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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

FRANGO ASSADO E POLENTA FRITA!


Aqui perto da minha casa, tem um vendedor de “Frango assado e polenta frita”. Ele fica em frente ao seu bar, gritando para todo mundo:
- “Frango assado e polenta frita!”. “Frango assado e polenta frita!”.
E grita, grita, grita. Incansável na sua estratégia de venda. E todo é domingo assim. 

Até que um dia, já fez tempo, que eu me interessei pelo “frango assado e polenta frita.” Fui até o local, e o cara estava lá, gritando: “Frango assado e polenta frita!”. Pedi o tal do frango. Eis que o cara me respondeu: “Não tem mais, todos já estão reservados.”  Fiquei surpreso, pois o cara continuava anunciando o produto, em voz alta, e todos os “frangos e as polentas fritas” já estavam reservadas para outros clientes, ou seja, não havia mais nada para oferecer, mas ele continuava anunciando!

A relação que quero fazer com o trabalho na catequese pode até ser tosca, mas é necessária. Nós catequistas ficamos um bom tempo anunciando as maravilhas do reino de Deus para nossas crianças e jovens. Empenhamo-nos em organizar encontros semanais, palestras, retiros, celebrações e, como o vendedor de frango assado e polenta frita faz, nós anunciamos algo. Mas se daqui a pouco, algumas dessas crianças e jovens são tocadas pelo nosso anúncio, sentindo-se atraídas pelo que falamos e pelo projeto de Deus? E se uma ou outra diz “Eu quero seguir este caminho que você, catequista, está me anunciando. Como eu faço para prosseguir?” E aí, o que temos para oferecer? Grupos de encontros, estudo bíblicos, grupos de jovens, retiros, missas, o que temos para oferecer de fato para os nossos “catequizandos” caso eles queiram continuar a caminhada pós-catequese que seja diferente de tudo que eles viveram no tempo da catequese?

A maioria das paróquias não tem nada para oferecer. E convenhamos: gritamos, gritamos, gritamos, e quando alguém nos procura, ficamos atônitos sem saber o que dizer e qual caminho indicar. Em outros casos, o que temos para oferecer não tem atração alguma: não empolga, não atrai, e não é diferente o suficiente de outros tantos atrativos que existem por aí.  

É por isso que quando surgem estas novidades tecnológicas como um simples “Pokémon go”, que viram “febre” entre jovens e crianças, muito por causa da propaganda e da mídia, nós adultos nos desesperamos e começamos a demonizar, criticar, achar problemas e a dizer “aonde este mundo vai parar”.  .

O joguinho que está sendo tão debatido é um tanto infantil, apesar de atrair muitos adultos, e usa a lógica do bem contra o mal. O aplicativo usa arquivos  de localização do Google e o GPS e a câmera do celular. Pela localização geográfica ele coloca os bichinhos, que estão sendo caçados, em vários lugares da cidade. E aí, começa a luta para capturá-los e com isso tornar-se um “mestre Pokémon”. Para caçar, é preciso se movimentar, sair de onde está, caminhar por aí, disputar com outros amigos a caça, enfim, é isso que tem atraído parte da nossa juventude e muitos adultos.

Aqui em Caxias do Sul tem “bichinhos” para serem caçados na Igreja que fica bem pertinho da minha casa. A paróquia, onde estão os “tais” bichinhos, não tem Grupo de Jovens e desconheço qualquer atividade da comunidade para atraí-los a participar da Igreja.  Mas os “bichinhos” estão lá, sendo caçados.

E sejamos sinceros: é assim mesmo, na maioria das comunidades. Para muitas lideranças o jovem é um estorvo. A catequese geralmente não trabalha em sintonia com os jovens da comunidade. A maioria dos catequistas não são jovens e a Igreja vive dizendo que  ele é prioridade.  Hoje, o que mais tem atraído o jovem para a Igreja é a Renovação Carismática, com sua música, sua comunicação e ousadia. Eu não sou carismático, mas respeito e admiro, pois conspira para o bem.  Outros movimentos e pastorais também tentam, mas muitos precisam nadar contra a maré para conseguir espaços e apoios de outras tantas pastorais para que seus projetos vinguem.

Até quando vamos continuar gritando “Frango assado e polenta frita”, sendo que não há mais frangos e nem polentas? Até quando vamos ficar sempre atirando pedras em tudo o que é novidade tecnológica que atraia os jovens, sem que façamos uma análise real do que estamos fazendo de fato, para atraí-los? Até quando os “outros” serão sempre os culpados, e não nós, que nos dizemos “evangelizadores e missionários”?
               
Aos 17 anos, fui “caçado” num lugar específico, com um objetivo específico, com um encontro muito bem organizado por alguém que sabia exatamente o que queria fazer. Por isso, organizou um encontro impecável para me fisgar e também outros jovens. Eu nunca mais saí. Fiquei porque fui atraído. E hoje, o que fazemos para atrair, para “caçar” outros jovens, quando eles chegam a nossa catequese em busca de “algo mais”? Só os encontros semanais?

As grandes empresas de entretenimento e games estão estudando os hábitos e gostos da nossa Juventude. Sabem tudo a respeito deles. Desenvolvendo jogos atrativos e interessantes. E nós, na Igreja, estamos querendo que eles acordem às 08h da manhã  de domingo, para ir à missa, algo que eles nem entendem e sabem por que vão...

Alberto Meneguzzi
Catequista e Jornalista

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