"A Liturgia já tem uma dinâmica própria e já possuem seus
símbolos próprios e profundos. O símbolo deveria falar por si só. O símbolo que
precisa ser muito explicado, deixa de ser símbolo!"
No Sábado Santo, vivemos a
Grande Vigília Pascal, também conhecida como a Mãe de todas as Vigílias. Cada
momento da liturgia da grande vigília, que é essencialmente batismal desde os
primeiros séculos, nos leva a esta experiência de uma nova criação. Da criação
do mundo, descrita no Livro do Gênesis, à noite de Páscoa com o batizado dos
catecúmenos, com renovação das promessas do Batismo. Começamos falando do
Sábado Santo, apenas para exemplificar a riqueza da Liturgia e o esmero de seu
preparo.
“A
Liturgia é o lugar onde tudo isto se torna mais visível, mais sensível. É um
lugar decisivo para o encontro, para a alegria do encontro com Jesus Cristo. O
pão, o vinho, a água, o azeite, a nossa própria presença, as palavras, os
gestos, todos os ritos, os símbolos que usamos na liturgia, devem nos remeter
sempre para o invisível. A liturgia, no fundo, tem este grande desafio: fazer
ver o invisível, e até de ver a própria palavra. A liturgia tem esta
força de tornar possível o impossível.”
Dom
José Manuel Cordeiro - Bispo de Bragança-Miranda (Portugal).
Os símbolos na liturgia, além
do que são próprios do ato litúrgico, precisam ser utilizados com moderação e
ponderação, não de maneira exaustiva e intransigente. Na busca de tornar a
liturgia mais viva e mais participativa, se buscou demasiadamente inventar
tantos símbolos, fazer acréscimos de para-liturgias que, ao invés de ajudarem,
trazem mais confusão ou distorções, descentralizando-se do verdadeiro sentido
do mistério pascal, da mesa do sacrifício eucarístico e da riqueza da liturgia
como tal.
Parece que a liturgia por si
só não fala nada, porque não a entendemos, e aí temos que completá-la com
acréscimos demasiados, empanturrando a liturgia de elementos desnecessários.
Transformamos, por vezes, a celebração dominical, do Tempo Comum, numa esticada
missa que nunca acaba.
Na liturgia, parece que o
critério do menos, é ainda o melhor. Colocamos, por exemplo, 10 símbolos
diversos na procissão do ofertório, quando não os colocamos igualmente já na
procissão de entrada. E quando queremos dar destaque a tudo, nada fica, porque
tudo se torna extremamente acentuado ou deturpado. A Liturgia já tem uma
dinâmica própria e já possuem seus símbolos próprios e profundos.
O símbolo deveria falar por si
só. O símbolo que precisa ser muito explicado deixa de ser símbolo. Não
precisamos reinventar uma nova liturgia. Parece que a moda é uma criatividade
exacerbada, desfocada da essência do mistério à custa de inovações, que ao
invés de enriquecer, tantas vezes empobrecem o sentido mais profundo da ação
sagrada.
É como a SC aponta: “Os próprios sinais sensíveis que a liturgia
usa para simbolizar as realidades divinas invisíveis foram escolhidos por
Cristo ou pela Igreja” (SC, 33). Porque encher de outros tantos elementos
outros? Não significa que não possa havê-los, mas que levem ao foco principal e
não sejam dispersivos.
A ação de graças, outrossim,
em muitas comunidades é sinônimo de apresentação teatral ou homenagens
diversas, desfocando do verdadeiro da centralidade da refeição sagrada. Tantas
vezes acontece uma indigestão litúrgica frente a tantos outros aspectos e
novidades, que se quer trazer presentes, na boa intenção de melhor celebrar.
Outras vezes, encompridamos
demasiadamente a Liturgia da Palavra e acabamos atropelando a liturgia
eucarística, porque o tempo da primeira parte extrapolou. Enfim, há aqui muitas
coisas que poderíamos elencar como avanços ou retrocessos, de acordo com a
visão dos liturgistas. Sabemos que a liturgia não pode ser inventada de acordo
com nosso jeito, nosso gosto, nossa cara, mas adaptada de acordo com as
permissões e prescrições que se nos permitem pelas normas orientadas pela Santa
Sé, por meio da Congregação para o Culto e os Sacramentos.
Padre Gerson Schmidt.
FONTE: www.vaticannews.va
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