imagem: google
18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – Jo 6. 24-35
As comunidades católicas teimam em desdizer algumas crenças populares
que veem o mês de agosto como portador de azar, e o consagram às vocações
eclesiais, dedicando uma semana às vocações ao ministério ordenado, uma semana
aos pais e às famílias, uma semana à vida religiosa consagrada e uma semana às
vocações à vida leiga, especialmente aos catequistas. Então, celebremos hoje a
vocação e a missão do ministro ordenado à luz da Palavra que a Igreja sugere
para o primeiro domingo de agosto.
Com a ajuda de Felipe, dos demais discípulos e de um adolescente anônimo,
Jesus havia saciado a fome da multidão contando apenas com alguns pães e
peixes. Depois de pedir que as sobras não fossem desperdiçadas, Jesus, se
retirara sorrateiramente, pois o povo, entusiasmado, queria entroná-lo como
rei. Ainda chocados com o que Jesus havia feito, os próprios discípulos se
surpreendem quando percebem que Jesus não está mais com eles. Desconcertados
com o sinal realizado pelo mestre e com sua recusa do poder, tiveram que
empreender sozinhos a travessia do lago, enfrentando o vento, a noite e a
agitação das águas.
Confusos, os discípulos abandonam à própria sorte o povo carente e
sofrido. Mas, dando-se conta de que Jesus e os discípulos haviam partido, este
mesmo povo consegue vaga em outros barcos e vai procurar Jesus do outro lado do
lago. Jesus é para eles a uma última tábua de salvação, aquele que pode
assegurar a eles o humano direito à alimentação. Entretanto, a atitude de Jesus
diante da multidão parece rude e desconcertante. “Vocês estão me procurando,
não porque viram os sinais, mas porque comeram os pães e ficaram
satisfeitos…” Sua discordância com as motivações que moviam o povo é mais do
que clara.
Será que a compaixão de Jesus diante de um povo cansado e abatido se
havia esgotada? Será que vem desta compreensão errônea que vem a frieza com que
recebemos o povo pobre que, alentado por sua fé tradicional, vem às nossas
capelas, paróquias e santuários pedindo sacramentos e bênçãos? O que Jesus faz
é chamar a atenção para algo mais fundamental que a simples ação de matar a fome
de um dia: pede o empenho de todos/as numa prática alternativa, a única capaz
de garantir para todos/as um pão que não se corrompe. Jesus aponta para o
projeto do Reino de Deus, centrado na partilha, e não na esmola.
Está claro que Jesus não se limita a reprovar o povo que conta
resignadamente com sua ajuda material e não consegue entender que ela apenas
sinaliza algo mais importante e fundamental. Ele exorta: “Não trabalhem pelo
alimento que se estraga; trabalhem pelo alimento que dura para a vida eterna… É
este o alimento que Filho do Homem dará a vocês, porque é ele que Deus marcou
com seu selo”. Jesus não veio distribuir o duro e amargo pão das sopas
populares, mas aquele fermentado, cozido e multiplicado pela Justiça, obra
coletiva do povo organizado e seus apoiadores. E confia esta obra de Deus aos
seus discípulos e discípulas…
Fazer a obra de Deus, ou agir como Deus age, significa acreditar naquele
que enviou Jesus, dar crédito àquele que achou bem não enviar alguém sabido e
poderoso, mas uma pessoa vulnerável, incapaz de oferecer pacotes de soluções,
mas que coloca sinais e metas de mudança, e dá o melhor de si pelos outros. O
pão que não se estraga e dura para sempre é o dom de si mesmo, o dom da própria
vida. E é essa é a obra que glorifica a Deus. Não podemos esquecer que doutrina
religiosa dá segurança mas também escraviza, e que o alimento distribuído sem
custos também embota a inteligência, acomoda e humilha.
Quem pergunta a Jesus “qual é a tua obra?” tem dificuldades reais de
reconhecer na ação solidária e compassiva de um/a simples filho/a de homem a
potente e transformadora ação de Deus. Jesus não está preocupado apenas
distribuir pão para matar a fome. O sinal que ele oferece é a cooperação e a
articulação dos dons e possibilidades que estão escondidas no próprio povo,
inclusive nas pessoas aparentemente mais fracas e mais humildes. É aqui que
reside o fermento que resulta num pão que não se estraga. E é a serviço que
disso que os ministros são primordialmente ordenados.
Jesus, mestre nos caminhos da vida, ajuda-nos a compreender os sinais
que realizas, a começar pela Eucaristia. Não deixes que a transformemos em
ritualismo mágico e intimista. Ajuda os ministros ordenados, generosos e
limitados como todos nós, a continuarem tua obra, tornando visíveis teus sinais
de compaixão e de solidariedade. Que eles sejam homens novos. E ajuda-nos a
vencer a tentação de canonizar os poderes e poderosos e menosprezar a mística
do fermento e da semente, própria dos pobres. Assim seja! Amém!
Texto de Itacir Brassiani
Fonte: cebi.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário