Já há algum tempo venho
estudando, lendo, me informando e me interessando por tudo que diz respeito à
Iniciação á Vida Cristã. Que na verdade não se trata de nenhuma novidade, e
sim, de uma proposta de fazer renascer o modelo catecumenal de catequese em
nossa Igreja.
Fiz inúmeras formações, li
praticamente tudo que foi editado a respeito. Assisti palestras de vários
padres a respeito e minha pós-graduação em catequética foi praticamente baseada
na iniciação à vida cristã. Se for preciso, acho até dou palestras sobre o
assunto, de tanto que li! Mas, teoria... só tenho visto teoria.
Só que em nenhum eu descobri
como é que vamos transformar a realidade a partir de um anúncio que ninguém
fez...
E os inúmeros catequistas que se
deparam com a “novidade” (que até já é um tanto velha), ainda estão se
perguntando afinal, o que a Igreja quer que eles façam para uma catequese de
verdadeira "Iniciação à Vida Cristã".
Apesar de muitos manuais e
livros publicados, ninguém ainda apresentou um modelo satisfatório para a dita cuja
Iniciação. Eu mesma respondo sempre que as mudanças são de "postura",
ou seja, de comportamento, de foco, de "jeito" e que é preciso que toda a paróquia mude, não só a
catequese. Tenho visto vários modelos implantados por aí, mas, sempre com crianças e adolescentes, nada de adultos ainda, que são os principais
focos desta re- evangelização e anúncio.
Mas, e como é que a gente muda
esse "jeito"? E várias respostas já foram dadas: Primeiro que
precisamos ser "pró-ativos", depois que precisamos inserir a família
na catequese, valorizar o jovem e, até mesmo, promover uma iniciação com os
próprios catequistas.
A grande verdade de tudo isso
é que estamos fazendo tudo pelo avesso. Ainda e apesar, de tanta informação e
cursos a respeito.
Primeiro estamos começando com
as crianças quando deveríamos priorizar os adultos. Depois que estamos
esquecendo a importante fase do querigma (anúncio) onde, anunciado, Jesus se
torna experiência de encontro e, este encontro, se tornar sede de se conhecer
mais sobre Ele e sua Igreja. E fazemos catequese como se todos já estivessem
convertidos! Parece que todo mundo nasceu cristão e viveu num lar cristão!?
E então, lá, quando nossos
jovens estão prestes a receber o sacramento da Crisma, é que a gente vai se
preocupar se eles vão mesmo praticar o seguimento à Igreja de Jesus. E eu nem
preciso dizer que a maioria, se isso fosse uma “prova”, não passaria.
Vejam só os retiros que se fazem,
próximos à Crisma. Se a gente analisar bem, deixamos para fazer o “querigma”, o
"primeiro" anúncio, quando os jovens estão saindo da catequese! Isso num final de semana ou numa única tarde!
Primeiro a gente fica cinco, seis anos, enchendo a cabecinha dos jovens de
conteúdo, depois num encontro “milagroso”, queremos que eles assumam uma vida
de seguimento pastoral junto com tudo mais que eles precisam assumir na
adolescência.
E é isso: prestes a fazer o
Crisma, prepara-se grandes encontros e retiros. Por mais que estes jovens se
sintam tocados nestes momentos de oração e encontro, eles vão pra casa depois
de um final de semana de intensa oração e reflexão e se deparam com uma grande
realidade: SUA FAMÍLIA NUNCA RECEBEU ANÚNCIO algum! Seus colegas de escola,
seus professores e todas as pessoas com quem eles convivem, simplesmente não
foram "tocados". E aquela grande “vontade” de mudar o mundo, vai
morrendo, morrendo... O mundo parece que não quer ser mudado! Por que o esforço
então?
E a gente há de convir que é
uma baita duma responsabilidade, essa de ser um discípulo missionário, para se
colocar sobre os ombros de um jovem ou adolescente que já tem um monte de coisa
para se preocupar: É o corpo que muda, os relacionamentos que mudam, os
sentimentos que mudam, as responsabilidades que vem e as decisões que precisam
ser tomadas. Eles simplesmente não dão conta!
E eu fico aqui me perguntando:
Por que é que estes encontros não são feitos com os PAIS, primeiramente? E eu nem
estou falando exatamente dos pais que tem filhos na catequese. Estou falando de
todo “tipo” de pais, até quem tem ainda planos de um dia ter filhos.
Quando vamos entender que a
"Iniciação à Vida Cristã" precisa é ser posta para adultos? Quando é
que a gente vai admitir que precisamos virar catequistas de adultos (e dos
bons!) para começar a transformar alguma coisa?
Aliás, quando é que nossa
Igreja vai parar de colocar nas costas da catequese de crianças e jovens todas
as mudanças propostas por ela? Todo mundo sabe que 99% dos nossos catequizandos
são crianças "obrigadas" por pais sacramentalistas a frequentar a
catequese. Muitos pais acabam levando os filhos à catequese por tradição de família,
ou pior, a razão mais básica: estar em dia com as obrigações
"sociais". É essa a visão dos pais. E os filhos acabam indo pra ceder
à pressão ou para ganhar algum tipo de recompensa. Se for feita uma análise nua
e crua, são estes os catequizandos que precisamos ter! Pais que não entenderam
o “espírito da coisa”. Adultos que foram catequizados na infância, mas, não
evangelizados o suficiente para praticar o “seguimento”.
Lembro que quando tinha 16
anos participei de um encontro de jovens, nos moldes dos encontros promovidos
pelo Cursilho da Cristandade. Nossa! passei um final de semana inesquecível.
Saí de lá simplesmente "embotada" de todos os sentimentos nobres que
se possa imaginar, disposta mesmo a fazer da minha vida uma verdadeira cruzada
evangélica.
Meus propósitos devem ter
durado uma semana no máximo. A realidade me tragou com cruz e tudo...
E só voltei de fato à Igreja
para batizar meu primeiro filho. Claro que hoje sou religiosa e bastante
envolvida na Igreja, mas, posso garantir que não foi porque participei de um
retiro na adolescência. Na verdade, eu me aproximei de Deus porque
"precisei" dele, porque minhas experiências de “adulta” me fizeram
entender que precisava ter fé!
E quantos de nós,
"católicos", fazemos isso? Quantos que não admitem nunca que precisam
Dele? Que escolhem qualquer caminho porque não sabem o certo? Porque nunca
foram a uma catequese de verdade?
E, PELO AMOR DE DEUS, não me
entendam mal achando que estou criticando os retiros de Crisma. Muito pelo
contrário, acho uma atitude muito louvável promover este tipo de encontro.
Talvez seja nossa ÚLTIMA chance de colocar alguma coisa na cabecinha desses
jovens. Só sinto que isso não seja feito sempre, com a família, com grupos de
adultos, a qualquer momento... Crianças e jovens não decidem o destino da
sociedade. Adultos sim.
Ângela Rocha
Catequista
Nenhum comentário:
Postar um comentário