Uma Igreja Desperta
(Marcos 13,33-37)
Jesus está em Jerusalém, sentado no monte das Oliveiras,
olhando para o Templo e conversando confidencialmente com quatro discípulos:
Pedro, Santiago, João e André. Vê-os preocupados por quererem saber quando
chegará o fim dos tempos. A Ele, pelo contrário, preocupa como viverão seus
seguidores quando já não o tenham entre eles.
Por isso, uma vez mais, mostra-lhes sua inquietude: “Olhai,
vivei despertos”. Depois, deixando de lado a linguagem aterradora dos
visionários apocalípticos, conta-lhes uma pequena parábola que passou quase
inadvertida entre os cristãos.
“Um senhor foi de viagem e deixou a sua casa”. Mas,
antes de ausentar-se, “confiou a cada um dos seus criados a sua tarefa”. Ao se
despedir, apenas lhes insistiu numa coisa: “Vigiai, pois não sabeis quando virá
o dono da casa”. Que, quando venha, não vos encontre a dormir.
O relato sugere que os seguidores de Jesus formarão uma
família. A Igreja será “a casa de Jesus” que substituirá “a casa de Israel”.
Nela, todos são servidores. Não há senhores. Todos viverão esperando o único
Senhor da casa: Jesus, o Cristo. Nunca devem esquecê-lo.
Na casa de Jesus ninguém deve permanecer passivo. Ninguém
deve sentir-se excluído, sem responsabilidade nenhuma. Todos são necessários.
Todos têm alguma missão confiada por Ele. Todos estão chamados a contribuir
para a grande tarefa de viver como Jesus. Ele viveu sempre dedicado a
servir o reino de Deus.
Os anos irão passando. Manter-se-á vivo o espírito de Jesus
entre os Seus? Continuarão a recordar o Seu estilo a serviço dos mais
necessitados e desamparados? Irão segui-Lo pelo caminho aberto por Ele? Sua
grande preocupação é que sua Igreja possa adormecer.
Por isso insiste até três vezes: “Vivei despertos”.
Não é uma recomendação aos quatro discípulos que o estão a escutar, mas um
mandato aos crentes de todos os tempos: “O que vos digo a vós digo-o a
todos: velai”.
O traço mais generalizado dos cristãos que não abandonaram a
Igreja é seguramente a passividade. Durante séculos temos educado os fiéis para
a submissão e a obediência. Na casa de Jesus, só uma minoria se sente hoje com
alguma responsabilidade eclesial.
Chegou o momento de reagir. Não podemos continuar a aumentar
ainda mais a distância entre “os que mandam” e “os que obedecem”. É pecado
promover o descontentamento, a mútua exclusão ou a passividade. Jesus deseja
ver-nos a todos despertos, ativos, colaborando com lucidez e responsabilidade no
seu projeto do reino de Deus.
José Antônio Pagola
Padre Jesuíta espanhol
“Passeando às margens do lago (em
Cafarnaum) e contemplando o nascer do sol todas as manhãs, eu me encontrei com
Jesus. Não me esqueci de que, ao pôr do sol, Jesus contemplava o Pai que faz surgir o sol tanto sobre os
bons, quanto sobre os maus."
Fonte:
https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/reflexao-do-evangelho-uma-igreja-desperta/
(Publicado no Instituto Humanitas em 01/12/2017).
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