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domingo, 16 de março de 2014

CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO

Para subsidiar os encontros sobre a "Criação". Um excelente texto de Helena Okano.
Aqui em nossa diocese trabalhamos o tema na segunda etapa (2º ano, Tempo) da Eucaristia.

CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO

O surgimento da vida é um dos maiores enigmas da ciência e o ponto de partida para a história da evolução. A vida parece ter emergido há cerca de 3,5 bilhões de anos e o gênero humano surgiu há cerca de 2 milhões de anos.

Já ouvimos alguém dizer: Sou criacionista, aceito a Bíblia logo, não aceito a evolução. Outros dizem: aceito a evolução, logo questiono a Bíblia e tenho problemas com o Cristianismo.

Os criacionistas defendem que a espécies teriam surgido prontas e acabadas,  e interpretam os relatos bíblicos como históricos e científicos. A crença na criação (dogma da criação) é aceita por todos os cristãos mas, a grande maioria deles não é criacionista.

Já os evolucionistas (Lamarck, Darwin, etc.) afirmam que as espécies surgiram uma das outras por um longo processo evolutivo discutindo ainda como teria ocorrido essa evolução.

Para a Teologia, opor evolução e criação, é um equívoco que empobrece nossa visão de mundo e de Deus, e impossibilita uma posição de  diálogo entre religião e ciência nesta área.

O papa João Paulo II afirmou em 1996 que não há oposição entre evolução e a doutrina da fé católica [1] . Os conceitos de criação e evolução se explicam mutuamente. A criação é um artigo da fé dos que crêem que alguém criou, mas criou de tal modo que o pensamento científico pode representar a criação em uma série de estágios definidos. É por meio da evolução que a criação se “desdobra dentro da vontade e da orientação de Deus”. Quanto mais se leva em conta que as diferentes formas de vida não surgiram ao mesmo tempo, que é o que se deve aceitar baseado no conhecimento científico atual, mais inevitavelmente chega-se ao reconhecimento de que Deus não criou tudo de uma vez. Ele está continuamente criando algo novo.
Evolução é artigo da ciência e pode ser provado, enquanto a CRIAÇÃO é um artigo da fé, que exige crença para ser afirmada. O importante é que ambas podem ser aceitas sem contradição tanto pelo cientista que crê como pelo religioso que busca uma visão científica do Universo.

Origem da vida no livro do Gênesis

Gênesis é uma palavra grega que significa nascimento, origem. O primeiro livro da Bíblia foi assim chamado porque nele encontramos as narrativas sobre as origens do mundo, da humanidade e do povo de Deus.
  O conteúdo do livro tem o aspecto de uma verdadeira “colcha de retalhos” formada por lendas, “causos”, historinhas mais ou menos desenvolvidas, genealogias, materiais diferentes que foram alinhavados. Podemos dizer que o livro levou quase mil anos para chegar à forma com que nós o conhecemos hoje.
  No início do Gênesis encontramos duas narrativas sobre a criação. Pertencem a épocas diferentes e refletem situações e problemas diferentes. Nenhuma das duas pretende ser um relato científico das origens do mundo e do homem.
  Elas estão preocupadas em responder a determinadas perguntas e problemas dentro de um determinado tempo e situação. Não foram os primeiros escritos da Bíblia e não são obras de um mesmo autor.

  A 1ª narrativa da criação: Gênesis 1.

Nasceu durante o exílio na Babilônia (586-538  a.C) e é obra de sacerdotes. Os judeus nesse tempo corriam o risco de perder a própria identidade, cultura e religião, e assimilar o ambiente estrangeiro. Seu país havia sido ocupado pela superpotência da época, o templo em Jerusalém destruído, a cidade arrasada. Diante da desolação, fome, povo sem esperança, sem liberdade, perguntavam-se:
    - Qual o sentido da vida?
    - Por que tinham acontecido aquelas desgraças?

Gênesis 1-11 foi escrito para trazer vida e esperança para recomeçar e ser criativo nas situações mais “caóticas” da existência. Não é uma teoria científica sobre a origem da vida e do ser humano. A forma literária dessa narração bíblica tem semelhança com a  linguagem usada nas culturas mesopotâmicas, egípcias e canaanitas.

Descrita com metáforas e mitos é um gênero chamado “parábola histórica”, uma maneira pré-científica de compreender e de falar. Tudo foi criado pelo poder da Palavra de Deus (“E Deus disse...”). Na época da redação do texto, os dias iniciavam ao começar da noite  “e houve uma tarde e uma manhã”, ou seja, quando se podiam contar três estrelas no céu já era considerado um novo dia.

  Deus cria até o sexto dia e Deus viu que o que havia criado era bom. Quando aparece o ser humano, no 6º dia, Deus viu que era “muito” bom. O sétimo dia, para os judeus, é o ponto alto da Criação, o dia mais Sagrado da semana, quando Deus descansa. (Para os cristãos, com a Ressurreição de Jesus Cristo, tem início uma nova Criação. O Domingo, primeiro dia da semana toma o lugar do Sábado diferenciando-se dos judeus).
  Deus criou tudo voltado para a vida, a tarefa do homem é também preservar e criar mais vida.

O segundo relato da Criação: Gênesis 2, 4b-25.

Embora colocada depois, esta segunda narrativa sobre a criação é muito anterior à primeira. Ela foi redigida no tempo de Salomão (971-931 A.C) e reflete uma preocupação com a fertilidade do solo, certamente do agricultor. O próprio Deus é quem faz, modela o Homem e a Mulher. O ser humano é colocado num jardim (paraíso), dá nome aos animais que significa ter senhorio, por isso deve guardar e cuidar da criação.  Neste capítulo estão misturados o ideal popular (solo fértil) e a ideologia do rei (paraíso) para justificar a situação política, econômica e social do povo no tempo da monarquia.

A função das narrativas da criação, portanto, não é dar uma explicação científica para as origens do mundo e da humanidade. Elas estão preocupadas em responder a determinadas perguntas e problemas dentro de um determinado tempo e situação.

Autora: Helena M. Okano

[1] Mensagem do Papa João Paulo II à Academia Pontifícia para as Ciências, 22 de Outubro de 1996.

FONTES CONSULTADAS:
  Storniolo, Ivo; Balancim, Euclides M. Como ler O livro do Gênesis. 11ª Ed. São Paulo: Paulus, 2008.
Boff, Clodovis; e outros. Criação e Evolução. São Paulo:  Ave Maria, 2009.
Perondi, Ildo. Gênesis. Texto apostilado s/ data. Londrina: PUC.
Artuso, Vicente. Temas do Pentateuco. Texto Apostilado s/data. Londrina: PUC.


3 comentários:

Monte Cristo e Promorar disse...

Eu já havia lido semelhante comentário bíblico. Meu problema é que no nosso Manual de 1ª Eucaristia da Arquidiocese de Florianópolis, aborda à maneira antiga. Eu tenho um texto do Manual de Aparecida, mas quase que preciso pedir licença ao Pároco, pois o Coordenador está fiscalizando se estamos seguindo o livro.

Monte Cristo e Promorar disse...

È também particularmente, apesar de ter contato com comentários sobre o Pecado Original, este é o que mais me atrapalha.

Ângela Rocha disse...

Temos em nosso livro Crescer em Comunhão um encontro cujo tema é o seguinte: "Pecado é viver longe de Cristo"... e eu nem preciso colocar aqui como desenvolver o tema, o título já diz tudo. Penso, como diz a Helena no texto que o "pecado original" foi uma forma de se ver as coisas num determinado tempo onde se exigia que assim fosse visto. Ora, se a união carnal do homem e da mulher fosse pecado, por que Deus criaria o gênero humano com a anatomia necessária a esta união? Deus criou os animais e os homens para se reproduzirem, por que seria então pecado?