Muitas comunidades paroquiais, usam um livro ou manual como
subsídio para a catequese. E as coleções mais conhecidas tem o “Livro do
catequista” e o “Livro do Catequizando”. Mais recentemente algumas coleções
apresentam o “Livro da Família, ainda não tão conhecido e utilizado. Há quem
adote os livros “Do Catequista” e “Do Catequizando”, há quem só adote o do
catequista, há quem não adote nenhum, há quem use os livros somente como
subsídio pessoal, enfim...
Vamos falar um pouco sobre o Manual de Catequese!
Quem dera a resposta fosse tão
simples quanto a pergunta! "Adotar livro para o catequizando ou
não?" é uma coisa difícil de responder sem examinar o contexto e a
realidade catequética paroquial.
Adotar um manual como subsídio
para os encontros, depende de inúmeros fatores: A começar pela realidade da
paróquia/comunidade e pela formação do catequista; depois vem as fases ou
etapas em que os catequizandos estão, suas idades, sua capacidade cognitiva. Depois vem o "Qual
livro usar?"; em seguida: “A paróquia tem um Itinerário? ” e ainda "O catequista consegue trabalhar sem o livro?"... E por aí
vai.
Só não concordo com uma
colocação que já li em várias posições que defendem o não uso de um manual: "Que no processo de catequese catecumenal o
livro não tem razão de ser". GENTE! Cuidado. Será que vocês sabem
mesmo como é o processo de catequese catecumenal? Será que IVC está sendo implantada
em sua comunidade? Vocês já ouviram falar no “Didaqué”? É um LIVRO de CATEQUESE dos primeiros séculos da Igreja
onde se vivia a catequese catecumenal em sua plenitude. Não é porque a
catequese é vivencial, experiencial e bíblica que ela deixa de ter conteúdo
doutrinal e conteúdo da Tradição de fé da nossa Igreja.
Assim como a Bíblia e a mensagem
Cristã, o conteúdo doutrinal também é base da nossa catequese, os dois juntos
formam a base do Cristão. Um bom itinerário também envolve: liturgia, orações, atividades educativas, comunitárias e missionárias. O que não pode
acontecer é o catequista se fixar exclusivamente no conteúdo de um livrinho,
sem expandir a catequese para seu aspecto vivencial, sem dar “vida” aos
ensinamentos bíblicos.
E também é bom lembrar que as
crianças que estão na faixa etária dos 7 aos 11 anos, têm um aprendizado mais visual. Esta crianças precisam de imagens para aprender (figuras, pintura, colagem), exercícios de repetição (orações); o ensino é mais didático, mais lúdico. É bom ter material de apoio.
Nas primeiras etapas da catequese é complicado não utilizar algum material
didático/pedagógico devido às características cognitivas da idade.
Alguns catequistas podem
entender que o livro sugere uma "catequese escolar”. Não concordo com este
posicionamento. De forma alguma o livro sugere uma catequese escolar ... a não ser que o catequista faça uma "catequese escolar"! Os livros
proporcionam atividades complementares ao encontro, além de gerarem uma "economia"
tanto ao catequista, que muitas vezes acaba reproduzindo material impresso com
seus próprios recursos; quanto para a paróquia, que não terá que fotocopiar
material para os catequistas. A questão é SABER USAR o livro. Ele não engessa
se o catequista não se “imobilizar”, buscar complementos para enriquecer os temas,
criar novas possibilidades de “ensinar” o conteúdo de fé.
É muito mais preocupante quando me dizem que estão "fazendo" material por si mesmos do que
quando usam algum subsídio. Os subsídios, por mais que às vezes não contemplem
a realidade da comunidade, são feitos por profissionais com conhecimento de catequética,
pedagogia, psicologia, didática, etc.; que utilizam o apoio das ciências para
elaborar os livros. O livro não é uma "amarra", muito pelo contrário,
traz os conteúdos a serem trabalhados de forma esquematizada, contínua, e é uma
grande ajuda ao catequista. Além de trazer os temas, ele dá pistas do que trabalhar e sugere formas de
abordagem. Quase todos os catequistas que usam os manuais, procuram enriquecer
seus encontros com atividades lúdicas, além daquelas descritas, assim como
podem ter o discernimento de usar ou não determinada atividade.
E me preocupa também, quando
leio que o método usado é o da "IVC" ou o da "Leitura Orante". A IVC é um "processo" muito mais amplo do que um método.
Da mesma forma, a “Leitura
Orante” é um método de LEITURA DA BÍBLIA, considerando-a nos seus aspectos de oração e meditação, e não um método
“catequético”. Mesmo porque, há que se considerar o fato de que a leitura orante com as crianças precisa ser trabalhada de forma diversa da qual se trabalha com adultos. Você pode e deve usar a leitura orante, mas, dentro da compreensão
dos seus interlocutores, dentro dos “momentos orantes” do seu encontro. Não se pode extinguir a
doutrina da catequese. O CIC é o "depósito da nossa fé", a interpretação e a compreensão da doutrina católica. Que não deve ser considerada foco principal, mas, necessária. Então, além da Bíblia, da leitura orante, a catequese precisa estar integrada com a doutrina e a tradição da Igreja Católica.
Só lembrando uma passagem do
DNC:
"A catequese não é uma supérflua
introdução na fé, um verniz ou um cursinho de admissão à Igreja. É um processo
exigente, um itinerário prolongado de preparação e compreensão vital, de
acolhimento dos grandes segredos da fé (mistérios), da vida nova revelada em
Cristo Jesus e celebrada na liturgia (...); implica um longo processo vital de
introdução dos cristãos ainda não plenamente iniciados, seja qual for a sua
idade, nos diversos aspectos essenciais da fé cristã. Trata, de forma
sistemática, de um todo elementar e coerente, que forneça base sólida para a
caminhada ‘rumo à maturidade em Cristo’. (CNBB, Diretório
Nacional de Catequese, nº. 37 e 38).
Será que um "livro"
de catequese não é necessário para que possamos dar esta dimensão à catequese? O manual ou livro pode trazer esta dimensão, sem comprometimento do conhecimento necessário ao catequista e do tempo do encontro.
Mas, tem o livro do
catequista! Não precisa do Livro do Catequizando. Só que estão abolindo este e substituindo-o por cadernos, anotações, diários, portfólios,
ou seja lá qual for o nome. Qual a diferença? Aliás, que tempo precioso do
nosso encontro semanal se perde se as crianças precisam "copiar"
alguma coisa!
Mesmo o portfólio, que é um
recurso didático para o catequizando registrar suas experiências fora da
catequese, fazendo a interação fé e vida, lembra as "aulas" da
escola. Trabalho há mais de 10 anos com as 3 primeiras fases da catequese (8 a
12 anos), e acredito que a prática do portfólio pode ser usada, dependendo das
características da turma. Tive mais resultados indiferentes do que positivos. A
maioria das crianças não "replica" o encontro com a família e não faz
as atividades. Isso porque, na maioria dos casos, a prática religiosa não faz parte de suas vidas cotidianas. Uma prática mais eficaz para estabelecer a conexão fé e vida é a "contação de histórias". Tanto da parte do catequista, que trará seu exemplo de vida, quanto da parte dos
catequizandos. Eles sempre vêm ao encontro com a "bagagem" do que
viveram ao longo da semana. As crianças amam "contar" suas histórias
de vida: o que fizeram, o que aconteceu de diferente. Isso nos dá
"gancho" para muita interação com a fé.
Sobre a IVC e sua interação com o manual
A catequese de Iniciação à Vida Cristã, vital
hoje para a Igreja, visa uma formação integral do cristão. É um processo onde
está presente a dimensão celebrativa e litúrgica da fé; a conversão para
atitudes e comportamentos cristãos; e o ensino da doutrina.
A inspiração catecumenal remonta ao início da Igreja e leva a uma catequese em quatro tempos: o pré-catecumenato (anúncio e adesão), o catecumenato (catequese - ensino sistematizado dos conteúdos), o tempo da purificação e iluminação (preparação aos sacramentos), a celebração dos sacramentos da iniciação (Batismo, Confirmação e Eucaristia), o tempo da mistagogia (inserção na comunidade). São tempos pré-definidos que, se não acontecem nas comunidades, não está se fazendo ainda a IVC catecumenal. Inserir ritos e celebrações de entrega de símbolos na catequese, NÃO É PRATICAR A IVC. A comunidade e todo processo catequético precisa estar permeado pelas práticas de iniciação catecumenal. Precisamos ir mais a fundo neste assunto numa outra hora.
A inspiração catecumenal remonta ao início da Igreja e leva a uma catequese em quatro tempos: o pré-catecumenato (anúncio e adesão), o catecumenato (catequese - ensino sistematizado dos conteúdos), o tempo da purificação e iluminação (preparação aos sacramentos), a celebração dos sacramentos da iniciação (Batismo, Confirmação e Eucaristia), o tempo da mistagogia (inserção na comunidade). São tempos pré-definidos que, se não acontecem nas comunidades, não está se fazendo ainda a IVC catecumenal. Inserir ritos e celebrações de entrega de símbolos na catequese, NÃO É PRATICAR A IVC. A comunidade e todo processo catequético precisa estar permeado pelas práticas de iniciação catecumenal. Precisamos ir mais a fundo neste assunto numa outra hora.
Como adaptar o manual à realidade da sua comunidade
Pessoalmente, por ter
experiência e formação catequética, sou capaz de trabalhar a catequese sem um
livro, mas, da 1ª a 3ª Etapa, utilizo os subsídios sugeridos pela Arquidiocese,
tanto do catequista quanto do catequizando. Nem sempre utilizo as atividades do
livrinho na quando na 3ª Etapa. Nesta, construo o roteiro baseado no tema do
livro, enriqueço o encontro com outras atividades e outras abordagens, mas, os catequizandos o tem para saber "por onde andamos". O
fato de haver um livro economiza bastante meu tempo e o tempo do encontro, pois
preciso de atividades pedagógicas com as crianças.
Já na catequese crismal, considero dispensável o livro do catequizando, utilizo somente do catequista. Isso porque o
adolescente pode chegar ao encontro só com o celular da mão e deve ser sempre bem-vindo.
Nesta fase, na catequese de crisma, a psicopedagogia é outra e os
conteúdos são "reforço" da catequese de eucaristia. O livro é
opcional e muitas vezes os crismandos nem o querem.
Uma coisa que se faz URGENTE, é a
CRIAÇÃO DE ITINERÁRIOS para a catequese da comunidade/paróquia. E ITINERÁRIO
não é só PLANEJAMENTO com datas e temas de encontros a serem trabalhados durante o
ano. É muito mais complexo que isso. LEMBRANDO: Um itinerário PAROQUIAL,
precisa de orientações DIOCESANA para ser construído. Os temas a serem
trabalhados na catequese não são assuntos a ser "inventados" pelos
catequistas, precisam obedecer às instruções do Bispo e sua equipe.
Assim, quando a equipe de
catequese senta para fazer um itinerário, o apoio de um subsídio/ manual é
fundamental. No livrinho estão os encontros com os temas sugeridos e atividades
pedagógicas. A equipe pode analisar quais são os encontros necessários, adaptar ao tempo litúrgico,
inserir as celebrações, a dimensão orante, comunitária e missionária.
Com o itinerário, o catequista terá um "mapa" do caminho a
percorrer. E o livrinho/manual, será somente uma "garrafinha de água"
que ele vai beber quando tiver sede, e não o "carro que ele vai
subir" quando não quer caminhar. Só entregar os livros do Catequista e do
Catequizando nas mãos do catequista não resolve. Vamos sempre continuar
discutindo aqui se a gente "usa ou não usa", se o catequista consegue ou não fazer o encontro sem ele. Então, pelo lado
"formativo" que o catequista costuma ter na nossa Igreja antes de
assumir uma turma (quase nenhum!); pela carência de recursos materiais
disponibilizados pela paróquia (o catequista paga muita coisa do próprio
bolso); pela falta de planejamento e discussão de um itinerário; pelo
"disfarce" de IVC que se está dando à catequese... Eu sou a favor de
se usar livro para o catequista e para o catequizando.
Este meu “sou favorável” ao
uso de livro/manual de catequese, se prende, sobretudo, à realidade da
comunidade/paróquia onde o catequista está inserido. Hoje há uma confusão
miserável em tudo: leitura orante na catequese, IVC, itinerário, planejamento,
uso de dinâmicas, tempo litúrgico... E o catequista se pergunta aí no meio:
como usar tudo isso, quando, onde? O que faço? O que coloco no encontro? Qual método é adequado?
Aí vem outra questão
fundamental da nossa catequese:
Qual a formação de nossos catequistas? Como se organizam as dioceses
e paróquias a nível de formação?
O grupo de catequistas de uma
paróquia/comunidade é continuamente renovado. Além da rotatividade de pessoas,
há um percentual muito grande de jovens, o que é muito bom, mas falta um pouco
de “experiência” e prática. De outro lado, há catequistas de longa caminhada,
alguns aceitam se renovar constantemente, já outros permanecem na catequese do
passado e rejeitam as formações. A carência de formação é sempre constante,
repete-se os princípios básicos e os temas de formação quase sempre voltam. Avança-se muito
pouco numa formação continuada.
Uma amiga formadora me disse
que é uma tarefa árdua formar o grande contingente de catequistas, arejar
cabeças, ler documentos, estimular aprendizado novo... E eu concordo com ela.
Não é nada fácil, começar sempre da base: voltar sempre ao “Ser, saber, saber fazer”, e ter olhos renovados para cada coisa. A maioria dos nossos catequistas sequer chega ao conhecimento
básico para criar um roteiro de encontro sozinhos. Como então, nos vemos nesta
questão de não usar um manual?
Para não usar um livro ou manual, o próprio catequista precisa "ser" um livro. Precisa de uma bagagem e de conhecimentos que muitas vezes não possui. Então, a pergunta que fica é: Estamos proporcionando formação para isso?
Ângela Rocha
Equipe Catequistas em Formação
Obs.: Que fique claro que as opiniões deste artigo são pessoais, da autora. Não tenho o objetivo de privilegiar ou criticar este ou aquele livro/manual. Cabe às comissões paroquiais e aos catequistas analisar se o uso deste ou daquele material, está de acordo com o contexto em que sua comunidade está inserida, sempre seguindo as orientações de sua diocese. Por mais que se tenha "adotado" um manual específico, o uso e a consulta a vários manuais, longe de prejudicar à catequese, ajuda muito a prática do catequista.
Um comentário:
Excelente explicação!!!
Realmente a Catequese precisa ter uma boa base, ser conjunto c a Paróquia e ter a disponibilidade em aprender cada vez mais, para bem preparados evangelizar famílias e não só crianças!!!!
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