"Ninguém é feliz "sem querer", porque a felicidade não é daquelas experiências que nos acontece por acaso. É do Céu, porque é um Dom, mas não cai do céu, porque é Tarefa!"
A nossa existência é um dom. De fato, fomos chamados à existência sem sermos consultados e sem nos ter sido dada a possibilidade de escolher nada: nem raça, nem língua, nem cultura ou nacionalidade. O conjunto destes dons primordiais constitui o leque básico dos nossos talentos, o qual varia de pessoa para pessoa. Na verdade, começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Mas o mais importante é o que fazemos com o que recebemos dos demais.
A felicidade tem como alicerce uma vida edificada sobre as propostas do amor. Ninguém é capaz de amar antes de ser amado e o mal amado fica a amar mal, isto é, com bloqueios e cabeçadas, apesar de não ser culpado, mesmo quando dá o melhor de si.
Os seres humanos têm a tendência de pensar que a base da felicidade está no exterior, isto é, naquilo que nos acontece, no tipo de pessoas que encontramos, nos acasos do dia-a-dia ou no dinheiro que temos. Para a fé cristã, pelo contrário, a felicidade é algo que acontece no interior da pessoa, sobretudo quando esta se abre à presença do Espírito Santo que habita no seu íntimo. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). Por outro lado, a Primeira Carta de São João diz que Deus é Amor (1 Jo 4, 7).
Para a bíblia, a felicidade acontece de modo especial no coração da pessoa que se empenha em ser fiel à Aliança de Deus. Podemos dizer que a felicidade não é uma simples ausência de sofrimentos, dificuldades ou problemas. Na verdade, a felicidade é uma experiência de plenitude que se vai reforçando de modo gradual e progressivo a partir de dentro.
No ensinamento das Bem-Aventuranças, Jesus diz que as contrariedades e obstáculos da vida, não anulam a felicidade quando esta é alicerçada no amor e na fraternidade (Mt 5, 1-12).
Se olharmos para os textos bíblicos nos quais Deus foi indicando caminhos e propostas de realização humana, facilmente descobrimos as sugestões de felicidade que Deus nos propõe. Jesus disse que as pessoas que tomam a sério os critérios e as propostas de Deus têm todas as condições para serem pessoas felizes. Foi o que aconteceu com São Paulo, o qual foi perseguido e maltratado por causa de Cristo e do Evangelho e apesar de tudo isso ele sentia-se feliz no meio das suas tribulações: “Sinto-me profundamente alegre no meio de todas as minhas tribulações” (2 Cor 7, 4).
Viver de modo consciente os dons de Deus é uma razão profunda para o crente viver feliz: “Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus. E somo-lo de verdade (1 Jo 3, 1-2).
A felicidade é um dom de Deus mas é também uma tarefa nossa, pois Deus não nos substitui. Está conosco, mas não está no nosso lugar. Isto quer dizer que há uma série de atitudes e opções que não podemos deixar de realizar no dia-a-dia da nossa vida, a fim de edificarmos a felicidade.
Eis algumas atitudes importantes que devemos cultivar, a fim de atingirmos esse estado de paz interior e alegria próprio das pessoas felizes:
- Aprender a viver com aquilo que não podemos mudar.
- É muito importante aprendermos a aceitar-nos, apesar das nossas limitações.
- Cultivar pensamentos construtivos e partilhar com os outros uma visão positiva da vida.
- É fundamental cultivar a honestidade consigo e os outros.
- Felizes dos que enfrentam as dificuldades da vida com confiança, procurando viver unidos a Deus.
- É muito importante não andarmos sempre a comparar-nos com os demais.
- Não nos devemos deixar esmagar por situações cuja solução não está nas nossas mãos.
- Não será feliz quem não aprende a partilhar com os outros o seu tempo, os seus bens e o seu saber.
- É importante cultivar o sentido de humor, impedindo que os pensamentos negativos nos dominem.
- Não nos devemos esquecer de cuidar de nós. Quem não gosta de si não conseguirá gostar dos outros.
- Ajudemos os outros sempre que se nos ofereçam ocasiões de o fazer.
- Mantenhamo-nos o mais possível calmos, evitando situações de stress.
- Procuremos ser moderados na comida e na bebida.
- Nas relações com os outros procuremos adoptar atitudes de humildade e discrição.
- É muito importante aprender a escutar as mensagens que os outros nos querem transmitir.
- Procuremos estar sempre actualizados nos assuntos que fazem parte do nosso trabalho ou missão.
- Cultivemos a capacidade de partir de uma situação para outra.
- As mudanças trazem com frequência novas possibilidades de crescimento e realização pessoal.
- Procuremos viver a vida com paixão.
- Mantenhamo-nos ocupados com coisas das quais gostamos verdadeiramente.
- Respeitemos os outros como gostaríamos de ser respeitados por eles.
- Não ponhamos como objectivo da nossa vida o simples amontoar de riquezas.
- Lembremo-nos sempre de que a fonte da felicidade é o amor e não o dinheiro. Isto quer dizer que as pessoas que têm muito dinheiro, se quiserem ser felizes, têm de pôr o dinheiro ao serviço do amor.
- Procuremos ser gratos para com os outros, aceitando os seus dons e as oportunidades de realização que eles nos oferecem.
- Elaboremos objetivos de vida e procuremos realizá-los, numa linha de fidelidade a nós mesmos.
- Não percamos de vista as metas e objetivos que pretendemos alcançar.
- Dentro do possível evitemos endividar-nos, procurando gerir os nossos bens de modo a bastar-nos.
- Não corramos riscos incontrolados, sobretudo não nos comprometamos em campos que não conhecemos e não controlamos.
Porque ninguém é feliz "sem querer", porque a felicidade não é daquelas experiências que nos acontece por acaso. É do Céu, porque é um Dom, mas não cai do céu, porque é Tarefa!
Pe. Santos Calmeiro Matias, cssr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário