(Lc 13, 22-30)
O coração da mensagem de
Jesus era o Reino de Deus, e nós continuamos a achar que o que está em
causa é a “salvação”. Jesus anuncia com uma transparência extraordinária a Ação
de Deus que vem para tomar conta do mundo, e nós ainda pensamos que
Jesus nos anda a dizer o que nós havemos de fazer para que Deus tome conta
de nós.
Jesus proclama o Reino de
Deus como atividade de Deus, e vezes demais encontramos quem ainda não tenha
descoberto um Deus Vivo e Ativo no mundo. O grande apelo de Jesus é para
Entrarmos neste Reinado de Deus, e há quem não queira mais do que “entrar
no céu”.
A Conversão que Jesus propõe
é uma Rendição ao Poder de Deus que se manifesta em Jesus e emana da sua
vida. Espírito Santo é a maneira como chamamos a este Poder de Deus e
Difusão Pascal. Render-se ao Espírito Santo e consentir na Vontade de
Deus, libertando-se dos poderes deste mundo e sendo curado das vontades malignas
que nos influenciavam, eis a Conversão ao Reino de Deus. Mas, há quem
só queira “salvar a alma”, sem ter que mudar de vida nem trocar de Dono. Quem
até queira “converter-se de pecados”, mas sem “converter-se ao Reino de Deus”.
Jesus aparece no mundo como
Conspiração de Deus. Assim começa e se estende o Reinado de Deus entre
nós, como Conspiração iniciada por aquele Galileu… Porque Deus vem
para o que é Seu, mas os Seus não lhe querem devolver. Ser de Jesus é entrar nesta
movimentação jesuânica de boicote a um mundo que impôs as suas leis à
força. Entrar no Reino de Deus é tomar parte da Conspiração Divina para
mudar o mundo de mãos, entregando-o, livre, ao cuidado do único Senhor que
sabe o que fazer com ele e conosco.
A Esperança máxima dos que
são do Movimento de Jesus é que o Reino de Deus Venha e se Cumpra, que
apareçam Novos Céus e Nova Terra, mas, continua a repetir-se por aí a
lenga-lenda religiosa que põe a sua máxima esperança em “ir para o céu”.
A maneira como Evangelho
está contado é simples e direta! Jesus está a anunciar o Reino de Deus. O “você
está aqui”, agora, está a apontar para o centro do capítulo 13 do evangelho de
Lucas. Jesus pergunta-se a si mesmo, em voz alta, como quem mostra o que o
ocupa por todos os lados: “Como havemos de anunciar o Reino de Deus? Com que
parábolas havemos de o dizer?” É o verso 18. E Jesus lembra-se do grão de
mostarda… Depois, no verso 20, continua: “Que
imagens hei de usar para anunciar o Reino de Deus?”, e usa a do fermento
que leveda no meio da massa.
A cena seguinte é esta que
apanhamos em flagrante no evangelho de hoje: “Senhor, os que se salvam são poucos?”. É o verso 23. Que mudança de
tom… Jesus não responde “sim”. Nem “não”. Nem “poucos” ou “muitos”. Nem
encolheu os ombros. Jesus virou outra vez a agulha para o que quer que nós
ouçamos, e usou mais uma imagem para nos desafiar a entrar no Reino de Deus
(desta vez, a porta estreita) e contou mais uma parábola sobre entrar e ficar
fora, em que Deus é o Dono da Casa. E termina, a “la Jesus”: “virão pessoas de
todas as partes, do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul para tomarem parte
no Reino de Deus!”
É um mundo ao contrário! É
uma terra do avesso! “Uns quantos últimos
serão primeiros, e uns quantos primeiros serão últimos”. Enquanto não
despertarmos diante destas mudanças de agulha, estamos a dormir o sono abúlico
da religião.
As imagens de Jesus mexem
comigo. Aquela do Dono da Casa não nos reconhecer, até dói só de ouvir. Não
quero que me aconteça. Morreria naquela porta, de tristeza. Tomar parte no
Reino de Deus não é pertencer exteriormente a um grupo ou fazer ritualmente
algumas atividades. Claramente, o que está em causa é ser amigo do Dono da
Casa, conhecê-lo e estar-lhe perto. Ser próximo dele, porque sem proximidade
não se constrói intimidade. Quero que Ele, o Senhor e Dono da Casa, me conheça,
me reconheça, se lembre de me ter por perto.
O diálogo que Jesus põe na
boca daqueles da parábola, é tão certeiro como de costume: “Nós comemos contigo, bebemos contigo,
ensinaste entre nós”. Comida, bebida e palavra: não é isto a nossa
Eucaristia? Comer o Pão, beber o Vinho e escutar a Palavra.
“Então
não Te lembras da quantidade de vezes que fomos à missa?!” E,
lá de dentro, uma voz diz “Não vos
conheço!” àqueles que ficaram de fora… “Esforcem-se
por entrar”. Este é o desafio. Não se entra na Conspiração Divina “sem
querer” ou por acaso. É um convite que nos é feito de maneira velada, uma
insinuação interior que o Espírito faz ao nosso espírito, uma orientação de
vida que começa a atrair-nos, primeiro, e a assustar-nos, depois, e a
atrair-nos ainda mais, e a perdoar-nos muito, entretanto…
Esforcem-se por entrar. É a
tal Conversão ao Reino de Deus, que implica rendição, consentimento, decisão e
seguimento.
E, tendo apanhado a força
deste mandato ao esforço deste convite à Entrada, podemos parar na imagem da
porta que é estreita. Como sempre, o que importa não é o tamanho. Estreita,
aqui, não quer dizer “pequena” nem “para poucos”. Quer dizer que não se acerta
nela sem querer ou por sorte. Não basta ir com a multidão, porque a multidão
não vai até lá. Não basta deixar-se levar pela confortável maior parte, porque
só a abnegação do Resto Fiel sabe o caminho de porta tão especial.
Se a passagem é estreita,
quer dizer que é preciso focar! Focar bem, orientar-se direito. Não é tudo
igual, não vale tudo o mesmo e não está tudo bem. Se a passagem é estreita, é
preciso procurá-la, discerni-la, orientar-se para ela, dirigir-se em função
dessa nesga que leva à Vida! Porque é larguíssimo o caminho para lado nenhum. É
vastíssimo o território onde não se sai do lugar. Mas é pela brecha da
Conversão que a gente se enche de esperanças, como quem dá a volta e se aponta
para nascer outra vez.
Pe. Rui Santiago,
cssr.
Plano B: https://www.facebook.com/homilias.rui.santiago.cssr/
Em tempo: Você sabe o que é "bugalhos"?
Ao ouvir esta expressão a
gente entende que não se deve fazer confusão entre uma coisa e outra. Mas, afinal,
o que são "bugalhos"? E por que alguém iria confundir com alhos? Uma ida ao
dicionário nos faz raciocinar e entender a questão. Diz o Aurélio que
bugalho é "galha arredondada ou
coroada de tubérculos que se forma nos carvalhos". Diz ainda que
bugalho é “o globo ocular”. Então, no popular, bugalhos são bolotas
existentes no carvalho, mais ou menos redondas, como os alhos. Daí a
possibilidade de alguém confundi-los. Sobre a relação como globo ocular‚ é porque
também é semelhante ao bugalho, mais ou menos redondo e com nódulos. Por isso,
chama-se de "esbugalhados", os olhos bem abertos, como bugalhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário