossa cultura.
2º passo: sentido bíblico
Com a ajuda de textos bíblicos,
há que apresentar a realidade que os elementos e os gestos possuem segundo a
história da salvação. Como eles se apresentam no Antigo Testamento e como
recebem sua plenitude de significado na pessoa de Jesus Cristo. Podemos dizer
que essa interação entre tipos bíblicos e mistério cristão, entre promessa e
cumprimento, é o coração do memorial que se realiza na celebração litúrgica.
3º passo: sentido litúrgico
A encíclica O sacramento da
caridade revela este passo: “Há de preocupar-se por introduzir o sentido
dos sinais contidos nos ritos; essa tarefa é urgente numa época acentuadamente
tecnológica como a atual, que corre o risco de perder a capacidade de perceber
os sinais e os símbolos. Mais do que informar, a catequese mistagógica deverá
despertar e educar a sensibilidade dos fiéis para a linguagem dos sinais e dos
gestos que, unidos à palavra, constituem o rito”.[4]
4º passo: compromisso cristão
Quando respondemos sim ao apelo
de Deus para a nossa vida, tudo se modifica. Compreendemos que ele tem a
primazia sobre nossas escolhas e sua vontade passa a ser a fonte da realização
humana. Nada mais estranho ao espírito do cristianismo primitivo que uma
concepção mágica da ação sacramental. A conversão sincera e total é condição
indispensável para a recepção do sacramento.
FONTE: Núcleo de Catequese
Paulinas (NUCAP)

[1]
Catecismo da Igreja Católica, n. 1075.
[2]
CNBB. Diretório nacional de catequese. São Paulo: Paulinas, 2006. n. 120
(Documento da CNBB, n. 84).
[3]
Cf. LELO, A. F. Mistagogia: participação no mistério da fé. Revista
Eclesiática Brasileira. n.257., PP. 64 -81, jan. 2005
[4]
BENTO XVI. Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, sobre
a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. São Paulo: Paulinas,
2007. n. 64.
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