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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

HOMILIA: 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A


A pergunta dos fariseus de herodianos tem o objetivo de pegar Jesus em uma armadilha: se Jesus fizesse alguma oposição ao imposto, seria acusado de revolucionário contrário ao poder romano; mas se aceitasse o pagamento, estaria contra o povo. Jesus procura mostrar que seu Reino está acima destas questões, o que não significa defender a alienação da realidade política.


Ao pedir uma moeda, Jesus desmascara a hipocrisia dos seus adversários, pois ao portarem a moeda com a imagem do imperador em lugares santos, os judeus revelam a falta do zelo escrupuloso e a  aceitação do sistema econômico vigente. Deste modo, não poderiam criticar qualquer atitude de Jesus.


O que o Senhor nos mostra é que somos adoradores de Deus, portanto não devemos ter outros deuses. Em muitos casos, Deus foi apenas substituído por outros deuses: o dinheiro, o poder, o êxito, a realização profissional, a ascensão social... Muitas coisas tomaram o lugar de Deus e passaram a dirigir e a condicionar a vida das pessoas. A consequência é certa: a frustração e a infelicidade. Certamente continuaremos no mundo do dinheiro, da politica e do trabalho. O que se exige não é fugir do mundo, mas  fazer uso das estruturas do mundo com discernimento. O próprio não é ruim em si mesmo, depende do que fazemos com ele. Certamente, não podemos esquecer que as estruturas geram injustiças, e devemos ter consciência de que muitos esquemas humanos geram escravidão. Enfim, o questionamento que brota do Evangelho é este: existem outros deuses que tomam posse da minha vida e condicionam minhas opções e interesses?


Lutar contra a idolatria é mais do que dizer adorador de um púnico Deus. Depende das escolhas e projetos da vida pessoal. Depende do uso das instituições, dos “poderes”, dos bens materiais. De a César o que  é de César, mas não deixe que nenhum poder de instituição humana ocupe o lugar do verdadeiro Deus de amor, liberdade e justiça.


Na história da humanidade, muitos casamentos espúrios entre o poder temporal e o poder religioso. Não raras vezes, a religião foi instrumentalizada a favor dos monarcas e ainda hoje, a favor de políticos corruptos que pensam somente em seus interesses. O Evangelho de hoje, é uma oportunidade de refletirmos sobre a nossa consciência política e sobre o modo como Deus pode ser manipulado em favor de interesses egoístas.


Na segunda leitura, São Paulo dá graças pela comunidade Tessalônica e ora por ela. Facilmente preferimos pedir coisas, soluções para os  problemas, ou reclamamos das amarguras da vida. Se olharmos a vida com os olhos da gratidão, poderemos mais facilmente encher o coração de bondade, deixando o amor divino brotar, pois veremos que a vida é uma grande benção. Assim, é preciso saber olhar para a vida e agradecer por muitos motivos. A gratidão torna-se mais que uma oração e passa a ser uma dinâmica da vida: viver agradecendo, viver a vida como um dom. Mesmo as coisas tristes do caminho são dignas de agradecimento, pois podem ser oportunidades de crescimento.


Tessalônica era uma comunidade que floresceu ao ouvir o apelo de Deus.Com três meses de pregação, Paulo fez nascer uma fé entusiasmada.  O apóstolo insiste na eleição divina, pois a comunidade é escolhida por Deus. Nós diferente dos tessalonissences, estamos na igreja há muito mais tempo, mas nem sempre mantemos a alegria pela eleição divina e a gratidão pelos inúmeros benefícios que o Senhor nos concedeu. O tempo pode nos tornar duros de coração, insensíveis a Boa Nova do Evangelho.. A fé pode tornar-se burocrática, fria e sem vida. Hoje o Senhor nos convida a olharmos além das moedas do Templo, ou seja, além das normas e das estruturas humanas. É preciso olhar para a beleza da vida ao redor e para o tesouro que reside no interior de nossos corações. Daí brota a gratidão e o compromisso com o Reino sonhado pelo Pai, revelado no Filho e atualizado pela ação do Espírito.  

Pe. Roberto Nentwig




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