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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

MISTAGOGIA – DO VISÍVEL AO INVISÍVEL

A catequese conduz o batizado à participação plena, ativa e frutuosa na liturgia. Ajudar o catequizando a fazer a experiência dos símbolos e gestos celebrados faz parte de uma educação que leva-o a experimentar os sinais tão simples e tão humanos da liturgia não apenas como elementos deste mundo, mas, aos olhos da fé, também como realidades divinas.

Como já ocorria nos primórdios da Igreja, a catequese deve tornar-se um caminho que introduza o cristão na vida litúrgica, ou melhor, no mistério de Cristo, “procedendo do visível ao invisível, do sinal ao significado, dos sacramentos aos mistérios[1], sempre com o mesmo objetivo de levar à vivência da fé. “A liturgia, com seu conjunto de sinais, palavras, ritos, em seus diversos significados, requer da catequese uma iniciação gradativa e perseverante para ser compreendida e vivenciada[2].

A mistagogia é a arte de iniciação no mistério da Páscoa de Cristo, da qual ganha sentido todos os atos salvadores da vida e que são atualizados na celebração da liturgia de acordo com o sinal empregado. Mistagogia significa “ser introduzido no mistério”, no plano de Deus de salvar o mundo em Cristo (cf. Ef 1, 3-13). Este é o grande mistério: o Pai amou tanto o mundo que nos enviou o seu único Filho para nos salvar. Por sua vez, Cristo nos ama até o fim. O Pai o ressuscita e em Cristo alcançamos a vida eterna.

Mistério é sempre uma revelação por parte de Deus de algo conhecido só por ele. Por exemplo, proclamando o Batismo, Deus evidencia que nos quer seus filhos, membros de sua família. Promovendo a Eucaristia, revela-nos que ele mesmo quer ser nosso alimento espiritual. Há que passar do pobre sinal visível do sacramento ao mistério de graça.

Começar a ver

Ter fé é decisivo para acolher a graça que os sacramentos oferecem. A luz da fé faz enxergar a ação salvadora de Deus. Assim, o simples banho batismal passa a ser a imagem da morte e ressurreição de Jesus.

Passamos dos sacramentos aos mistérios, ou seja, partimos do visível para o invisível, do sinal sacramental: água, luz, pão e vinho para o mistério da salvação: água viva, luz do mundo, pão do céu, enfim, para a vida eterna.[3]

Efetivamente, o rito visto somente de fora não oferece automaticamente o significado de que é portador. Esse significado deve ser descoberto, revelado pela Palavra, pela catequese. Mais ainda, deve ser professado pela fé.

Quatro passos

É necessário ajudar o catequizando a entrar num mundo coerente de Sinais pessoais e vivos. É preciso que redescubra o universo simbólico em que se move a liturgia. Não se trata de explicar, mas de colocar o objeto ou a ação simbólica num determinado contexto humano, bíblico e celebrativo, de modo que possa aprender e viver o seu significado.

Cremos que o catequizando, ao vivenciar ritualmente os símbolos mais frequentes na liturgia no pequeno grupo, liderado pelo testemunho do catequista, descobrirá a vitalidade do rito, como experiência atual da graça do Senhor que vem ao seu encontro. Posteriormente, ao participar da liturgia na comunidade reunida, esse mesmo catequizando terá desenvolvido suficientes referências para integrar-se no corpo da assembleia e participar ativa, consciente e frutuosamente.

Identificamos quatro passos, e cada um deles oferece uma gama de sentidos que, conjuntamente somados, nos revelam a passagem de Deus em nossa vida. Assim como acontece quando subimos os degraus de uma escada, o significado do símbolo vai se concretizando passo a passo, daquilo que ele mostra aos nossos sentidos até chegar ao seu significado final, que só alcançamos com a fé.

Esses simples sinais tornam-se símbolos carregados da graça transformadora do Espírito que gera a vida nova, prenúncio da plenitude da Jerusalém Celeste.

1º passo: sentido cotidiano

Se ficarmos atentos, em nosso dia a dia, vemos gestos, palavras e imagens grandiosas que revelam ternura, compaixão, solidariedade e conforto. Costumamos dizer: um gesto vale mais que mil palavras. É mais natural partir daquilo que conhecemos para acrescentarmos outros significados ao gesto. Há que mostrar o enraizamento dos elementos e dos gestos em nossa cultura.

2º passo: sentido bíblico

Com a ajuda de textos bíblicos, há que apresentar a realidade que os elementos e os gestos possuem segundo a história da salvação. Como eles se apresentam no Antigo Testamento e como recebem sua plenitude de significado na pessoa de Jesus Cristo. Podemos dizer que essa interação entre tipos bíblicos e mistério cristão, entre promessa e cumprimento, é o coração do memorial que se realiza na celebração litúrgica.

3º passo: sentido litúrgico

A encíclica O sacramento da caridade revela este passo: “Há de preocupar-se por introduzir o sentido dos sinais contidos nos ritos; essa tarefa é urgente numa época acentuadamente tecnológica como a atual, que corre o risco de perder a capacidade de perceber os sinais e os símbolos. Mais do que informar, a catequese mistagógica deverá despertar e educar a sensibilidade dos fiéis para a linguagem dos sinais e dos gestos que, unidos à palavra, constituem o rito”.[4]

4º passo: compromisso cristão

Quando respondemos sim ao apelo de Deus para a nossa vida, tudo se modifica. Compreendemos que ele tem a primazia sobre nossas escolhas e sua vontade passa a ser a fonte da realização humana. Nada mais estranho ao espírito do cristianismo primitivo que uma concepção mágica da ação sacramental. A conversão sincera e total é condição indispensável para a recepção do sacramento.


FONTE: Núcleo de Catequese Paulinas (NUCAP)


Mistagogia do visível ao invisível faz parte da coleção "Pastoral Litúrgica" das Paulinas. A mistagogia é a arte de sermos iniciados no mistério da Páscoa de Cristo, do qual ganha sentido todos os atos salvadores de sua vida e que são atualizados na celebração da liturgia.


[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 1075.

[2] CNBB. Diretório nacional de catequese. São Paulo: Paulinas, 2006. n. 120 (Documento da CNBB, n. 84).  

[3] Cf. LELO, A. F. Mistagogia: participação no mistério da fé. Revista Eclesiática Brasileira. n.257., PP. 64 -81, jan. 2005

[4] BENTO XVI. Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2007. n. 64.



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