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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

I V C - Iniciação à Vida Cristã de inspiração Catecumenal


É tarefa da Igreja neste terceiro milênio, e exigência dos documentos – que a catequese da nossa Igreja, "assuma" a IVC – Processo de Iniciação à vida cristã pelo modelo catecumenal [1], como "Itinerário para formar discípulos missionários", conforme destaca o documento da CNBB, fruto da 55ª Assembleia dos Bispos do Brasil.

Mas, nos deparamos com a seguinte questão:

Como inserir um processo de Iniciação à Vida Cristã (IVC), um modelo catecumenal, que remonta à Igreja dos primeiros séculos, neste mundo atual, tão midiatizado?

Tentando responder a esta questão, vamos discutir aqui os desafios e as perspectivas da IVC Catecumenal na catequese, sobretudo, de crianças, que são o maior “público” ou maior “demanda” hoje na pastoral. Sem contar a “catequese se adultos” que exige a implantação do modelo de catecumenato dos primeiros séculos, desde os documentos catequéticos pós Concílio.

Segundo o padre Luiz Lima (2014), a catequese nasceu nos primeiros séculos da Igreja, dentro de um processo chamado Iniciação à Vida Cristã, conhecido também por catecumenato; “nele os que se convertiam ao Evangelho eram verdadeiramente iniciados, mergulhados na vida nova de Cristo Jesus” (LIMA, 2014, p. 8). Nesse processo, a catequese era a etapa onde acontecia a instrução e o aprendizado da doutrina cristã, o aprofundamento a partir das Escrituras e o ensino dos Apóstolos, guiados por catequistas, pessoas especializadas e preparadas para este fim.

Essa catequese, além de ser “ensino”, estava imersa em muitas outras práticas como a oração, celebrações mistagógicas, liturgia, ritos, exercícios de vivência cristã, acompanhamento pessoal, etc. Era um processo verdadeiramente “iniciático” na vida cristã. No entanto, os destinatários ou interlocutores desse Catecumenato eram adultos e não crianças.

Dentro desse grande processo, a catequese, como momento do ensino, não era educação ou formação do tipo escolar, onde alunos adquirem conhecimentos de seus professores e são avaliados por eles. Não! Era uma iniciação que verdadeiramente tocava as raízes da vida, o sentido e orientação de toda existência. Dessa iniciação cristã, da qual fazia parte a catequese, saiam pessoas muito bem formadas, convictas da própria fé, da própria opção por Jesus Cristo e seu Evangelho, vivendo em comunidades vivas que davam autêntico testemunho de vida cristã. E aí estava a força da expansão rápida do cristianismo.[2]

Mas, com tantos anos de “conversas” (DGC, DAp  DNC, DpC, Doc 107, etc), como está o processo de iniciação à vida cristã em nossas paróquias? Em nossa Diocese? Documentos, encontros, seminários, formações que a Igreja vem fazendo e mostrando, tem tido representação dos catequistas de base? Está chegando aos catequistas estas informações? Quem está trabalhando com os novos manuais e itinerários criados pelas dioceses, está levando em conta esta proposta? Quem está se reunindo para criar roteiros de catequese está adaptando os roteiros a esta realidade? Ou está adaptando para crianças coisas de adultos? Será que não corremos o risco de mudarmos a "capa" e deixar o mesmo conteúdo?

Pergunto isso porque no contato com catequistas na internet, via redes sociais, tem me assustado um pouco a quantidade de solicitações de "roteiros" e dúvidas sobre isso ou aquilo da IVC pelo modelo catecumenal.

Se as comunidades estão "implantando" um modelo baseado no Ritual de Iniciação a Vida Cristã - RICA, o mínimo que se precisa ter são orientações da diocese e um itinerário. A catequese pelo processo catecumenal é um passo grande demais para ser "solitário". Não é um (a) catequista só ou uma comunidade só, que resolve. É e deve ser um processo global que envolve toda a Igreja.

Os ritos, celebrações e entregas não são uma "moda" a se aderir, coisas bonitas para impressionar a família e a comunidade, são ações dentro da liturgia da Igreja. Precisam que os padres liderem e presidam as celebrações, que a comunidade esteja informada, que as famílias sejam participantes e, sobretudo, que essas ações dentro do rito da missa, não atrapalhe os ritos litúrgicos. Não é só uma simples "festa", não é ritualismo e enfeite, penduricalho, é mistério, anúncio e deve levar à espiritualidade e ao aprofundamento da fé, principalmente dos adultos!

Segundo o padre Lima (2014)[3]:

Diante do pluralismo de hoje e de uma sociedade descristianizada, a proposta da Igreja é retornar ao catecumenato, esse eficaz processo iniciático da Igreja Primitiva. Então a catequese retornará ao seu verdadeiro lugar e não será uma atividade independente dentro da Igreja, como acontece hoje. Além do anúncio da Palavra de Deus e do ensino da doutrina conduzidos pelos catequistas, o processo de Iniciação Cristã envolve muitas outras forças da comunidade (introdutores, acompanhantes, padrinhos, apoio da família), sobretudo a Liturgia, pois é nela que se faz a verdadeira experiência do mistério de Cristo Jesus.

Cuidemos para não cometermos os mesmos erros da catequese sacramental que vem sendo praticada há anos em nossa Igreja. Vamos dar significado às coisas, fazendo jus ao apelo na carta de Pedro: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês“ (1Pd 3, 15).


Ângela Rocha
Catequista e formadora.
Graduanda do 4º Período de Teologia - PUCPR

 

[1] CATECUMENAL vem de Catecumenato ou Catecúmeno, do Latim catechumenu, do Grego katechoúmenos, que significa “o que é instruído de viva voz”, aquele que se prepara e se instrui para receber o batismo.

[2] LIMA, Luiz. A situação da catequese hoje no Brasil. Revista de Catequese 143. Jan-jun 2014. São Paulo: UNISAL, 2014, p. 6-7.

[3] Idem.

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