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terça-feira, 17 de novembro de 2020

CRISTÃO NÃO PODE PENSAR POLITICAMENTE?

Imagem: Ângela Rocha

 Outro dia fui "premiada" com o seguinte comentário em uma das minhas publicações: "Tenhas as suas opiniões políticas mas tire elas do Altar de Cristo e dos seus Sacramentos."

Aí fiquei cá pensando com meus botões, se Jesus Cristo foi um alienado político. Acho que não! E se um cristão precisa ser alienado e não falar ou se envolver em política. Também acho que não. E uma catequista pode ter opinião política?

Acredito, sinceramente, que um cristão PRECISA ser politizado.

Vamos ver por que?

"Do ponto de vista político, Jesus morreu condenado pelos romanos. A verdade é que, além dos motivos religiosos, há também motivos políticos para a morte de Jesus, os textos bíblicos deixam transparecer. É razoável pensar que Jesus foi considerado um agitador perigoso. Mas a principal causa política foi a posição de Jesus em relação a honra e a posse de bens. Um romano não podia tolerar que alguém se despoje de sua posição de honra nem de seus bens, como atesta Sêneca, o mais humanizador dos estoicos romanos da época. O radicalismo evangélico proposto por Jesus não era compreensivo dentro do pensamento jurídico e social romano, o que pesou na condenação de Jesus a morte. Os evangelhos nos deixam transparecer que Pilatos não viu nenhum mal em Jesus, mas é instigado pelos judeus: “nós temos uma lei, e, segundo a lei, deve morrer porque se fez Filho de Deus” (Jo 19,2)." (NENTWIG, Roberto: O significado da morte de Jesus.)

E sejam benditas as aulas de Cristologia! Aliás, penso que qualquer pessoa que queira defender um argumento teológico, precisa estudar um pouquinho.

Alguns pensamentos de quem se diz "cristão" e "católico", são, no mínimo, "interessantes". Precisam ser "estudados” pelas lentes, algumas vezes, microscópicas - da paciência!

Um deles é aquele que acredita que quem é da Igreja, não pode se envolver, pensar e nem falar de política. Que dirá ter um partido político!

Mas, a política está no berço da sociedade civilizada. É anterior a Jesus Cristo. Ele viveu num sociedade muito politizada, na verdade, "dominada" pela política imperial e religiosa do oriente médio. Foi crucificado por tentar dar valor ao pobre, doente, excluído, trabalhadores, mulheres... Quer mais "política" que isso?

A palavra política tem sua origem na Grécia, vem de “polis”, que significa “cidade”. Assim, política é a ação empreendida pelas cidades-estados gregas para normalizar a convivência entre seus habitantes e as demais cidades. Estabelecer esta "política", sempre foi uma luta para tornar as sociedades mais civilizadas.

Então, hoje, política é a atividade desempenhada pelo cidadão quando exerce seus direitos em assuntos públicos por meio do seu voto.

O voto não só é um direito do cidadão, mas um dever daquele que quer uma sociedade justa e fraterna, ainda mais ser for um cristão.

Por mais que Jesus tenha dito que o seu "Reino" não era deste mundo, acredito que Ele esteve aqui para nos ensinar a fazer este Reino acontecer. Ele não quis dizer que o Reino só pode alcançado lá no "céu", penso que Ele nos deu uma “chicotada” dizendo que os seres humanos parecem incapazes de fazer um Reino aqui neste mundo.

Para mim e para muitos, é desconexo que um cristão limite o exercício da sua fé, ao templo, ao espaço físico onde vai orar e se ajoelhar. Cada um deve ser um "sacrário ambulante" (Expressão usada pelo professor Luiz Alexandre Rossi em suas aulas). O verdadeiro cristão deve carregar consigo a sua fé, levando-a para o espaço cotidiano. Ter fé não é ser carismático na Igreja e não praticar a ética na rua. Aliás, o que fazemos na rua determina o tipo de "culto" que fazemos na Igreja.

De minha parte, sempre acreditei que, se não puder fazer fora da Igreja o que aprendi dentro dela, não posso me considerar cristã.

E um ótimo dia a todos!

 

Ângela Rocha

“Catequista sempre em formação”.



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