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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

EVANGELIZAÇÃO NUM “GOLE” SÓ...

Já há algum tempo venho estudando, lendo, me informando e me interessando por tudo que diz respeito à Iniciação á Vida Cristã. Que na verdade não se trata de nenhuma novidade, e sim, de uma proposta de fazer renascer o modelo catecumenal de catequese em nossa Igreja.

Fiz inúmeras formações, li praticamente tudo que foi editado a respeito. Assisti palestras de vários padres a respeito e minha pós-graduação em catequética foi praticamente baseada na iniciação à vida cristã. Se for preciso, acho até dou palestras sobre o assunto, de tanto que li! Mas, teoria... só tenho visto teoria.
Só que em nenhum eu descobri como é que vamos transformar a realidade a partir de um anúncio que ninguém fez...

E os inúmeros catequistas que se deparam com a “novidade” (que até já é um tanto velha), ainda estão se perguntando afinal, o que a Igreja quer que eles façam para uma catequese de verdadeira "Iniciação à Vida Cristã".

Apesar de muitos manuais e livros publicados, ninguém ainda apresentou um modelo satisfatório para a dita cuja Iniciação. Eu mesma respondo sempre que as mudanças são de "postura", ou seja, de comportamento, de foco, de "jeito" e que é preciso que toda a paróquia mude, não só a catequese. Tenho visto vários modelos implantados por aí, mas, sempre com crianças e adolescentes, nada de adultos ainda, que são os principais focos desta re- evangelização e anúncio.

Mas, e como é que a gente muda esse "jeito"? E várias respostas já foram dadas: Primeiro que precisamos ser "pró-ativos", depois que precisamos inserir a família na catequese, valorizar o jovem e, até mesmo, promover uma iniciação com os próprios catequistas.

A grande verdade de tudo isso é que estamos fazendo tudo pelo avesso. Ainda e apesar, de tanta informação e cursos a respeito.

Primeiro estamos começando com as crianças quando deveríamos priorizar os adultos. Depois que estamos esquecendo a importante fase do querigma (anúncio) onde, anunciado, Jesus se torna experiência de encontro e, este encontro, se tornar sede de se conhecer mais sobre Ele e sua Igreja. E fazemos catequese como se todos já estivessem convertidos! Parece que todo mundo nasceu cristão e viveu num lar cristão!?

E então, lá, quando nossos jovens estão prestes a receber o sacramento da Crisma, é que a gente vai se preocupar se eles vão mesmo praticar o seguimento à Igreja de Jesus. E eu nem preciso dizer que a maioria, se isso fosse uma “prova”, não passaria.

Vejam só os retiros que se fazem, próximos à Crisma. Se a gente analisar bem, deixamos para fazer o “querigma”, o "primeiro" anúncio, quando os jovens estão saindo da catequese! Isso num final de semana ou numa única tarde! Primeiro a gente fica cinco, seis anos, enchendo a cabecinha dos jovens de conteúdo, depois num encontro “milagroso”, queremos que eles assumam uma vida de seguimento pastoral junto com tudo mais que eles precisam assumir na adolescência.

E é isso: prestes a fazer o Crisma, prepara-se grandes encontros e retiros. Por mais que estes jovens se sintam tocados nestes momentos de oração e encontro, eles vão pra casa depois de um final de semana de intensa oração e reflexão e se deparam com uma grande realidade: SUA FAMÍLIA NUNCA RECEBEU ANÚNCIO algum! Seus colegas de escola, seus professores e todas as pessoas com quem eles convivem, simplesmente não foram "tocados". E aquela grande “vontade” de mudar o mundo, vai morrendo, morrendo... O mundo parece que não quer ser mudado! Por que o esforço então?

E a gente há de convir que é uma baita duma responsabilidade, essa de ser um discípulo missionário, para se colocar sobre os ombros de um jovem ou adolescente que já tem um monte de coisa para se preocupar: É o corpo que muda, os relacionamentos que mudam, os sentimentos que mudam, as responsabilidades que vem e as decisões que precisam ser tomadas. Eles simplesmente não dão conta!

E eu fico aqui me perguntando: Por que é que estes encontros não são feitos com os PAIS, primeiramente? E eu nem estou falando exatamente dos pais que tem filhos na catequese. Estou falando de todo “tipo” de pais, até quem tem ainda planos de um dia ter filhos.

Quando vamos entender que a "Iniciação à Vida Cristã" precisa é ser posta para adultos? Quando é que a gente vai admitir que precisamos virar catequistas de adultos (e dos bons!) para começar a transformar alguma coisa?

Aliás, quando é que nossa Igreja vai parar de colocar nas costas da catequese de crianças e jovens todas as mudanças propostas por ela? Todo mundo sabe que 99% dos nossos catequizandos são crianças "obrigadas" por pais sacramentalistas a frequentar a catequese. Muitos pais acabam levando os filhos à catequese por tradição de família, ou pior, a razão mais básica: estar em dia com as obrigações "sociais". É essa a visão dos pais. E os filhos acabam indo pra ceder à pressão ou para ganhar algum tipo de recompensa. Se for feita uma análise nua e crua, são estes os catequizandos que precisamos ter! Pais que não entenderam o “espírito da coisa”. Adultos que foram catequizados na infância, mas, não evangelizados o suficiente para praticar o “seguimento”.

Lembro que quando tinha 16 anos participei de um encontro de jovens, nos moldes dos encontros promovidos pelo Cursilho da Cristandade. Nossa! passei um final de semana inesquecível. Saí de lá simplesmente "embotada" de todos os sentimentos nobres que se possa imaginar, disposta mesmo a fazer da minha vida uma verdadeira cruzada evangélica.

Meus propósitos devem ter durado uma semana no máximo. A realidade me tragou com cruz e tudo...
E só voltei de fato à Igreja para batizar meu primeiro filho. Claro que hoje sou religiosa e bastante envolvida na Igreja, mas, posso garantir que não foi porque participei de um retiro na adolescência. Na verdade, eu me aproximei de Deus porque "precisei" dele, porque minhas experiências de “adulta” me fizeram entender que precisava ter fé!

E quantos de nós, "católicos", fazemos isso? Quantos que não admitem nunca que precisam Dele? Que escolhem qualquer caminho porque não sabem o certo? Porque nunca foram a uma catequese de verdade?

E, PELO AMOR DE DEUS, não me entendam mal achando que estou criticando os retiros de Crisma. Muito pelo contrário, acho uma atitude muito louvável promover este tipo de encontro. Talvez seja nossa ÚLTIMA chance de colocar alguma coisa na cabecinha desses jovens. Só sinto que isso não seja feito sempre, com a família, com grupos de adultos, a qualquer momento... Crianças e jovens não decidem o destino da sociedade. Adultos sim.

Ângela Rocha

Catequista

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