Num dos meus encontros do mês de agosto, falávamos sobre
vocação. Isso porque uma das meninas me perguntou porque o padre não podia
casar e eu era casada e tinha quatro filhos. Isso despertou a conversa e eu fui
contar a eles como comecei a ser catequista.
E falei do meu primeiro ano, onde, só com a cara e
a coragem, enfrentei uma turma de 1º ano da Eucaristia. Eram 12 os meus
catequizandos, assim como os discípulos. Essas "coincidências" que só
mesmo Deus consegue permitir.
E entre meus catequizandos havia uma turminha
difícil de controlar. Mas, eram só "crianças" querendo ser crianças.
Eu me consolava porque tinha uns 2 ou 3 "anjinhos" também. Mas, um
deles me tirava do sério sempre. Era incontrolável e sua energia parecia que não
ia acabar nunca. E ele quase me fez desistir. Passados seis meses eu vivia
pensando em criar uma desculpa fenomenal para convencer a coordenadora a me
tirar daquele "pesadelo". Eu simplesmente não consegui mais nem olhar
pra cara do menino! Tinha uma vontade louca de lhe dar umas palmadas e dar uns
gritos em todo encontro.
Foi quando, numa caminhada pra casa com ele, (meu
"pequeno pesadelo" ainda ia pro mesmo lado que eu), que Jesus me deu,
enfim, os motivos para ter me colocado naquilo tudo:
- Tia, sabe qual é meu dia preferido da semana?
- Não.
- Quarta-feira. Porque tem catequese.
- É mesmo? O que você faz nos outros dias?
- Fico em casa sozinho, tem a diarista, mas, ela
não conversa comigo. Você conversa.
E o meu "menino-problema" foi o
"porrete" que Jesus usou pra me acertar. Como eu podia ter raiva e
não gostar de uma criança que fazia de tudo só pra "falar comigo"?
Contei então às minhas crianças da catequese de
hoje, 2014, como foi entender aquela criança há nove anos atrás. Que todo “barulho”
que ele fazia, o trabalho que ele me dava era, simplesmente, para ter uma atenção
que ele não tinha em casa. Que o amor que recebi dele foi o motivo que me fez
ser catequista e "estar" catequista até hoje.
E no último encontro, batendo papo com as crianças
elas me contavam dos seus colegas de escola, dos peraltas, dos irrequietos,
daqueles que não deixavam ninguém em paz...
Então a Gabi, parando no meio da história do menino
da sala dela que infernizava a professora, me veio com essa:
- Deve ser, Tia Angela, igual aquele menino que
você contou pra nós, não deve ter ninguém para dar atenção pra ele em casa...
E a gente pensa que o que falamos não dá resultado,
que entra por um ouvido e sai pelo outro...
Ângela Rocha
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