Dia 3 de maio, o Papa Francisco presidiu a celebração de canonização
de sete beatos, incluindo Charles de Foucauld, beatificado em 2005.
O diretor do Serviço Nacional para as Relações com os
Muçulmanos da Conferência Episcopal francesa, padre Vincent Feroldi, recorda ao
Vatican News a figura de Charles de Foucauld e sua importância para a Igreja na
França e a comunidade muçulmana.
A futura canonização de Charles de Foucauld é uma grande
alegria para a Igreja na França. Esperamos desde que foi declarado Beato e
sabíamos que a canonização viria a seguir. É uma grande alegria porque Charles
de Foucauld é francês, nasceu no Grand Est, foi ordenado sacerdote em Viviers,
em Ardèche, antes de exercer o seu belo e grande ministério na Argélia. Ele é,
portanto, uma personalidade para nós hoje, e esta canonização será uma
oportunidade para todos nós descobrirmos ou redescobrirmos, aprofundarmos a
pessoa que é Charles de Foucauld, e que realmente me parece um Santo para o
nosso tempo. Olhando para a totalidade de sua vida e o que fez com os outros,
representa para nós um verdadeiro caminho para a missão hoje.
Imagem: Arquivo Vatican News
Por que
Charles de Foucauld é um Santo de nosso tempo?
Ele é uma verdadeira testemunha de fraternidade, mas demorou
muito para que descobrisse profundamente o que o Senhor esperava dele, e isso é
o que é muito interessante. Esta canonização nos permitirá olhar para a
totalidade da vida de Charles de Foucauld. Ele foi um homem em sua plenitude,
mas na diversidade, ele também é uma pessoa apaixonada.
Ele foi primeiro um soldado, depois um explorador,
principalmente no Marrocos, ele estava em uma busca contínua pelo sentido de
sua vida e do Senhor. É nessa globalidade que ele irá descobrir gradativamente
o que o Senhor espera dele. Queria viver em fraternidade, era o portador da
civilização, do que era para ele a verdade, isto é, o encontro com Cristo, e
depois nos seus fracassos. Em 1908: cai gravemente doente e descobre que,
finalmente, ele que foi levar Cristo aos tuaregues, mas são os tuaregues que
levarão a vida a ele, pois foram os tuaregues que o salvaram do escorbuto, e
assim inesperadamente ele vai compreender que o tempo de Deus não é o tempo dos
homens, e o que o Senhor lhe pede é, em última instância, "a cada um
seu trabalho", a Deus pelo Espírito para falar ao coração do homem, e
a ele Irmão Charles, de viver esta fraternidade no dia a dia com os que estão
ao seu redor, sobretudo com o povo tuaregue.
Charles de Foucauld, imagem de
arquivo
Para além da dimensão inter-religiosa, a dimensão missionária
é portanto muito forte.
Qual o legado de Charles de Foucauld?
Esta dimensão missionária é precisamente para nós um
verdadeiro desafio para compreender o que colocamos na palavra “missão”. Irmão
Charles, no início, é o portador deste Jesus Cristo. Ele fez saber que nunca
deixou de ter consigo o ostensório, e para ele a dimensão eucarística era muito
importante. Ele foi um portador de Cristo.
Aos poucos compreendeu que sua missão é antes de tudo viver a
fraternidade com os que o rodeiam, testemunhar a sua alegria no quotidiano.
Vemos que no final da vida é sobretudo a figura do linguista que emerge, que
vai recolher a cultura do outro, recolher textos, poemas, canções tuaregues. E
no centro disso, no centro dessa atenção para aqueles ao seu redor, finalmente
haverá a presença do Evangelho.
Esta missão de que dá testemunho é ser portador de Cristo,
portador da Boa Nova, na vida quotidiana partilhada e, sobretudo, deixar espaço
para que o Espírito de Cristo faça a sua obra no coração de cada homem. Charles
não estava ali para mostrar o caminho, mas para permitir a cada um encontrar
Jesus, não necessariamente da maneira que ele inicialmente imaginou, mas na
maneira que só Deus conhece, que é o caminho que é bom para cada um.
Para o Serviço Nacional para as Relações com os Muçulmanos da
Conferência dos Bispos da França, o que essa canonização significa para os
muçulmanos?
Para os muçulmanos, o Irmão Charles é um marabout, um
homem de Deus, então eles se regozijam em ver a valorização desse homem. Eles
irão finalmente, assim como nós, descobrir quem é Charles de Foucauld, porque
para muitos de nós, ele é aquele que viveu em Assekrem. Mas, Charles de
Foucauld é o itinerário de um homem em toda a sua complexidade, e que pouco a
pouco, no seu desejo de encontrar Deus, o irá encontrar, o irá contemplar, o
irá adorar, e que o convidará então a viver a fraternidade e o amor. Para os
muçulmanos da França, esta será a oportunidade de descobrir como um cristão em
um país muçulmano pode experimentar não só o encontro com o outro, naquele que
é o caminho que Deus desejou para ele.
Olivier Bonnel – Vatican News
FONTE: Vatican News
OBRA DE FOCAULD
Reconnaissance au Maroc, 1888.
Aos meus irmãozinhos, Vozes: 2020.
Meditações Sobre a Paixão do Senhor, Paulus Editora: 2016.
Legado Espiritual: Silencio y paz interior. Em espanhol, Editora: Independently Published, 2020.
Charles de Foucauld, Editora Orbis Books: 2005.
Luz no Deserto Retiros Notas e Correspondências de Charles de Foucauld, Editora Cultor de Livros: 2018.
Chants Touaregs. Em francês, Albin Michel, 1997.
Um pensamento para cada dia - Charles de Foucaud. Editora Ave Maria, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário