Aqui perto da minha casa, tem um
vendedor de “Frango assado e polenta
frita”. Ele fica em frente ao seu bar, gritando para todo mundo:
- “Frango assado e polenta frita!”. “Frango assado e polenta frita!”.
E grita, grita, grita. Incansável na
sua estratégia de venda. E todo é domingo assim.
Até que um dia, já fez tempo, que eu
me interessei pelo “frango assado e polenta frita.” Fui até o local, e o cara
estava lá, gritando: “Frango assado
e polenta frita!”. Pedi o tal do frango. Eis que o cara me respondeu: “Não tem mais, todos já estão reservados.”
Fiquei surpreso, pois o cara continuava anunciando o produto, em voz alta, e todos
os “frangos e as polentas fritas” já
estavam reservadas para outros clientes, ou seja, não havia mais nada para
oferecer, mas ele continuava anunciando!
A relação que quero fazer com o
trabalho na catequese pode até ser tosca, mas é necessária. Nós
catequistas ficamos um bom tempo anunciando as maravilhas do reino de Deus para
nossas crianças e jovens. Empenhamo-nos em organizar encontros semanais,
palestras, retiros, celebrações e, como o vendedor de frango assado e polenta frita faz, nós anunciamos algo. Mas se daqui
a pouco, algumas dessas crianças e jovens são tocadas pelo nosso anúncio, sentindo-se
atraídas pelo que falamos e pelo projeto de Deus? E se uma ou outra diz “Eu
quero seguir este caminho que você, catequista, está me anunciando. Como eu
faço para prosseguir?” E aí, o que temos para oferecer? Grupos de
encontros, estudo bíblicos, grupos de jovens, retiros, missas, o que temos para
oferecer de fato para os nossos “catequizandos” caso eles queiram continuar a
caminhada pós-catequese que seja diferente de tudo que eles viveram no tempo da
catequese?
A maioria das paróquias não tem nada
para oferecer. E convenhamos: gritamos, gritamos, gritamos, e quando alguém nos
procura, ficamos atônitos sem saber o que dizer e qual caminho indicar. Em
outros casos, o que temos para oferecer não tem atração alguma: não empolga,
não atrai, e não é diferente o suficiente de outros tantos atrativos que
existem por aí.
É por isso que quando surgem estas
novidades tecnológicas como um simples “Pokémon
go”, que viram “febre” entre jovens e crianças, muito por causa da
propaganda e da mídia, nós adultos nos desesperamos e começamos a demonizar,
criticar, achar problemas e a dizer “aonde este mundo vai parar”. .
O joguinho que está sendo tão
debatido é um tanto infantil, apesar de atrair muitos adultos, e usa a lógica
do bem contra o mal. O aplicativo usa arquivos de localização do Google e
o GPS e a câmera do celular. Pela localização geográfica ele coloca os
bichinhos, que estão sendo caçados, em vários lugares da cidade. E aí, começa a
luta para capturá-los e com isso tornar-se um “mestre Pokémon”. Para
caçar, é preciso se movimentar, sair de onde está, caminhar por aí,
disputar com outros amigos a caça, enfim, é isso que tem atraído parte da
nossa juventude e muitos adultos.
Aqui em Caxias do Sul tem “bichinhos”
para serem caçados na Igreja que fica bem pertinho da minha casa. A paróquia,
onde estão os “tais” bichinhos, não tem Grupo de Jovens e desconheço qualquer
atividade da comunidade para atraí-los a participar da Igreja. Mas os
“bichinhos” estão lá, sendo caçados.
E sejamos sinceros: é assim mesmo, na
maioria das comunidades. Para muitas lideranças o jovem é um estorvo. A
catequese geralmente não trabalha em sintonia com os jovens da comunidade. A
maioria dos catequistas não são jovens e a Igreja vive dizendo que ele é
prioridade. Hoje, o que mais tem atraído o jovem para a Igreja é a
Renovação Carismática, com sua música, sua comunicação e ousadia. Eu não sou
carismático, mas respeito e admiro, pois conspira para o bem. Outros
movimentos e pastorais também tentam, mas muitos precisam nadar contra a maré
para conseguir espaços e apoios de outras tantas pastorais para que seus
projetos vinguem.
Até quando vamos continuar gritando “Frango assado e polenta frita”, sendo
que não há mais frangos e nem polentas? Até quando vamos ficar sempre atirando
pedras em tudo o que é novidade tecnológica que atraia os jovens, sem que
façamos uma análise real do que estamos fazendo de fato, para atraí-los? Até
quando os “outros” serão sempre os culpados, e não nós, que nos dizemos
“evangelizadores e missionários”?
Aos 17 anos, fui “caçado” num lugar
específico, com um objetivo específico, com um encontro muito bem organizado
por alguém que sabia exatamente o que queria fazer. Por isso, organizou um
encontro impecável para me fisgar e também outros jovens. Eu nunca mais saí.
Fiquei porque fui atraído. E hoje, o que fazemos para atrair, para “caçar”
outros jovens, quando eles chegam a nossa catequese em busca de “algo mais”? Só
os encontros semanais?
As grandes empresas de entretenimento
e games estão estudando os hábitos e gostos da nossa Juventude. Sabem tudo a
respeito deles. Desenvolvendo jogos atrativos e interessantes. E nós, na
Igreja, estamos querendo que eles acordem às 08h da manhã de domingo,
para ir à missa, algo que eles nem entendem e sabem por que vão...
Alberto Meneguzzi
Catequista e Jornalista
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