A pergunta dos fariseus de
herodianos tem o objetivo de pegar Jesus em uma armadilha: se Jesus fizesse
alguma oposição ao imposto, seria acusado de revolucionário contrário ao poder romano;
mas se aceitasse o pagamento, estaria contra o povo. Jesus procura mostrar que
seu Reino está acima destas questões, o que não significa defender a alienação
da realidade política.
Ao pedir uma moeda, Jesus
desmascara a hipocrisia dos seus adversários, pois ao portarem a moeda com a
imagem do imperador em lugares santos, os judeus revelam a falta do zelo
escrupuloso e a aceitação do sistema
econômico vigente. Deste modo, não poderiam criticar qualquer atitude de Jesus.
O que o Senhor nos mostra é
que somos adoradores de Deus, portanto não devemos ter outros deuses. Em muitos
casos, Deus foi apenas substituído por outros deuses: o dinheiro, o poder, o
êxito, a realização profissional, a ascensão social... Muitas coisas tomaram o
lugar de Deus e passaram a dirigir e a condicionar a vida das pessoas. A
consequência é certa: a frustração e a infelicidade. Certamente continuaremos
no mundo do dinheiro, da politica e do trabalho. O que se exige não é fugir do
mundo, mas fazer uso das estruturas do
mundo com discernimento. O próprio não é ruim em si mesmo, depende do que
fazemos com ele. Certamente, não podemos esquecer que as estruturas geram
injustiças, e devemos ter consciência de que muitos esquemas humanos geram
escravidão. Enfim, o questionamento que brota do Evangelho é este: existem outros
deuses que tomam posse da minha vida e condicionam minhas opções e interesses?
Lutar contra a idolatria é
mais do que dizer adorador de um púnico Deus. Depende das escolhas e projetos
da vida pessoal. Depende do uso das instituições, dos “poderes”, dos bens
materiais. De a César o que é de César,
mas não deixe que nenhum poder de instituição humana ocupe o lugar do
verdadeiro Deus de amor, liberdade e justiça.
Na história da humanidade,
muitos casamentos espúrios entre o poder temporal e o poder religioso. Não
raras vezes, a religião foi instrumentalizada a favor dos monarcas e ainda hoje,
a favor de políticos corruptos que pensam somente em seus interesses. O Evangelho
de hoje, é uma oportunidade de refletirmos sobre a nossa consciência política e
sobre o modo como Deus pode ser manipulado em favor de interesses egoístas.
Na segunda leitura, São
Paulo dá graças pela comunidade Tessalônica e ora por ela. Facilmente
preferimos pedir coisas, soluções para os problemas, ou reclamamos das amarguras da
vida. Se olharmos a vida com os olhos da gratidão, poderemos mais facilmente
encher o coração de bondade, deixando o amor divino brotar, pois veremos que a
vida é uma grande benção. Assim, é preciso saber olhar para a vida e agradecer
por muitos motivos. A gratidão torna-se mais que uma oração e passa a ser uma
dinâmica da vida: viver agradecendo, viver a vida como um dom. Mesmo as coisas
tristes do caminho são dignas de agradecimento, pois podem ser oportunidades de
crescimento.
Tessalônica era uma comunidade
que floresceu ao ouvir o apelo de Deus.Com três meses de pregação, Paulo fez
nascer uma fé entusiasmada. O apóstolo
insiste na eleição divina, pois a comunidade é escolhida por Deus. Nós diferente
dos tessalonissences, estamos na igreja há muito mais tempo, mas nem sempre
mantemos a alegria pela eleição divina e a gratidão pelos inúmeros benefícios
que o Senhor nos concedeu. O tempo pode nos tornar duros de coração,
insensíveis a Boa Nova do Evangelho.. A fé pode tornar-se burocrática, fria e
sem vida. Hoje o Senhor nos convida a olharmos além das moedas do Templo, ou
seja, além das normas e das estruturas humanas. É preciso olhar para a beleza
da vida ao redor e para o tesouro que reside no interior de nossos corações.
Daí brota a gratidão e o compromisso com o Reino sonhado pelo Pai, revelado no
Filho e atualizado pela ação do Espírito.
Pe. Roberto Nentwig
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