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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A COMUNICAÇÃO ECLESIAL EM ANO DE ELEIÇÕES

Imagem: TSE.
2018 começou quente no Brasil. O debate político deve se acirrar cada vez mais até o pleito eleitoral. Vivemos tempos difíceis e obscuros, com pouca clareza da realidade. Difícil, diria quase impossível, ousar dizer quem está certo ou errado no tabuleiro político. Já fiz; hoje não faço mais isso.

Neste ambiente hostil, estamos nós, cristãos, com as nossas diferentes opiniões sobre o tema permeando os espaços eclesiais.

Nas eleições de 2014, você leitor deve se recordar quantas comunidades se dividiram naquela que foi uma verdadeira guerra de palavras. Amizades de anos foram desfeitas, parentes romperam relacionamentos e, na Igreja, há uma série de exemplos de paróquias que se enfraqueceram por causa das rupturas provocadas pela falta de respeito no debate político.

Este ano, o caos comunicacional já se repete. Quantas famílias, grupos, se dividindo novamente pelo mesmo motivo. Palavras de baixo calão são elogios, perto do que estamos vendo por aí.

No campo eclesial, a crise de comunicação se agrava quando um padre, por exemplo, emite sua opinião partidária. A divisão é imediata. Recordando que os leigos devem estar na vida política, como já afirmaram vários papas e documentos da Igreja, pergunto: É possível evitar divisões na Igreja por causa da política? Sim, é; mas é desafiador, ainda mais em tempos de redes sociais.

Faz parte do processo democrático a pluralidade de opiniões. O padre tem uma opinião, o bispo tem outra, o diácono difere, o leigo tal pensa de um jeito, a liderança tal pensa de outro, aquela outra pessoa talvez não queira pensar, etc. É um mundo de opiniões. Cada um quer ter razão e tem o direito de ter e expressar a sua. Mas como podemos usar a comunicação para que as comunidades cresçam ao invés de se dividirem neste momento tão importante para o país?

Antes das redes sociais, nossas opiniões ficavam restritas às nossas comunidades. Nossos espaços de verbalização eram físicos, conhecidos e restritos.

Hoje, não mais. Tudo é ampliado de uma maneira global em poucos segundos. O fiel questiona o post do padre. Ninguém mais aceita passivamente qualquer discurso.

O que você escreve, fica para a eternidade na rede. Pode até tentar apagar seu vídeo, mas ele já foi compartilhado imediatamente após ser postado. Depois publicada, nossa opinião se alastra e deixa rastros e pode deixar grandes feridas.
Vale a pena? Qual é o critério para eu falar o que penso?

Vai ajudar o debate político? Vai resolver? Preciso ofender pessoas, citar nomes? E se eu generalizar, não corro o risco de ampliar erro? São perguntas que devemos fazer antes de escrever ou falar algo pessoalmente ou nas redes sociais.

Vale lembrar que o impacto das nossas opiniões aumenta consideravelmente a partir de quem fala. Se o padre fala, o padre será cobrado como padre e não apenas como cidadão. Se a secretária da paróquia fala, o mesmo ocorre. “A secretária do padre disse que vai votar em fulano”. “O padre pediu para não votar em beltrano”. “O coordenador da pastoral x pediu para eu votar em cicrano”. Imaginem a confusão que isso pode dar.

O engajamento dos cristãos na política não quer dizer que temos e podemos aparelhar as estruturas eclesiais para benefício deste ou daquele candidato. A comunicação política deve ser feita pelo nosso testemunho diário, não pelo aparelhamento. O voto é o nosso mais eficaz instrumento de mudança.

Sem perder seu profetismo, a Igreja pode muito bem colaborar com o processo político de uma forma articulada e sem dividir seu rebanho. O comunicador católico tem a missão de agregar, não dividir; de arrebanhar, não dispersar.

Que o Espírito Santo nos ilumine e nos oriente para que possamos colaborar com a conversão política do nosso país, respeitando quem pensa diferente da gente. Depois de ir às urnas, você vai voltar à sua comunidade. E espero que volte em paz e de bem com os seus.

Everton Barbosa - Jornalista e palestrante.
Trabalha como assessor de imprensa da Arquidiocese de Maringá - PR





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