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segunda-feira, 2 de julho de 2018

APRENDENDO COM OS OUTROS



Foi em Guarapuava, na Catedral de Nossa Senhora de Belém que comecei meu aprendizado na catequese (Se é que, ser catequista, é uma questão de aprendizado... Se for, com certeza, é eterno). Aprendemos junto com nossos catequizandos a cada ano que passa. Não vamos plantando sementes e aprendendo a esperar a colheita? Isso casa bem com o fato de eu me achar “amadora”.
Uma das coisas que fez parte do meu "aprendizado" e que me chamou a atenção lá, é que a (o) catequista inicia a caminhada com as crianças na primeira etapa da catequese, ou seja, no primeiro ano, e acompanha a criança até ela receber o sacramento. No caso da eucaristia, são três anos. Acontece a mesma coisa com a catequese de Crisma, que é de dois anos. Claro que nem sempre a gente começa e termina com as mesmas crianças. Muitos mudam de horário, de dia, de período; por conta da escola e de outros compromissos. Mas a maioria fica com a gente. A não ser que nos odeiem...
E fiquei feliz outro dia ao ler uma reportagem sobre a educação na Finlândia, país localizado no norte da Europa. Achei muito interessante as escolas de lá. Os professores fazem algo como a catequese da Catedral: Acompanham as crianças por todo ensino fundamental. Se fosse por aqui, seria desde o jardim de infância até a quinta série mais ou menos. A justificativa para isso é a seguinte: Interagir com a criança, estabelecer laços de amizade e companheirismo com elas e com os pais. Interessante, não? E eles nem são muito ligados em religião por lá...
Outra coisa é que a escola é uma "extensão" de suas casas. Eles têm tarefas diárias que não tem nada a ver com a escola, como: cuidar das plantas, supervisionar a coleta de lixo, ajudar a cuidar dos mais novos, etc. E tiram os sapatos para entrar nas salas para não sujar o chão! Participam também de oficinas de arte e de pequenos ofícios. Aprendem a pregar um quadro na parede e a apertar parafusos. Elas gostam verdadeiramente de ir à escola. Isso faz com que muitas crianças fiquem com saudade da escola nas férias. Lá, férias é uma "chatice".
Guardadas as devidas proporções, afinal não podemos fazer uma comparação justa entre um país de primeiro mundo e o Brasil, acredito que se pode aprender muito com isso. Da experiência que tive ao acompanhar os mesmos catequizandos por três anos, posso dizer com certeza, que foi absolutamente válido do ponto de vista do que deve ser a Igreja, ou seja, uma "comunidade".
Aprendi as conhecer as crianças, suas realidades, seus hábitos e suas famílias. Coisa que é praticamente impossível em oito meses (quando chega a isso) de catequese em um ano. Pensemos que nesses oito meses, nos encontramos com nossos catequizados, quatro vezes por mês. Que conhecimento e que profundidade pode ter um relacionamento de 32 encontros? Isso se não tiver feriados e recessos pelo meio.
Um outro benefício disso tudo: nossos encontros não se tornam rotinas de conteúdos e nem viramos "especialistas" numa determinada etapa/fase. Isso gera crescimento. E o relacionar-se, gera amadurecimento e afinidade. Quer motivos melhores?
E vamos lembrar que Jesus ficou em torno de três anos com seus discípulos, até que eles estivessem prontos para pregar a sua palavra. E eram adultos, maduros, com personalidades e caráter formado já. E o catecumenato, a catequese dos primeiros tempos da igreja, também era assim. Um tempo onde se aprendia junto, um processo de crescimento contínuo e não um processo seriado e fragmentado como temos hoje.
O que eu vejo é que parece “complicado” para muitos catequistas viver esta experiência. Falta tempo para conhecer todos os conteúdos e com isso vai se especializando em determinados ensinamentos, sem levar em consideração a gradualidade e o amadurecimento da criança. Pior que isso é a desculpa de que, se na primeira etapa a criança paga um catequista “ruim”, vai ter uma catequese ruim sempre, que não prepara para os sacramentos e que não atinge os objetivos da iniciação cristã. Ora, como alguém pode admitir que existem catequistas “ruins”? Que podemos admitir até podemos, mas, não deveríamos “permitir” isso. Está aí os fracassos na iniciação cristã que vemos com os pais das crianças de hoje.
Acredito que o que falta para nós catequistas é mais “investimento” nas relações que temos na catequese. São tantas famílias que passam por nós, que às vezes nem chegamos a conhecer. São tantos catequistas que partilham a missão conosco, e que às vezes nem chegamos a tomar um cafezinho juntos. São tantos padres que convivem conosco, e nem chegamos a partilhar com eles nossos anseios, nossas esperanças, nossas carências.
É isso, falta investir no tempo, na partilha e no conhecimento do outro. Não dizem que só se ama aquilo que se conhece?
Ângela Rocha
Catequista em Formação

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