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domingo, 11 de outubro de 2015

GOTAS DE PAZ - Homilia 10 de outubro 2015.



“Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” Mas, quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.” (Mc 10, 21-22)
    
Creio que todos já escutamos este evangelho que nos fala do homem rico. Ele pergunta a Jesus que deveria fazer para conseguir a vida eterna. Das suas palavras, entendemos que ele era um homem bom e cumpria os mandamentos: não matava, não cometia adultério, não roubava, não dizia coisas falsas de seus irmãos, não era injusto e honrava a seu pai e a sua mãe. Porém, Jesus olhando profundamente e com ternura a sua vida descobriu que tinha ainda uma coisa que não estava bem: era muito apegado a seus bens materiais. Seu coração não era livre. Suas mãos, seus raciocínios, seus afetos, suas preocupações... eram condicionadas pelos bens materiais. Numa palavra: ele era escravo de suas riquezas.

Em verdade este é um tema de fundamental importância em nossa vida espiritual: como nos relacionamos com os bens deste mundo? Este é um problema que somente nós humanos possuímos. Em nós mundo espiritual se toca com o mundo material pois somos as únicas criaturas formadas de corpo e anima.

Através de nós o espírito pode transformar a matéria, pode dispor para o bem, pode fazê-la causa de agregação e de crescimento fraterno, ou pelo contrário, a matéria pode ditar normas ao espírito, pode endurecê-lo e sufocá-lo, pode fazê-lo perder a sensibilidade e a humanidade, pode ser causa de contendas, lutas e divisões.

Isso significa dizer que não pode existir uma autentica espiritualidade que não nos de uma fundamental formação em relação ao nosso comportamento diante dos bens deste mundo. Também Jesus Cristo tem uma palavra para dizer-nos no que diz respeito ao possuir coisas materiais.

Deus não é contrário que o homem use as riquezas deste mundo. Foi Ele quem as fez e as entregou em nossas mãos para que, administrando estes bens, eles pudessem colaborar no progresso da humanidade. O problema está no fato que o ser humano, ferido pelo pecado, só com muita luta consegue proclamar a sua vida a vitória do espírito sobre a carne, pois a sua vontade desordenada de possuir é quase insaciável.
Os bens deste mundo exercem sobre ele uma fatal atração. O desejo de possuir e acumular o faz cego, o faz perder o rumo da sua vida.

Por exemplo: 
- a causa de uma promoção, uma pessoa é capaz de passar em cima de todos, de esquecer até mesmo a melhor amizade, de não levar em conta a palavra empenhada, de desfazer de quem antes o havia ajudado.
- a causa de uma herança : os filhos são capazes de desprezar os pais que lhes deram a vida e com esforço os fizeram crescer; podem odiar-se entre irmãos, cunhados, primos; pode fazer trapaças e enganar até mesmo os que tem o seu mesmo sangue.
- a causa de querer ter dinheiro fácil, uma pessoa é capaz de perder a dignidade, de vender-se, de participar do trafico de drogas, de aceitar coimas, de cair no roubo, de explorar os seus operários, sem se quer perguntar-se se assim não estará destruindo a vida dos outros.

É assim que os bens materiais, que originalmente são um presente de Deus para que possamos viver bem neste mundo, podem transformar-se numa verdadeira desgraça, que descompõe completamente a vida humana. É incrível, mas quanto mais acreditamos que possuímos as coisas, na verdade, tanto mais somos possuídos por elas. É um enganação diabólica: quanto mais possuo, mas quero possuir e tanto mais necessito defender o já que tenho. Crescem as preocupações e o isolamento. Diminui a liberdade e a capacidade de amar e de ser gratuitos. Enfeitiçado pelo dinheiro, o homem se desfigura e em tudo somente se interessa pelo lucro e o ganho. 

É diante desta realidade humana que o evangelho nos desafia a viver a pobreza. A pobreza evangélica é o ideal da vida cristã. Contudo, devemos aclarar que essa pobreza não é viver na miséria. Ser pobre como ideal de vida evangélica é: utilizar os bens materiais, sem a preocupação de acumular, é buscar o conforto e o bem-estar normal para uma vida digna, e o que for a mais, ou o supérfluo doar a quem mais o necessite. Ser pobre no modo evangélico é ter os bens necessários mas sem perder a liberdade, sem ser escravos das coisas. É ser feliz em ter somente o necessário.

Por isso, ser capaz de doar os bens materiais que possuímos, é um sinal claro de nossa liberdade diante de tais bens. Quando estamos apegados as coisas materiais, não podemos encontrar paz na vida, pois somos escravos do que pensamos possuir.
São Francisco de Assis entendeu muito bem este ideal e se propôs de não apropriar-se de nada neste mundo. Tendo necessidade, ele utilizava todas as coisas que estavam ao seu alcance, mas se negava a sentir-se dono delas, se recusava em amarrar o coração em tais coisas, em sentir-se apegado . Foi assim que ele gozou de uma invejada liberdade e foi um homem feliz e realizado.

Ao contrario, do que pensa o mundo, não são as riquezas que podem trazer a felicidade a uma pessoa, mas a pobreza evangélica, isto é, o possuir o normal para uma vida digna, sem avareza, sem apegos e com um coração aberto a caridade.

Infelizmente é muito difícil aceitar isto e conseguir praticá-lo, mas Jesus continua a olhar-nos com carinho e a desafiar-nos com firmeza a dar esse passo na vida.

O Senhor te abençoe e te guarde
O Senhor te faça brilhar o seu rosto e tenha misericórdia de ti.
O Senhor volva seu olhar carinhoso e te de a PAZ.


Frei Mariosvaldo Florentino, Capuchinho.

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