Nós reclamamos da família dos
catequizandos, mas não temos nenhuma ação concreta para inseri-los na
catequese. E o grande problema é que muitas vezes, nem mesmo inseridos na
comunidade eles estão. Limitam-se tão somente a vir a algumas celebrações de
missa. Isso quando vêm.
Que os primeiros catequistas são
os pais, nós já sabemos e reiteramos inúmeras vezes nas oportunidades em que
eles nos dão. Mas, os pais estão sabendo “catequizar” os filhos? Eles foram
catequizados? Ou são apenas cristãos batizados que tiveram apenas rudimentos de
uma catequese voltada exclusivamente para os sacramentos da eucaristia e da
crisma? Nossos pais têm vivência de fé para passar para os filhos? É fato que
não posso dar aquilo que não tenho. Não estamos exigindo algo além da
capacidade da família?
Pouco ou nada nos preocupamos com
a catequese de adultos. Acreditamos que se a pessoa é batizada, fez a
preparação para a primeira eucaristia e a crisma, está iniciado na fé.
Vivenciamos experiências na catequese que se a gente contar, ninguém acredita.
Encontramos numa mesma família, várias religiões, pai de uma religião, mãe de
outra, avós católicos, pais evangélicos e católicos sem qualquer tipo de
instrução na fé.
São inúmeros os depoimentos de
crianças e jovens que nos dizem: “Minha mãe
vem à missa, meu pai, não.” Ou vice versa. Temos várias crianças na
catequese que estão lá por influência dos avós. Que exemplo de fé é esse? Que
espécie de educação é essa em que os pais querem que os filhos façam o que eles
não querem fazer? Ouvi uma mãe me dizer que acha um absurdo nós “exigirmos” que
os pais também se confessem antes da cerimônia da Primeira Eucaristia. O marido
dela estava injuriado: “Onde já se viu?
Eu contar meus pecados pra um homem como eu?”. Perguntei se ele era
católico. Sim, é católico. Que espécie de católico é esse? Quer que o filho
faça algo que ele se recusa a fazer! E nós catequistas, marretando na cabecinha
dele tudo que ele deve fazer para ser um bom cristão e católico. Imagine como
fica a cabeça de uma criança vivendo situações como essa.
Nós precisamos tomar atitudes
concretas. Precisamos iniciar uma “revolução” na catequese. Precisamos trazer
os pais para a fé. Precisamos fazer catequese com eles sim! Não vamos chegar a
lugar algum se não fizermos isso. E eles estão sedentos disso, podem ter
certeza. E uma ação concreta que se pode fazer, é promover os tão falados "retiros", que se faz antes da Primeira Eucaristia, também com os pais.
Experiências de Retiro com Catequizandos e Pais
Começamos pensando numa espécie
de “retiro espiritual” com as crianças um pouco antes da Primeira Eucaristia.
Normalmente à noite, a luz de velas, com memória da última ceia e lava-pés.
Fizemos isso num ano. No entanto, para as crianças, não acredito que tenha sido
muito “espiritual”. Eles não têm, aos dez, onze anos, maturidade para tanto. Os
pais que puderam assistir um pouco comentaram que deveríamos fazer o evento com
a família.
No ano seguinte, fizemos um
retiro de dia inteiro com as crianças no meio do ano. Com almoço, lanche,
missa. Para ser bem franca, aquilo se mostrou algo tremendamente aborrecido
para as crianças e um pesadelo para as catequistas. O local foi inadequado, as
crianças não gostaram. Enfim, uma trabalheira danada para nada. No final do ano
foi feito o retiro à noite, na sexta anterior a Primeira Eucaristia. Novamente não deu certo. Mesmo dividindo em duas turmas, fazer oitenta crianças ficarem
quietas, a luz de velas, fazendo oração, mostrou-se algo desgastante e
infrutífero. Sem contar que estávamos querendo que as crianças vivessem a
“Eucaristia” (partilha do pão e do vinho), “antes” da Primeira Eucaristia.
Finalmente, o grupo de
catequistas do terceiro ano, resolveu mudar um pouco as coisas. O “retiro” com
as crianças, foi feito fora da Igreja, num local agradável, com espaço e verde
para as crianças brincarem. E as crianças foram lá para fazer aquilo que elas
mais gostam: brincar. E brincaram de bola, de corrida do saco, de cabo de
guerra. E, de Gincana Bíblica. Mas, o mais importante: O retiro foi feito para
as FAMÍLIAS. Convidamos a todos, pais, avós, irmãos, tios, primos, amigos, quem
quisesse ir. Cobramos uma taxa para cobrir as despesas do almoço e do lanche da
tarde e pedimos aos pais para levar os refrigerantes.
Começamos às 11 horas, com
acolhida às famílias. Nossa coordenadora deu as boas vindas a todos, fizemos
oração para um bom dia e partilhamos um almoço simples e gostoso. Após o almoço
convidamos a todos para se dividirem em grupo e iniciamos nossa gincana. Foi
muito divertido! Pais, avós, filhos, primos se agitarem e correram em busca de
objetos, procurando versículos na bíblia, respondendo questões sobre fé e
religião. Não teve quem não se divertisse. Às quinze horas, convidamos os
adultos presentes, para se reunirem conosco, enquanto as crianças continuaram a
brincar. Fizemos a proposta de fazer um “encontro de catequese” com eles. Como
os filhos fazem o ano todo. Com um roteiro preparado por Pe. Luiz Baronto, para
catequese com adultos, fizemos a “Ação
de Graças pela Eucaristia”. Absolutamente maravilhoso. Pais choraram dando
depoimentos que nos mostraram o quanto eles carecem de “encontro”, de
“partilha”.
Não foram um nem dois que
disseram que essa iniciativa foi muito boa. Que eles se sentem meio “isolados”,
alheios à comunidade e ao que está acontecendo. E, principalmente, como é
importante fazer oração e partilha em família. Tivemos
duas experiências assim já. Numa tivemos a presença de 80 pessoas, entre pais,
familiares e catequizandos num retiro com almoço. Noutro, tivemos a presença de
60 pessoas, numa tarde maravilhosa com um lanche preparados pelas mães e partilhado
por todos. Claro que não tivemos adesão de cem por cento dos pais, mas aqueles
que estiveram lá, com certeza gostaram e pediram para repetir a experiência.
É possível sim. É mais do que
possível atingir as famílias. Basta que a gente faça um esforço. Que a gente se
disponha a “perder” mais dias na semana para preparar tudo, fazer uma reunião
de planejamento, estar disposto a ficar um domingo com nossos catequizandos e
suas famílias. Nossa família também deve estar lá, pois somos “igreja”, somos
comunidade igualmente.
Tenho uma catequizanda, cujos
pais são separados. Ela foi ao retiro com o pai. Fiquei muito feliz em vê-la. Mas o que me
deixou mais feliz ainda foi o que ela me contou no MSN depois: “Tia, meu pai não queria ir... mas depois me
disse que adorou ter ido.” Ele não é muito participativo na igreja não, mas
foi um dos maiores entusiastas na gincana. Dava pra ver a alegria nos olhos
dele. E deu também pra ver nos olhos marejados dele, na hora da oração, como
nossa partilha tocou-lhe o coração...
Ângela Rocha
Catequista Amadora
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