O SEXTO ENSINAMENTO – Tenha coerência (Mt 5, 37).
Sim, sim, não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.
Não é um “nim”, é diabólico isso. O que está em questão é a ruptura, a separação, a divisão entre o sim e o não. É preciso ter autenticidade existencial, saber para que lado se está virado, coerência no que gosta e no que não gosta.
Não somos camaleões para nos colocarmos da cor da parede, no discurso feito no momento. Não tenha más intenções, não esconda a mão no jogo da vida. Fazer o discernimento do espírito em nós é a linguagem do Novo Testamento: Por que gosto disso? Por que gosto de estar ali? Por que decido assim? Por que falo? Sem enganar a mim mesmo, o que eu procuro? No fundo, qual é a minha intenção. Não seja dúbio, enganador. Acima de tudo opte pela ousadia de não ser manhoso consigo mesmo. Não enganar a mim mesmo nas minhas intenções. Começa por aí.
Mas, atenção! Que o modo de falar o sim, sim e o não, não, não tenha nada a ver com ser bruto. Tipo: “Não me calo, a mim ninguém cala”. Isso é só brutalidade, de gente que não cresceu, mais nada. “A verdade, eu digo todas”, como você disse isso? Porque é verdade! Nãos e trata da verdade como palavra, a verdade para o ser humano é a verdade que se põe numa relação.
Se uma criança de seis anos desenha um gato porque ouviu a história, e você diz: “Que avião bonito!”. Desenha mal o menino, muito mal... pois é... diga que está bonito, mas que pode desenhar de novo. Isso cria uma relação de verdade. Eu não digo: “É um gato? Qual a raça desse gato? Persa ou Boeing 747?”. Não vamos confundir. A verdade humana tem V maiúsculo, é um formato existencial, não crueza de comunicação. Não tem a ver com a maneira como falamos, mas a maneira como existimos diante de mim, dos outros e de Deus.
O que está em causa é ter espinha dorsal, não viver para agradar a gregos e troianos. Não é possível viver sem optar. Não é possível! Conhecemos as vezes, pessoas que passam pela vida sem tomar decisões ou opções que a comprometam. A gente percebe que são gelatinas humanas, vira um “treme-treme”. Lá pelo meio da vida não é possível viver sem escolher as opções. Porque as opções que se toma para você ser quem é, não podem ser guardadas pra si mesmo, correndo o risco delas se tornarem verdadeiras opções, porque as opções só são humanas quando postas em prática. Porque o ser humano faz-se fazendo-se e fazendo por suas opções.
Uma pessoa “invertebrada” é um espetáculo lamentável. Gente que diz um sim envergonhado a tudo e todos, e na hora da verdade fogem. Depois nós não temos o dom da obliquidade. Há três coisas que são uma desgraça (contrário de uma vida graciosas, cheia de graça): espetáculo triste, de doer o coração, dar pena, bradam aos céus:
- Uma criança mal-amada – lidar com uma criança mal-amada é um espetáculo triste;
- Um velho insensato – é uma tristeza, espetáculo dramático;
- Um adulto que vai ao saber do vento, um adulto invertebrado que por qualquer opinião se fia – coisa triste.
Que Deus nos ajude e nossas crianças sejam bem-amadas e felizes, que sejamos velhos sensatos e sábios e que sejamos adultos com estrutura, com coluna, com espinha dorsal.
Os puros de coração verão a Deus. O que está em jogo é a inocência do coração – que não tem nada a ver com ingenuidade, que é não perceber o que está acontecendo na vida, no mundo, nos acontecimentos. Não ser capaz de discernimento do que é válido e maduro nas situações. Jesus não propõe ingenuidade como modelo de vida, não faz parte da sua espiritualidade prática. Mas, Jesus fala de inocência, que é agir sem malícia, não ter maldade no olhar para os outros, não ter malícia nas intenções, no discernimento que se faz dos fatos, nas decisões que se tem, nas avaliações que se faz.
Pe. Rui Santiago - Centro
de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.
Obs. Transcrição do sermão feito no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.
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