HOMILIA DO 12° DOMINGO DO TEMPO COMUM
A festa
da natividade de João Batista assemelha-se às festas da infância de Jesus. O
espírito é nitidamente “lucano”: evoca a manifestação da graça e bondade de
Deus. O lema é a frase de Zacarias: “João é seu nome” (evangelho). Esta
frase é uma mensagem da gratuidade e bondade de Deus. O próprio nome Yohanan significa
“Deus se mostrou misericordioso”. João é um dom gratuito de Deus. Isto
mostra-se de diversas maneiras: a idade avançada de seus pais, o fato de
ninguém na família se chamar assim, o fato de Deus “soltar a língua” de
Zacarias para que ele possa dizer: “João é seu nome”.
Ora,
quando se trata de Deus, “gratuidade” significa: não ser condicionado por
cálculos humanos. João, criança que encarna a gratuita bondade de Deus,
pertence completamente a Deus. É “profeta do Altíssimo”. Seu modo de viver
lembra Elias, o profeta que vivia no deserto, impelido pelo Espírito. Aliás, em
Lucas o anjo anuncia que João andará no espírito de Elias, o mais típico “homem
de Deus” no A.T.
A pertença a Deus faz de João
uma nova realização do “Servo de Deus” (1ª
leitura), um homem cuja palavra é como uma espada afiada,
incômoda para quem não quer saber de Deus em sua vida. A história de João
prova isso. Hoje agradecemos a Deus um “homem difícil”. Pois são muitas vezes
as pessoas difíceis que mais nos ajudam na vida. Suas palavras incômodas nos
fazem ver com maior clareza nossa situação. Neste sentido, João é uma luz (Is
49,6 fala de “luz das nações”), embora ele não seja a luz definitiva, mas
antes, a testemunha da luz; ou, já que falamos em termos figurativos, ele é
como a lua que desaparece quando cresce a luz do sol.
João
é luz, ou testemunha da luz, sobretudo por ter apontado Cristo no meio da
humanidade. O querigma apostólico, o anúncio de Cristo, começa com João. Para
isso, há uma razão teológica: João encarna, por assim dizer, Elias, que era
esperado voltar antes da “visita” de Deus. Jesus identifica João com Elias. Mas
há também uma razão histórica: Jesus iniciou, de fato, sua pregação do Reino no
ambiente “pré-aquecido” pela pregação do Batista.
Isto
contém uma profunda lição. Mesmo no ponto culminante de seu agir salvífico,
Deus não despreza a preparação humana. Deus não dispensa “o maior dos
profetas”, embora o menor no Reino dos Céus seja maior do que ele. João
encarna, por assim dizer, a plenitude do A.T. e de qualquer outra preparação
para o Evangelho.
À primeira vista, falta na
liturgia de hoje o “Benedictus”, o canto de ação de graças de Zacarias quando
do nascimento de João, cortado fora da perícope evangélica (talvez porque a
liturgia foi composta por monges, que rezam esse cântico cada manhã no divino
ofício e acharam que ele sobrecarregaria a missa). Ora, nada impede de usá-lo
como salmo
responsorial ou como canto da comunhão (que cita um
versículo dele como antífona).
Quanto
à atualidade que vivemos, a presente festa oferece uma ocasião para iluminar os
profetas de hoje, essas pessoas “difíceis”, cujo nascimento foi uma graça que
agradecemos a Deus.
Do
livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Fonte: Franciscanos.org
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