O
capítulo quinto do Diretório Nacional de Catequese, ao tratar da Catequese como
educação na fé, começa falando da pedagogia, do “saber fazer” do próprio Deus.
E diz: “Deus, como educador da fé, se
comunica através dos acontecimentos da vida de seu povo... Sua pedagogia parte
da realidade das pessoas” (DNC 139).
Sabe
da vida quem presta atenção nos fatos e nas pessoas. Um(a) catequista desligado
do mundo não estaria em condições de usar uma pedagogia que responda às
necessidades de seu tempo e de seus interlocutores, mesmo que tivesse um grande
conhecimento teórico da tradição, dos mistérios da fé e das próprias
disciplinas da educação em geral.
Combinando
bem com esse fio condutor inicial, o DNC lembra algo que parece óbvio, mas que
tem sido esquecido em muitas situações: “Em
vez de ir fornecendo respostas, teríamos que ouvir as perguntas que os
catequizandos já trazem...” (DNC 165).
Um
encontro catequético, mesmo bem preparado, pode ser resposta a perguntas que
ninguém fez nem está interessado em fazer, se antes não estivermos abertos à
escuta das pessoas e da nossa realidade. São as inquietações e perguntas das
pessoas que abrem a mente e o coração para a resposta religiosa. Mas a pergunta
vem primeiro. Mesmo que sejam perguntas tão profundas que não têm resposta
imediata, são elas que mantêm aberto o caminho da busca, onde Deus se revela.
Saber
escutar pessoas faz parte do indispensável acolhimento, sem o qual a Igreja não
consegue se tornar atraente e capaz de cumprir sua missão. Mas o/a catequista
não precisa só saber escutar individualmente quem está a seus cuidados. É
preciso saber escutar o mundo em volta, o universo da comunicação, o momento
histórico e a vida da comunidade. Falamos muito em comunicação moderna. Então se
diz que a Igreja precisa se expressar via internet, ou na TV. Se ela fizer isso
com competência, será muito bom, é claro. Mas estar em dia com a comunicação
moderna não é só – e a meu ver nem principalmente – “dar o nosso recado”
através dos variados recursos da mídia. É também saber ouvir o que está sendo
dito no cinema, nas histórias em quadrinho, na TV, na obra dos grandes poetas e
romancistas, na música popular, na fala de jornalistas competentes. A
familiaridade com os temas e linguagens aí apresentados dá à catequese
abordagens que prendem o interesse e podem facilitar o caminho para a
apresentação da proposta evangelizadora. O DNC dá uma orientação que
poderia ser bem mais desenvolvida na formação dos/as catequistas: “Os bons artistas têm o dom de expressar de forma
impactante a experiência humana. A catequese pode aproveitar o talento desses
parceiros” (DNC 165).
Há
muitas oportunidades para a catequese aprofundar o seu “saber fazer” dentro do
próprio ambiente eclesial. Uma comunidade que viva uma verdadeira comunhão e
estimule a criatividade dentro da fidelidade ao essencial da mensagem será uma
permanente escola de metodologia. O nosso conhecido método
ver-julgar-agir-celebrar- rever, mesmo não sendo o único caminho possível, tem
uma enorme capacidade de educar o/a próprio/a catequista, ajudando a fazer a
interação fé e vida e convidando a um olhar mais atento sobre o que nos cerca.
A recíproca também pode ser verdadeira: o comportamento da comunidade inspira o
agir dos catequistas e o agir dos catequistas vai transformando também
pedagogicamente a comunidade na direção da comunhão, do diálogo, da compreensão
da situação vital de cada pessoa, da sensibilidade para a necessária
transformação social.
Mas
Igreja e sociedade não são dois mundos isolados. Descobrem-se bons modos de
fazer catequese ouvindo a própria Igreja (e nossos documentos estão cheios de
preciosas indicações) e também ouvindo o mundo secular, conhecendo experiências
pedagógicas bem sucedidas, aplicando conhecimentos de ciências humanas. Por
isso, o DNC observa: “Um catequista
que gosta de aprender, também fora do âmbito da Igreja, será mais
criativo e terá mais recursos para dar conta da sua missão” (DNC 151).
Alguém
poderia perguntar: Não estaremos exigindo demais desse exército de catequistas
que já é tão dedicado e tão gratuitamente generoso? Seria realmente pedir
demais, se o primeiro beneficiário desse processo não fosse o/a próprio/a
catequista. Uma pessoa empolgada pelo permanente aperfeiçoamento do seu “saber
fazer” catequético vai se tornar mais competente na vida como um todo, vai
crescer mais do que a acomodação permitiria. E isso é um grande prêmio,
que os nossos catequistas bem merecem!
Therezinha Motta Lima da
Cruz
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