No subsídio catequético Crescer em Comunhão, da Editora Vozes, trabalhamos na 1ª Etapa da Eucaristia: Acolher Jesus; na 2ª Etapa: Seguir Jesus; e na 3ª Etapa: Aderir a Jesus. Começamos falando de Jesus na 1ª Etapa (ano) e somente na 2ª Etapa, passamos ao Antigo testamento. Isso pode causar certa estranheza pois, normalmente, começamos a catequese pela Criação (Gênesis).
Para que isso aconteça, é preciso conhecer a história da salvação contida no Antigo Testamento. Jesus é uma promessa divina de salvação. É o messias tão esperado. Por isso aprendemos “a quem seguir” cuja história começa na criação e nos patriarcas, se estendo a criação de Israel com seus juízes, reis e profetas.
Depois, numa terceira etapa vem o conhecimento da Igreja fundada pelos apóstolos, os sacramentos, a liturgia, costumes, tradições, ou seja, ali é que se "adere" realmente à causa maior de Jesus, o "Reino de Deus". É trabalhando na comunidade ajudando aos outros e sendo discípulo missionário que se adere de verdade à fé.
Jesus veio para fazer uma "Revelação", que somente por Ele se chega ao Pai. É por meio dos ensinamentos de Jesus que chegamos ao Pai, bondoso, amoroso, que perdoa e cura. Se começarmos a catequese pelo Antigo testamento, que Deus os catequizandos conhecerão primeiro? Aquele Deus dos patriarcas, exigente e que castiga o homem pelos seus erros, muitas vezes, até sem piedade. Será que é este Deus que converte? Não seria melhor primeiro aprender de Jesus o quanto o Pai é bom e só depois conhecer a caminhada do povo escolhido? Claro que o Antigo Testamento é muito importante, pois Jesus veio para dar continuidade a história do “povo de Deus”.
Alguns catequistas acham que é inútil falar em Antigo Testamento na catequese, principalmente às crianças, que não entendem o Deus do Antigo testamento. Inútil não é de forma alguma! É preciso, no entanto, dar "foco" ao antigo Testamento, à luz da Igreja de hoje, do mundo de hoje, da pedagogia de hoje.
Por exemplo, ao falar do Gênesis, valorizar a criação, a natureza, os animais e os homens criados por Deus. Ao citar os patriarcas estamos falando de um povo "escolhido" por Deus, de Abraão, de Moisés, que deixaram tudo que tinham por "confiança" em Deus; Juízes, reis, como as várias tentativas de se juntar um povo em torno de uma mesma fé; e os profetas como aqueles que vinham preparando o caminho para a chegada do Messias. Tudo tem importância. Claro que algumas leituras são mesmo muito difíceis de entender e podem ser deixadas para quando houver mais maturidade por parte do catequizando.
Lembro aqui a questão dos Diretórios Catequéticos da Igreja Católica, que colocam as seguintes premissas a serem ensinadas na catequese: A História da Salvação, a História de Jesus e a História da nossa Igreja.
No DGC (Item 85, 1997) encontramos: “(...) Aquele que encontrou Cristo deseja conhecê-Lo o mais possível, assim como deseja conhecer o desígnio do Pai, que Ele revelou. O conhecimento da fé (fides quae) é exigência da adesão à fé (fides qua). Já na ordem humana, o amor por uma pessoa leva a desejar conhecê-la sempre mais”. Ao falar do uso da Bíblia nas pastorais, o papa João Paulo II lembra que a catequese tem como primeira fonte a Escritura que, explicada no contexto da Tradição, fornece o ponto da partida, o fundamento e a norma de ensinamento catequético (DNC, 108).
Sobre as bases da catequese, além das quatro colunas da fé: Mandamentos (Bem-aventuranças), Credo, Pai Nosso e Sacramentos, acrescente-se:
(...) a dimensão
narrativa da História da Salvação, com suas três etapas, que provêm da
Tradição patrística (o Antigo Testamento, a vida de Jesus Cristo e a
História da Igreja). O Diretório Geral para a Catequese fala de “sete
pedras fundamentais, base tanto do processo da catequese de
iniciação como do itinerário contínuo do amadurecimento cristão” (DNC 130; DGC
128).
A questão de se colocar o “Novo” antes do “Antigo”, deixa de
ser um aspecto de “ordem” para se tornar
uma das premissas da evangelização, que deve ser Cristocêntrica, ou
seja, centrada em Cristo, conforme preceitua o documento Catequese Renovada (CR
94-95):
95. 1º - A unidade do conteúdo da
Catequese se faz ao redor da pessoa de Jesus Cristo. É o CRISTOCENTRISMO
da Catequese, (...) ilustrado pelo Papa João Paulo II no capítulo I da Catechesi Tradendae (nº 5-9).
96. Cristocentrismo significa não só
que Cristo deve aparecer na Catequese como a chave, o centro e o fim do homem,
bem como de toda a História humana (GS 10), mas que a adesão à sua pessoa e à
sua missão, e não só a um núcleo de verdades, é a referência central de toda a
Catequese (cf. EN 22).
97. O Cristocentrismo também exige
que, na apresentação de temas ou na vivência de experiências particulares, a
Catequese evidencie sua relação com o centro de tudo, Cristo.
Desta forma, a catequese em seu
princípio e fim, deve se centralizar na pessoa de Jesus Cristo, no anúncio (querigma) de sua missão entre
nós, a Salvação. E ainda, no DNC encontramos entre as características da
catequese renovada, o seguinte:
d) Catequese
cristocêntrica: conduz ao centro do Evangelho (querigma), à conversão,
à opção por Jesus Cristo que nos revela o Pai, no Espírito Santo (dimensão
trinitária), e ao seu seguimento. A catequese está a serviço da pessoa humana
em sua situação concreta (dimensão antropológica). Por isso ela educa para a
vivência do mistério d’aquele que revelou o homem ao homem, o novo Adão, Jesus
Cristo. É uma catequese cristológica com dimensão antropológica,
que leva a uma antropologia com dimensão cristológica. (DNC 13, d).
Assim sendo, colocar o Novo Testamento (Evangelhos) antes do
Antigo coloca primeiramente a pessoa de Jesus, como alguém a ser conhecido
pelas suas características e propósitos e só depois, colocar sua genealogia, sua
história como herdeiro da fé e “filho” de Deus, verbo feito carne.
Claro que não é “errado” iniciar a catequese pelo tema da Criação,
mas, a opção por se iniciar com o “querigma”, tem se tornado uma exigência do
mundo hodierno, onde já não se herda da família os rudimentos da fé e os
próprios pais não tiveram um querigma adequado.
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