OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 9 e 10
(Mateus 5, 6 e 7)
Pe. Rui Santiago, cssr.
O NONO ENSINAMENTO – Não julgar (Mt 7, 1 e ss).
Não julgueis, para que não sejais julgados.
É um mandamento tão simples: Não julgar! Como é que não entendemos ainda? A não olhar para o outro condenando-o. Quantas vezes já dissermos na nossa vida: “Ah, se eu soubesse...”. Julgamos alguém por causa desta ou daquela situação, por aquela palavra, por aquela maneira de reagir, e julgamos e fazemos logo um “filme” que continua em nossa cabeça. Depois a gente descobre que a pessoa estava assim porque tinha perdido alguém nesse dia. E nós? “Ah se eu soubesse...”. Pois é, não sabia, nuca sabe. Admita que diante do outro está sempre diante de um mistério, sempre. Até aquela pessoa com quem vive há 40 anos, na mesma casa. Você não tem o manual de instrução desta pessoa não! Há muita coisa que essa pessoa faz, diz, reage que você não sabe de onde vem e nem porquê. Você vive consigo mesmo deste que nasceu e não se entende! Vai tentar entender os outros?
Pelo menos, a humildade. Quantas vezes eu digo: Não sei como fiz isso, isso não sou eu! Quantas vezes reconhecemos que somos um mistério para nós mesmos. Que não entendemos muitas das nossas reações, escolhas, medos, ansiedade, opções, intenções... Se eu sou tão enigmático para mim mesmo, como é que pode passar pela minha cabeça que eu tenha conhecimento sobre alguém, suficiente para julgá-lo? Como? Se você não tem o conhecimento suficiente para se converter, para partir do princípio que está diante de um mistério... Não é que “se eu soubesse”, a verdade é que você não sabe mesmo!
Nós aprendemos com Jesus a não condenar ninguém, sobretudo quem está condenado pelos profissionais da condenação que existem em todos os tempos e lugares. Sobretudo quem já está condenado pela sua condição de sofrimento interior. Nós aprendemos com Jesus a não condenar. Ninguém, ponto! Não é ninguém exceto qualquer coisa. É ninguém mesmo! Exceto somos nós que inventamos. No Evangelho não está. Nós não sabemos o outro decor.
Não julgar não é apenas generosidade. Não julgar é uma questão de consciência da própria ignorância, de não saber do outro. Não julgar vem da humildade. De reconhecer que não conhecemos o suficiente para acertar.
Por isso Jesus culmina esta conversa desse nono ponta da espiritualidade prática aqui, no versículo 12: Não julgareis, não julgarás. Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a vocês. Nisso está a essencialidade da lei e dos profetas.
O DÉCIMO
ENSINAMENTO – (Mt 7,6).
Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.
A décima pérola da sabedoria Jesuânica, o décimo ensinamento da espiritualidade prática está em Mt 7,6, que diz, em outras palavras:
Olha que nem tudo vale a pena. Não morra por qualquer coisa. Não vá chafurdar em qualquer coisa. Não entregue o teu melhor, não coloque o melhor de ti nas mãos de um motivo qualquer. Quantas vezes se mata por aquilo que não tem importância nenhuma? Não se gaste nem se desgaste. Não seja casmurro querendo que tudo e todos aceitem seu ponto de vista. Primeiro que é só a vista de um ponto. Segundo porque até isso vemos mal. Terceiro porque não é assim tão importante ter razão. Quando você luta a chafurdar na lama para pôr um colar de pérolas no pescoço de um porco... Deixa pra lá. Há nisso, neste “não deis as coisas santas aos cães” , as pérolas aos porcos... há nisso um convite de Jesus muito prático e muito importante, mais ainda, há um convite a ter sempre na sua vida um reservatório do sagrado. Quer dizer uma intimidade consagrada a ser oferecida só face a face. Uma intimidade, um segredo vital que só se entrega mão a mão.
Jesus propôs isto, ensinou isto antes de haver redes sociais. Parece que isso se perdeu um “pouquinho”, a noção de reserva, do íntimo, do sagrado, do inviolável, da relação, do que é para ser face a face, que só se entrega em mãos. Cuidado! Cuidado com o lamaçal, cuidado com a pocilga, o chiqueiro... não coloque as pérolas da sua vida num chiqueiro, porque as pérolas são coisas para você entregar na surdina, é por o anel que se coloca no dedo em surdina. As pérolas são para fazer um colar que se coloca no pescoço, em surdina. As pérolas transportamos para o mundo do face a face. Não as desperdice, quando eles não querem, não as percebem, não lhes dão valor, vão pisar e depois atirar contra vocês como se fossem pedras. Ou seja, faça o discernimento do que vale a pena e do que não vale. Das lutas que valem a pena lutar e das lutas que faz à toa, que passam... Quais são as lutas que merecem a sua vida. Dizem que são poucas, muito poucas.
Estas são as 10 pérolas de sabedoria prática de Jesus que estão no Evangelho de Mateus, capítulos 5, 6 e 7. Vamos escutar um poema oração, a “Palavra-Pessoa” do poeta Daniel faria:
“Há uma palavra, esta que chamamos amor (EVANGELHO), que é uma palavra-pessoa, pois só se fala dela se existe um sujeito do outro lado dela. Há essa Palavra-gente... Só posso viver, só quero viver cabendo nela, uma palavra que me pronuncia, um verbo que se conjuga comigo. Há então, essa palavra-pessoa e posso amá-la e quero amá-la até a transformação. Essa palavra gente me busca e me molda. Me faz e me consome...”.
Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.
Obs. Transcrição do sermão feito no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.
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