Aqui em nossa diocese trabalhamos o tema na segunda etapa (2º ano,
Tempo) da Eucaristia.
CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO
O surgimento da vida é um dos maiores enigmas da ciência e o ponto de
partida para a história da evolução. A vida parece ter emergido há cerca de 3,5
bilhões de anos e o gênero humano surgiu há cerca de 2 milhões de anos.
Já ouvimos alguém dizer: Sou criacionista, aceito a Bíblia logo, não
aceito a evolução. Outros dizem: aceito a evolução, logo questiono a Bíblia e
tenho problemas com o Cristianismo.
Os criacionistas defendem que a espécies teriam surgido prontas e
acabadas, e interpretam os relatos bíblicos como históricos e
científicos. A crença na criação (dogma da criação) é aceita por todos os
cristãos mas, a grande maioria deles não é criacionista.
Já os evolucionistas (Lamarck, Darwin, etc.) afirmam que as espécies
surgiram uma das outras por um longo processo evolutivo discutindo ainda como
teria ocorrido essa evolução.
Para a Teologia, opor evolução e criação, é um equívoco que empobrece
nossa visão de mundo e de Deus, e impossibilita uma posição de diálogo
entre religião e ciência nesta área.
O papa João Paulo II afirmou em 1996 que não há oposição entre evolução
e a doutrina da fé católica [1] . Os conceitos de criação e evolução se
explicam mutuamente. A criação é um artigo da fé dos que crêem que alguém
criou, mas criou de tal modo que o pensamento científico pode representar a
criação em uma série de estágios definidos. É por meio da evolução que a
criação se “desdobra dentro da vontade e da orientação de Deus”. Quanto mais se
leva em conta que as diferentes formas de vida não surgiram ao mesmo tempo, que
é o que se deve aceitar baseado no conhecimento científico atual, mais
inevitavelmente chega-se ao reconhecimento de que Deus não criou tudo de uma
vez. Ele está continuamente criando algo novo.
Evolução é artigo da ciência e pode ser provado, enquanto a CRIAÇÃO é um
artigo da fé, que exige crença para ser afirmada. O importante é que ambas
podem ser aceitas sem contradição tanto pelo cientista que crê como pelo
religioso que busca uma visão científica do Universo.
Origem da vida no livro do Gênesis
Gênesis é uma palavra grega que significa nascimento, origem. O primeiro
livro da Bíblia foi assim chamado porque nele encontramos as narrativas sobre
as origens do mundo, da humanidade e do povo de Deus.
O conteúdo do livro tem o aspecto de uma verdadeira “colcha de
retalhos” formada por lendas, “causos”, historinhas mais ou menos
desenvolvidas, genealogias, materiais diferentes que foram alinhavados. Podemos
dizer que o livro levou quase mil anos para chegar à forma com que nós o
conhecemos hoje.
No início do Gênesis encontramos duas narrativas sobre a criação.
Pertencem a épocas diferentes e refletem situações e problemas diferentes.
Nenhuma das duas pretende ser um relato científico das origens do mundo e do
homem.
Elas estão preocupadas em responder a determinadas perguntas e
problemas dentro de um determinado tempo e situação. Não foram os primeiros
escritos da Bíblia e não são obras de um mesmo autor.
A 1ª narrativa da criação: Gênesis 1.
Nasceu durante o exílio na Babilônia (586-538 a.C) e é obra de
sacerdotes. Os judeus nesse tempo corriam o risco de perder a própria
identidade, cultura e religião, e assimilar o ambiente estrangeiro. Seu país
havia sido ocupado pela superpotência da época, o templo em Jerusalém
destruído, a cidade arrasada. Diante da desolação, fome, povo sem esperança,
sem liberdade, perguntavam-se:
- Qual o sentido da vida?
- Por que tinham acontecido aquelas desgraças?
Gênesis 1-11 foi escrito para trazer vida e esperança para recomeçar e
ser criativo nas situações mais “caóticas” da existência. Não é uma teoria
científica sobre a origem da vida e do ser humano. A forma literária dessa
narração bíblica tem semelhança com a linguagem usada nas culturas
mesopotâmicas, egípcias e canaanitas.
Descrita com metáforas e mitos é um gênero chamado “parábola histórica”,
uma maneira pré-científica de compreender e de falar. Tudo foi criado pelo
poder da Palavra de Deus (“E Deus disse...”). Na época da redação do texto, os
dias iniciavam ao começar da noite “e houve uma tarde e uma manhã”, ou
seja, quando se podiam contar três estrelas no céu já era considerado um novo
dia.
Deus cria até o sexto dia e Deus viu que o que havia criado era
bom. Quando aparece o ser humano, no 6º dia, Deus viu que era “muito” bom. O
sétimo dia, para os judeus, é o ponto alto da Criação, o dia mais Sagrado da
semana, quando Deus descansa. (Para os cristãos, com a Ressurreição de Jesus
Cristo, tem início uma nova Criação. O Domingo, primeiro dia da semana toma o
lugar do Sábado diferenciando-se dos judeus).
Deus criou tudo voltado para a vida, a tarefa do homem é também
preservar e criar mais vida.
O segundo relato da Criação: Gênesis 2, 4b-25.
Embora colocada depois, esta segunda narrativa sobre a criação é muito
anterior à primeira. Ela foi redigida no tempo de Salomão (971-931 A.C) e
reflete uma preocupação com a fertilidade do solo, certamente do agricultor. O
próprio Deus é quem faz, modela o Homem e a Mulher. O ser humano é colocado num
jardim (paraíso), dá nome aos animais que significa ter senhorio, por isso deve
guardar e cuidar da criação. Neste capítulo estão misturados o ideal
popular (solo fértil) e a ideologia do rei (paraíso) para justificar a situação
política, econômica e social do povo no tempo da monarquia.
A função das narrativas da criação, portanto, não é dar uma explicação
científica para as origens do mundo e da humanidade. Elas estão preocupadas em
responder a determinadas perguntas e problemas dentro de um determinado tempo e
situação.
Autora: Helena M. Okano
[1] Mensagem do Papa João Paulo II à Academia Pontifícia para as
Ciências, 22 de Outubro de 1996.
FONTES CONSULTADAS:
Storniolo, Ivo; Balancim, Euclides M. Como
ler O livro do Gênesis. 11ª Ed. São Paulo: Paulus, 2008.
Boff, Clodovis; e outros. Criação e Evolução. São
Paulo: Ave Maria, 2009.
Perondi, Ildo. Gênesis. Texto apostilado s/ data. Londrina:
PUC.
Artuso, Vicente. Temas do Pentateuco. Texto Apostilado s/data. Londrina:
PUC.
3 comentários:
Eu já havia lido semelhante comentário bíblico. Meu problema é que no nosso Manual de 1ª Eucaristia da Arquidiocese de Florianópolis, aborda à maneira antiga. Eu tenho um texto do Manual de Aparecida, mas quase que preciso pedir licença ao Pároco, pois o Coordenador está fiscalizando se estamos seguindo o livro.
È também particularmente, apesar de ter contato com comentários sobre o Pecado Original, este é o que mais me atrapalha.
Temos em nosso livro Crescer em Comunhão um encontro cujo tema é o seguinte: "Pecado é viver longe de Cristo"... e eu nem preciso colocar aqui como desenvolver o tema, o título já diz tudo. Penso, como diz a Helena no texto que o "pecado original" foi uma forma de se ver as coisas num determinado tempo onde se exigia que assim fosse visto. Ora, se a união carnal do homem e da mulher fosse pecado, por que Deus criaria o gênero humano com a anatomia necessária a esta união? Deus criou os animais e os homens para se reproduzirem, por que seria então pecado?
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