Aqueles primeiros discípulos, que já olhavam o mestre com alguns
“dogmas” também, viram morrer isso tudo… Olhavam para o Mestre como Messias
Davídico, olhavam para o Reino como restauração política… e outras coisas. Na
morte de Jesus morreram todos os dogmas e ficou Jesus só, a sua Vida ficou a
nu! A vestimenta Dogmático-Messiânica foi-lhe retirada, lançada em
sortes pelos soldados romanos e, na sua morte, rasgada de alto a baixo como o
Véu do Templo. Ficou Jesus só, e a sua Vida a nu!
Então, naqueles três dias diante disto dentro de si, o Espírito
encontrou as condições para fazer deles aquilo para o qual Jesus os preparara…
Pela experiência pascal, redescobriram o Mestre de maneira nova. Agora viam-no
novamente digno, vivo, revestido com a abundância do Espírito de Deus que o
amava como o tal Abba de que ele lhes falara, revestido da confirmação divina
da sua maneira de viver, que tantas vezes os tinha escandalizado e
surpreendido… e a sua morte na cruz tinha sido o momento maior desse escândalo
e surpresa…
Depois é que começaram a chamar-lhe “o Senhor”, o Vitorioso, o Vivente…
E, a partir daí, começa a história dos títulos cristológicos, ou seja, muitas
maneiras de tentar dizer a abundância do Poder Salvador que Deus atua nele e
através dele. Muitas maneiras, muitos títulos, muitas linguagens, porque é uma
Boa Notícia que não se esgota…
Mas antes… vamos antes, agora, à origem evangélica da Fé em Jesus que
tem a ver com ter Fé nele dando crédito à sua Notícia. Acreditar que ela é Boa,
e dar-lhe crédito! Dar-lhe crédito a ponto de o seguir, dar-lhe crédito a ponto
de deixar/possibilitar que essa Boa Notícia trazida pela sua presença atue em
nós como renascimento, libertação e vocação…
Por isso é que Jesus diz sempre: “Foi a tua Fé que te salvou! ” Talvez façamos
poucas experiências de Salvação no concreto dos nossos dias por não estarmos
muito “treinados” nesta Fé no sentido do Evangelho, ou seja, de dar crédito à
palavra de Jesus a ponto de acreditarmos mesmo que é verdadeira, eficaz e atual.
Ficamo-nos muitas vezes pela “fé religiosa” à procura das
transformações, esperando sinceramente que Deus faça qualquer coisa…
A Fé Evangélica é um acolhimento… como dizer isto? Ter Fé é Acreditar a
Boa Notícia de Jesus, de tal modo que a tornamos eficaz em nós. É mais
do que Acreditar NA Boa Notícia… é Acreditar A Boa
Notícia. Mais do que acreditar nela é acreditá-la em nós mesmos! Este
é o caminho das maravilhas a acontecer na nossa Vida… Dar-lhe crédito é dar-lhe
eficácia. “A tua Fé te salvou! A tua Fé te curou! ”
As perguntas da Fé que Jesus faz evangelhos não têm nada a ver com isto:
“Acreditas que eu sou o Filho do Altíssimo?! Acreditas que sou a luz do mundo?!
Acreditas que sou Deus de Deus, luz da luz, gerado não criado e consubstancial
ao Pai?! Hein?”
As perguntas da Fé são estas: “O que queres que eu te faça? Acreditas
que eu posso?!” Isto é que muda tudo…
Mt 9, 27-29: “Enquanto Jesus ia a
caminho, dois cegos aproximaram-se dizendo: Filho de David, tem piedade de nós!
Quando entrou em casa, Jesus disse-lhes: Acreditais que eu posso fazer isso?
Eles responderam: Sim, senhor! Ele tocou-lhes nos olhos e disse, então:
Aconteça como vocês acreditam! ”
Lembro-me também do pai do menino epilético (Mc 9, 17-27),
que disse a Jesus: “Se podes alguma coisa, tem piedade de mim e ajuda-me! ” E
Jesus respondeu: “Se posso?! Tudo é possível a quem acredita! ” Imediatamente o
pai do menino gritou: “Eu acredito! Mas socorre a minha falta de Fé…”
A Fé, “muita ou pouca” no Evangelho, não tem a ver com os dogmas
cristológicos ou com as devoções dos crentes, mas com a abertura sincera ao
poder de Jesus. Não é simplesmente acreditar que ele “é isto ou
aquilo”, mas que ele “pode” aquilo que diz e se diz dele…
A mais radical atitude de Fé nele é segui-lo, tornar-se seu discípulo. Mais do que acreditar no que ele diz e se diz
dele, é acreditá-lo com a própria vida e com o próprio
seguimento.
Seguir Jesus hoje já é muito mais do que gostar daquele galileu e do que
ele dizia e fazia… é mais do que procurar ser fiel à sua mensagem ou mesmo
viver ao seu jeito… é isto, sim, na fidelidade a esse galileu que mataram fora
dos muros santos de Jerusalém, mas é muito mais… Porque seguir Jesus, hoje, é
seguir um Re-Suscitado! E isso muda tudo… TUDO!
Porque não é igual ser discípulo de um Mestre ou seguidor de um
Re-Suscitado! Acho que às vezes nem nos damos
conta do “bico d’obra” em que nos metemos ao proclamar os testemunhos
evangélicos da sua Boa Notícia e, ao mesmo tempo, cantarmos “Alelu’Ya” ao
Senhor Re-Suscitado e Vitorioso sobre o pecado e a morte, confirmado por Deus e
glorificado na abundância do Espírito Santo…
Já reparaste na força que ganha o Evangelho quando dizemos que aquele
que é a sua origem está Re-Suscitado por Deus?! Significa que não podemos por em causa a verdade, a eficácia, o
poder desta Notícia que Jesus anunciou e viveu… o próprio Deus o confirmou!
Pensa nalgumas coisas que Jesus te diz como Evangelho… aquelas que te
lembras mais espontaneamente… Diga-as dentro de ti, devagar e, depois de cada
uma, toma consciência que quem te diz é Jesus Re-Suscitado, alguém que vive
para sempre e é mais forte do que todo o pecado e toda a morte e toda as
experiências de fracasso na tua Vida…
Repete dentro de ti essa frase ou expressão que Jesus diz… e depois
lembra-te que aquele que te diz está Vivo para sempre, que o próprio Deus
confirmou, ao Re-Suscitá-lo, isso que ele te diz hoje de novo… o próprio Deus
confirmou isso que estás a lembrar-te que Jesus te diz… o próprio Deus confirma
que isso é verdadeiro, que funciona para seres feliz, que é por aí o Caminho, a
Verdade e a Vida…
Na sua ressurreição, o próprio Deus confirma que tudo isto é verdadeiro,
duradouro, eterno e eficaz! Deus não chamaria
“seu filho, seu deleite” e não constituiria como “Cabeça de uma Nova Humanidade
e dador do Espírito da Filiação” um charlatão! Deus confirma que Jesus
é verdadeiro e a sua Boa Notícia é para sempre.
Todo o Evangelho por ele proclamado e vivido foi confirmado pelo punho
de Deus: é verdadeiro! O próprio Jesus assinou a verdade indiscutível
do seu Evangelho pela sua morte, e Deus assinou essa verdade pelo poder da sua
ressurreição. É verdadeiro e é eterno. Desapareçam os medos de dentro
de nós, aprendamos a Fé e não fujamos da experiência dos “três dias” que todos
os discípulos têm que fazer… e vamos ver como essa Verdade nos merece mesmo a
Vida!
SHALOM
Rui Santiago, cssr.
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