É tarefa da Igreja neste terceiro milênio, e exigência dos documentos – que a catequese da nossa Igreja, "assuma" a IVC – Processo de Iniciação à vida cristã pelo modelo catecumenal [1], como "Itinerário para formar discípulos missionários", conforme destaca o documento da CNBB, fruto da 55ª Assembleia dos Bispos do Brasil.
Mas, nos deparamos com a seguinte questão:
Como inserir um
processo de Iniciação à Vida Cristã (IVC), um modelo catecumenal, que remonta à
Igreja dos primeiros séculos, neste mundo atual, tão midiatizado?
Tentando responder a esta questão, vamos discutir aqui os
desafios e as perspectivas da IVC Catecumenal na catequese, sobretudo, de
crianças, que são o maior “público” ou maior “demanda” hoje na pastoral. Sem
contar a “catequese se adultos” que exige a implantação do modelo de
catecumenato dos primeiros séculos, desde os documentos catequéticos pós Concílio.
Segundo o padre Luiz Lima (2014), a catequese nasceu nos
primeiros séculos da Igreja, dentro de um processo chamado Iniciação à Vida Cristã, conhecido também por catecumenato; “nele os que se
convertiam ao Evangelho eram verdadeiramente iniciados, mergulhados na vida
nova de Cristo Jesus” (LIMA, 2014, p. 8). Nesse processo, a catequese era a etapa onde acontecia a instrução
e o aprendizado da doutrina cristã, o aprofundamento a partir das
Escrituras e o ensino dos Apóstolos, guiados por catequistas, pessoas especializadas e preparadas para este fim.
Essa catequese, além de ser “ensino”, estava imersa em muitas
outras práticas como a oração, celebrações mistagógicas, liturgia, ritos, exercícios
de vivência cristã, acompanhamento pessoal, etc. Era um processo
verdadeiramente “iniciático” na vida cristã. No entanto, os destinatários ou
interlocutores desse Catecumenato eram adultos e não crianças.
Dentro desse
grande processo, a catequese, como momento do ensino, não era educação ou
formação do tipo escolar, onde alunos adquirem conhecimentos de seus
professores e são avaliados por eles. Não! Era uma iniciação que
verdadeiramente tocava as raízes da vida, o sentido e orientação de toda existência.
Dessa iniciação cristã, da qual fazia parte a catequese, saiam pessoas muito
bem formadas, convictas da própria fé, da própria opção por Jesus Cristo e seu
Evangelho, vivendo em comunidades vivas que davam autêntico testemunho de vida
cristã. E aí estava a força da expansão rápida do cristianismo.[2]
Mas, com tantos anos de “conversas” (DGC, DAp DNC, DpC, Doc 107, etc), como está o processo
de iniciação à vida cristã em nossas paróquias? Em nossa Diocese? Documentos,
encontros, seminários, formações que a Igreja vem fazendo e mostrando, tem tido
representação dos catequistas de base? Está chegando aos catequistas estas
informações? Quem está trabalhando com os novos manuais e itinerários criados
pelas dioceses, está levando em conta esta proposta? Quem está se reunindo para
criar roteiros de catequese está adaptando os roteiros a esta realidade? Ou
está adaptando para crianças coisas de adultos? Será que não corremos o risco
de mudarmos a "capa" e deixar o mesmo conteúdo?
Pergunto isso porque no contato com catequistas na internet,
via redes sociais, tem me assustado um pouco a quantidade de solicitações de
"roteiros" e dúvidas sobre isso ou aquilo da IVC pelo modelo
catecumenal.
Se as comunidades estão "implantando" um modelo
baseado no Ritual de Iniciação a Vida Cristã - RICA, o mínimo que se precisa
ter são orientações da diocese e um itinerário. A catequese pelo processo
catecumenal é um passo grande demais para ser "solitário". Não é um
(a) catequista só ou uma comunidade só, que resolve. É e deve ser um processo global
que envolve toda a Igreja.
Os ritos, celebrações e entregas não são uma "moda"
a se aderir, coisas bonitas para impressionar a família e a comunidade, são
ações dentro da liturgia da Igreja. Precisam que os padres liderem e presidam
as celebrações, que a comunidade esteja informada, que as famílias sejam
participantes e, sobretudo, que essas ações dentro do rito da missa, não atrapalhe
os ritos litúrgicos. Não é só uma simples "festa", não é ritualismo e
enfeite, penduricalho, é mistério,
anúncio e deve levar à espiritualidade e ao aprofundamento da fé,
principalmente dos adultos!
Segundo o padre Lima (2014)[3]:
Diante do
pluralismo de hoje e de uma sociedade descristianizada, a proposta da Igreja é
retornar ao catecumenato, esse eficaz processo iniciático da Igreja Primitiva.
Então a catequese retornará ao seu verdadeiro lugar e não será uma atividade
independente dentro da Igreja, como acontece hoje. Além do anúncio da Palavra
de Deus e do ensino da doutrina conduzidos pelos catequistas, o processo de
Iniciação Cristã envolve muitas outras forças da comunidade (introdutores,
acompanhantes, padrinhos, apoio da família), sobretudo a Liturgia, pois é nela
que se faz a verdadeira experiência do mistério de Cristo Jesus.
Cuidemos para não cometermos os mesmos erros da catequese
sacramental que vem sendo praticada há anos em nossa Igreja. Vamos dar
significado às coisas, fazendo jus ao apelo na carta de Pedro: “Estejam sempre preparados para responder a
qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês“ (1Pd
3, 15).
[1] CATECUMENAL vem de Catecumenato
ou Catecúmeno, do Latim catechumenu, do Grego katechoúmenos, que significa “o que é
instruído de viva voz”, aquele que se prepara e se instrui para receber o
batismo.
[2]
LIMA, Luiz. A situação da catequese
hoje no Brasil. Revista de Catequese 143.
Jan-jun 2014. São Paulo: UNISAL, 2014, p. 6-7.
[3]
Idem.
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