A visita de Maria a Isabel: Alegria no
Espírito!
Um pouco de história
Segundo
a tradição, a origem do mês de maio, como mês de Maria, remonta ao século XIII.
No dia 31 de maio comemoramos a Festa da Visitação de Nossa Senhora, a
devoção popular cristã contempla este acontecimento no segundo mistério gozoso
do terço. Iniciada por São Boaventura entre os franciscanos, em 1263 d.C.,
tornou-se uma festa universal em 1389, durante o pontificado de Urbano VI para
promover, com a intercessão de Maria, a paz e a unidade dos cristãos divididos
pelo grande cisma do Ocidente.
A
festa da Visitação era celebrada no dia 2 de julho, ou seja, ao final da visita
de Maria à Isabel. O calendário litúrgico mudou esta data para o último dia de
maio como coroação do mês que a devoção popular consagra a Nossa Senhora.
Com
esta festa, a Igreja celebra o grande exemplo de Maria como servidora. O Papa
Francisco sintetizou o comportamento de Maria no episódio da Visitação em três
palavras: escuta, decisão e ação.
Escuta: Maria está atenta a
Deus, escuta a Deus, mas Maria escuta também os fatos, lê os acontecimentos de
sua vida. Está atenta a realidade concreta e não fica na superfície, mas vai ao
profundo para acolher o significado. A parente Isabel, que já é idosa, espera
um filho. Esse é o fato. Mas Maria está atenta ao significado, sabe acolhê-lo:
“Nada é impossível a Deus” (Lc 1,37).
Decisão: Maria não vive da
pressa, da ânsia, mas como destaca São Lucas “meditava todas essas coisas no
seu coração” (Lc 2,19). Também no momento decisivo da anunciação do Anjo ela
também pergunta “como acontecerá isso? ”, mas não se detém nem mesmo no momento
da reflexão, dá um passo a mais: decide. Ela não vive da pressa, mas apenas
quando é necessário vai rapidamente.
Ação: “Maria pôs-se em
viagem e foi depressa”. A ação de Maria é uma consequência de sua obediência às
palavras do Anjo. Ela vai até Isabel para ser-lhe útil. Esta sua saída de casa,
de si mesma, por amor, carrega o que tem de mais precioso: Jesus. Ela carrega
seu Filho.
O
mistério da Visitação lembra a todos que o “levar Cristo” é uma atitude
“mariana”. Por esta razão a Igreja mantém os olhos fixos na Virgem Mãe: grávida
do Filho de Deus, ela torna perpétuo entre os homens o caminho missionário
daquela que, como Arca da Aliança, trazia em si Aquele que visitou e redimiu o
seu povo: “Socorreu Israel, seu servo,
lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor
de Abraão e de sua descendência, para sempre”.
O
Evangelho deste dia
O
Evangelho que ilumina este dia é Lucas 1, 39-56. Aqui, abrimos espaço dentro do
calendário do Tempo Pascal, iluminado pelo Evangelho de João, para ouvir Lucas,
único evangelista a narrar a visitação de Maria a Isabel. Dentre os três Evangelhos,
o de Lucas é o que mais apresenta citações acerca de Maria. Segundo O
dicionário de Mariologia, de 150 versículos no NT que tratam de Maria, 90 estão
no evangelho de Lucas.
Na
leitura de hoje encontramos o Magnificat,
que, segundo São Luís Monfort, “É a única
oração e a única obra composta por Maria (...). É o maior sacrifício de louvor
que Deus já recebeu na lei da graça. É, dum lado, o mais humilde o mais
reconhecido e, doutro, o mais sublime e mais elevado de todos os cânticos. Há
neste cântico mistérios tão grandes e tão ocultos, que os próprios anjos
ignoram”.
REFLEXÃO
DO EVANGELHO
O assunto
da vida: para começo de conversa
O
texto de hoje nos fala da visita de Maria a sua prima Isabel. As duas eram
conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste encontro elas descobrem, uma na
outra, o mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria.
Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem
e com o testemunho de fé que nos dão.
Chave de
leitura
Na
leitura que vamos refletir, sobretudo no Cântico de Maria, percebemos que ela
descobriu o mistério de Deus não só na pessoa de Isabel, mas também na história
do seu povo. Durante a reflexão vamos prestar atenção no seguinte: ”Com que
palavras e comparações Maria expressou a descoberta de que Deus está presente
em sua vida e na vida do seu povo? ”.
Situando
Quando
Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam
espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é, para ele, o modelo da
comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como
aquelas comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço
aos irmãos e irmãs.
O
episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda outro aspecto bem próprio de
Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o Cântico de Maria, formam uma
grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim,
Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que as comunidades devem
viver a sua fé.
Comentando
1. Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel
Lucas
acentua a prontidão de Maria em atender as exigências da Palavra de Deus. O
anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para
verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma
pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100
quilômetros! Não havia ônibus nem trem.
2. Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel
Isabel
representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O AT
acolhe o NT com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus
que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro entre as
duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de
alegria no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das
coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se
ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: É nisto
que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a
presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais
conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.
3. Lucas 1,45: O elogio que Isabel faz a Maria
“Feliz
aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai
acontecer”. É o recado de Lucas às comunidades: crer na Palavra de Deus, pois
ela tem força para realizar aquilo que nos diz. É Palavra criadora. Gera vida
nova no seio de uma virgem, o seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com
fé.
4. Lucas 1,46-56: O Cântico de Maria
Muito
provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas comunidades. Ele
ensina como se deve orar e cantar.
Lucas 1,46-50
Maria
começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar
amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: “Exulto de
alegria em Deus, meu Salvador”.
Lucas 1,51-53
Em
seguida, canta a fidelidade de Javé para com seu povo e proclama a mudança que
o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão
“braço de Deus” lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Javé
que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os
poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos
famintos enche de bens (1,53).
Lucas 1,54-56
No
fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o
seu povo e expressão de sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova
veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade
e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos
Gálatas e aos Romanos.
Alargando
O
Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis
colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa? ” (2 Samuel 6,9)
Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou
a Obed-Edom e a toda a sua família” (2 Samuel 6,11). Maria, grávida de
Jesus, é como a Arca da Aliança que, no AT, visitava as casas das pessoas
trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E
enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família são abençoadas por
Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança. Visitando a casa das pessoas,
deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.
A
atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às
comunidades: não se fechar sobre si mesmas, mas sair de si, sair de casa, e
estar atentas às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajuda na
medida das necessidades.
Carlos Mesters e Mercedes Lopes.
In O avesso é o lado
certo. Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas.
FONTES:
Acácio
Vieira de Carvalho. Escola Bíblica “São João Paulo II". Revista da Arquidiocese
de Aparecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário