A Igreja brasileira ganhará 30
novos santos neste domingo, 15 de outubro. Aumenta a cada hora a expectativa
pela cerimônia de canonização, presidida pelo Papa, que deve reunir
dezenas de milhares de fiéis na Praça São Pedro.
Além dos mártires de Cunhaú e
Uruaçu, também serão canonizados na mesma data Cristóbal, Antonio e Juan,
mortos por ódio à fé em 1527 e 1529, e considerados os Protomártires do
México e de todo o continente americano; o sacerdote espanhol Faustino Míguez,
fundador do Instituto Calasanzio e o Frade Menor Capuchinho italiano Angelo
d’Acri.
Segundo o Pe. Júlio Cesar,
vice-postulador da causa dos novos santos brasileiros: “Os mártires nos trazem
uma mensagem de ‘ir ao encontro’: eles não ficaram esperando, não buscaram uma
maneira de renegar, ou de salvar suas vidas, mas se doaram, se entregaram. Este
é o grande convite para a Igreja de hoje, precisamos redescobrir a força de
‘doar-se pelo outro’. É muito bonita a expressão do Papa Francisco ‘abram as
portas da Igreja para Jesus sair’. A Teologia do Martírio é cada vez mais
necessária no mundo de hoje, cada vez mais acomodado, que busca seus próprios
interesses, onde cada um quer construir uma Igreja que atenda às suas próprias
necessidades, nós somos chamados a entender que ser cristãos é também
renunciar, é mudar o nosso estilo de vida, ir em busca dos mais necessitados,
dos excluídos, dos sofredores, mesmo que isso nos custe”.
Delegações de peregrinos,
políticos e da Igreja brasileira também vão participar da missa, presidida
pelo Papa Francisco às 10h horário local, com transmissão ao vivo para todo o
Brasil a partir das 6h de Brasília.
Quem são os novos santos
Os ‘protomártires do Brasil’
foram assassinados entre julho e outubro de 1645 por soldados holandeses
calvinistas nos chamados Massacres de Cunhaú e Uruaçu, as atuais
cidades de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante, ambas no Rio Grande do
Norte.
Beatificados pelo Papa João Paulo
II em março de 2000 na Basílica de São Pedro, chegam agora à canonização, podendo
ser honrados nos altares de todo o mundo como santos.
Dom Jaime Vieira Rocha, Arcebispo
de Natal, afirma que este momento de mistério e benção para o povo brasileiro
deve ser ocasião de recomeço e de renovação do entusiasmo de ser cristãos
“Que a sociedade brasileira,
interiorizando esta graça, desperte para a responsabilização de cada um, de
nossos irmãos e de nosso país, em vista de um comprometimento ainda maior. Que
seja um ponto de partida para todos”.
Fonte: http://br.radiovaticana.va
OS MASSACRES DE CUNHAÚ E URUAÇU
Católicos do Rio Grande do Norte recordam, no dia
03 de outubro, data em que é feriado no Rio grande do Norte, o massacre dos
Mártires de Cunhaú e Uruaçu, mortos por holandeses no ano de 1645, por não
aceitarem a imposição militar, cultural e da religião protestante calvinista,
se tornando um momento ímpar da história do Rio Grande do Norte, de
resistência, fé e de defesa dos princípios de liberdade.
Os episódios dos massacres de Cunhaú e Uruaçu
ocorrem em meio a uma crise no mercado do açúcar, e ao levante de colonos
portugueses e brasileiros contra o domínio holandês. Após tomarem a Fortaleza
dos Reis Magos, em 1633, os holandeses passaram a chamar Natal de "Nova
Amsterdã” e a Fortaleza de “Castelo Keulen”. O deslocamento das forças seguiu
devastadora para o interior do estado.
Jacob Rabbi era o comandante da tropa de tapuias,
potiguares e holandeses, inicialmente apontado como intérprete entre os
holandeses e os tapuias. Rabbi era alemão, natural do condado de Waldeck,
emigrou para a Holanda onde foi contratado pela Companhia das Índias Ocidentais
Holandesas. Quando veio para o Brasil permaneceu durante quatro anos vivendo
entre os indígenas e assimilou os costumes nativos, num verdadeiro processo
“indianização”. Ele vivia com uma nativa Janduí de nome Domingas, num sítio de
sua propriedade, chamado "Ceará".
Ele é considerado, pelos historiadores, como uma
das figuras mais sinistra, abominável e hedionda do domínio holandês no
Nordeste do Brasil. No comando das tropas de janduís e potiguares, Rabbi foi
responsável por vários saques e chacinas em engenhos, entre as capitanias do
Rio Grande, Paraíba e Pernambuco.
O MASSACRE DE CUNHAÚ
Jacob Rabbi e um grupo de índios janduís e potiguares, além de soldados holandeses, chegaram ao engenho Cunhaú, atual município de Canguaretama, em 15 de julho de 1645. Ele se apresentou como emissário do Supremo Conselho Holandês de Recife e convocou a população para uma reunião, após a missa do dia seguinte, dia 16, um domingo, na capela de Nossa Senhora das Candeias.
Os historiadores estimam que cerca de 70 fiéis
estavam presentes no lugar, cumprindo apenas o preceito religioso, não portando
armas. Durante a celebração, após a elevação da hóstia, os soldados holandeses
trancaram todas as portas da igreja. A um sinal de Rabbi, os índios invadiram o
local e chacinaram os colonos.
Relatos posteriores, alguns deles de emissários do
governo holandês que investigaram o episódio, descrevem cenas de violência,
atrocidades e requintes de crueldade contra os fiéis. Desarmados, os colonos
não tinham como resistir e se resignaram à morte. Atendendo a exortação do
padre André de Soveral, que celebrava a missa, muito foram executados em meio
as orações. O próprio padre foi morto a punhaladas.
MASSACRE DE URUAÇU
Três meses depois da tragédia de Cunhaú, no dia 03
de outubro, aconteceu o martírio de mais 80 pessoas, na Comunidade de Uruaçu,
em São Gonçalo do Amarante, também sob o comando de Rabbi, ajudado pelo chefe
da tribo potiguar Antônio Paraopaba, “educado” pelos holandeses.
Depois do massacre em Cunhaú alguns moradores
influentes, liderados pelo padre Ambrósio Ferro, que exercia as funções de
vigário de Natal, pediram abrigo no Castelo Keulen, nome dado a Fortaleza dos
Três Reis Magos, em Natal. Os que não foram, construíram uma paliçada para
proteger a localidade conhecida como Potengi. O número de moradores refugiados
na paliçada é incerto. Para os cronistas portugueses eram 70 homens, mas
documentos holandeses citam 232 pessoas.
Pesquisas em documentos holandeses e portugueses
mostram que o cerco a paliçada do Potengi durou 16 dias. Foi iniciada em
setembro pelo grupo de Jacob Rabbi e, depois, contou com reforços enviados pelo
Castelo de Ceulen, incluindo duas peças de artilharia. O bombardeio forçou a
rendição dos luso-brasileiros.
Ocupada a paliçada do Potengi, os holandeses
levaram cinco reféns para o Castelo de Keulen. Os demais colonos ficaram
confinados na paliçada. No dia 2 de outubro chegou a ordem do conselho holandês
para executar os principais líderes dos colonos, desestimulando a revolta em
terras do Rio Grande.
Não há comprovação dessa ordem, mas o fato é que no
dia seguinte, 03 de outubro de 1645, foram levados para Uruaçu: Antônio Vilela,
Cid, seu filho, Antônio Vilela Júnior, João Lostau Navarro, Francisco de
Bastos, José do Porto, Diogo Pereira, Estevão Machado de Miranda, Francisco
Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira, Simão Correia e o
próprio padre Ambrósio Francisco Ferro, e foram todos executados.
Os relatos citam que ao chegar em Uruaçu, a tropa
formou um quadrado e, no interior ficaram o sacerdote mais os colonos. Foi dada
a ordem para que eles se despissem e se ajoelhassem. Jacob Rabbi chamou os
nativos para que eles completassem o massacre. A crueldade foi ainda maior,
braços e pernas foram decepadas, crianças foram partidas ao meio e grande parte
dos corpos foram degolados. Entre os mortos estavam o padre Ambrósio
Francisco Ferro e o leigo Mateus Moreira (proclamado pela CNBB como patrono dos
ministros extraordinários da comunhão eucarística do Brasil), o qual, ao ter o
coração arrancado pelas costas, proclamou: “Louvado seja o santíssimo
Sacramento”.
À morte deles, segue-se a chacina dos que estavam
refugiados em Potengi, depois de terem sido retirados da paliçada e levados
para o mesmo porto.
RELIGIOSIDADE
Em reconhecimento ao feito dos Mártires de Uruaçu, em 16 de junho de 1989 o processo de beatificação foi concedido pela Santa Sé. Em 21 de dezembro de 1998 o papa João II assinou o decreto reconhecendo o martírio de 30 brasileiros, sendo dois sacerdotes e 28 leigos. Em março de 2000, o papa João Paulo II beatificou os mártires de Cunhaú e Uruaçu como exemplos de fé cristã e defensores da Igreja Católica.
No dia 20 de abril deste ano, em consistório, o
Papa Francisco anunciou a canonização deles para o dia 15 de outubro de 2017.
Fonte: Arquidiocese de Natal - RN
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