As crianças e os jovens do
mundo moderno tem uma capacidade extraordinária de lidar com as novas
tecnologias, algo que chega a surpreender as pessoas não tão jovens assim. É a
chamada geração dos “nativos digitais” e os pais não podem mais ignorar esta
realidade.
A Análise é da catequista Ângela
Rocha que faz um trabalho de evangelização e formação de catequistas pela
internet, usando as redes e sociais e blogs, participando com frequência de
eventos em âmbito nacional ligados à catequese e à comunicação. Há três anos
ela participa de nossa comunidade.
Ângela
usa uma expressão do papa Francisco para dizer que “a internet é dom de Deus”
porque facilita em muito o relacionamento entre as pessoas, independente do
tempo e da distância. Para ela, é preciso enxergar
o lado bom da internet. A catequista acredita que ninguém deve ficar excluído
dos avanços proporcionados pelas novas formas de comunicação e que a idade não
deve ser obstáculo para que os pais acompanhem o que seus filhos fazem na rede.
Acompanhe os principais
trechos da entrevista:
Rede
de Catequistas
A ideia de “juntar” os
catequistas na internet surgiu há uns quatro anos mais ou menos. Isso nós vimos
por meio dos blogs, porque os catequistas estão sempre buscando material para
seus encontros e se vê que a necessidade de formação e de partilha é muito
grande. Hoje as pessoas não têm mais tempo de ir a paróquia fazer uma formação
ou um curso. Então vimos a necessidade de proporcionar isso para as pessoas via
internet. E nesse contato entre tantas pessoas, nós fomos muito além de
material; partilhamos experiências, partilhamos vivências e conhecimento e
acabou se tornando uma coisa muito rica tanto para os catequistas quanto para seus
catequizandos que só tem a ganhar com isso. Em 2011, nós criamos um grupo no
Facebook que chegou, no começo de 2014, a mais de 3,5 mil pessoas de todo o
Brasil e até do exterior. São pessoas que se encontram via internet e isso
chega mesmo a incentivar encontros pessoais. Já conheci pessoalmente, muitas
pessoas que comecei o contato de amizade pela internet.
Evangelização
Digital
Além do trabalho de formação
de catequistas, nós estamos agora fomentando a ideia de que é preciso evangelizar na rede. Precisamos tornar
a nossa evangelização “pública”, já que nosso grupo é restrito aos membros
deles somente. Estamos fazendo um trabalho para que cada pessoa do grupo cuide
de seu perfil pessoal para que esse perfil se transforme também, em um espaço
de evangelização. Às vezes, pensamos que basta colocar a liturgia do dia ou uma
citação bíblica, no perfil do Facebook que estamos evangelizando. Mas, não é só
isso. Quando você mostra as fotos com a família, com os amigos, as fotos na
paróquia, os eventos, tudo aquilo que você “é” e representa, você está
evangelizando muito mais porque está dando testemunho.
Estar
nas redes: uma necessidade
Quando acreditamos que a internet, as redes sociais, os blogs e sites, são apenas “ferramentas” de comunicação, nós nos enganamos muito. Não são mais só mais um meio de se comunicar: são mundos onde as pessoas estão vivendo. E o medo de muitos é que as pessoas estejam trocando as relações pessoais pelas relações digitais. Na verdade, a internet veio como um complemento para as relações, quase um “pedaço” da pessoa, um “braço”. Não podemos encarar a internet só como uma ferramenta ou modismo, principalmente por causa dos jovens e das crianças. Eles nasceram na era digital, por isso são chamados “nativos digitais”, a tecnologia faz parte da vida deles como qualquer outra “instituição”: família, escola, igreja. Hoje a grande angústia dos pais é saber o que os filhos tanto fazem “grudados” no celular, na internet, principalmente no Facebook.
Penso que existe, e é
preciso valorizar, as coisas boas da internet. Uma delas é você encontrar
pessoas de forma rápida e instantânea, pessoas que estão a quilômetros de
distância e isso, em tempo real, no “agora”. Claro que existem coisas ruins e
perigos na rede, principalmente se as crianças não são orientadas e o jovem não
tem maturidade para construir essas relações. Mas, aí entra também nossa ação
de adultos, de pais, de catequistas. Se nossos filhos estão “vivendo” em um
mundo digital, nós devemos viver lá também. Alguns pais podem achar que estão “velhos”
demais para aprender. Nunca. É uma necessidade urgente. Independente da idade
que tenhamos hoje, nós temos que nos integrar ao mundo digital, estar nas redes
sociais é a necessidade do momento.
Saber
o que os filhos fazem
Ninguém deixa o filho sair
sozinho, sem dizer aonde vai, com quem vai estar e a que horas vai voltar. A
rede social funciona assim também. Se os meus filhos estão na rede, na
internet, eu também preciso estar lá. Sei o que eles estão fazendo, onde eles
estão indo, o que estão escrevendo e o que estão postando. Se eu não souber,
vou ficar alheia a uma parte da vida deles e vou falhar no meu papel de mãe e
educadora. Não é um “monitoramento” e nem uma vigília constante, porque senão
seria invadir o espaço deles, mas, os pais devem ficar de olho, com cuidado e orientar a exposição na rede. Assim
como você orienta seu filho a não conversar com desconhecidos, a não aceitar
nada de estranhos; você orienta, também, a não conversar com desconhecidos na
rede social e tomar cuidado com os sites que acessa.
A
rede não empobrece as relações
Algumas pessoas estão vivendo
na internet quase a totalidade de suas horas. Há alguns dias, uma mãe conversou
comigo e disse que estava muito preocupada porque o filho só está “sentado ao
computador”, que não pratica mais atividade física e que vai acabar tendo problemas
na coluna, nas mãos.
Eu penso assim: se ele não
pratica atividade física e não faz nada que tire ele daquele lugar, não é
também um pouco de falta de consciência dos pais? Falta de algo que o atraia ao
mundo das relações mais físicas e pessoais? O seu filho tem, normalmente, várias
atividades: vai a escola (lá ele tem educação física), ele se alimenta,
dorme... e fica no computador. Se ele não procura mais nada além disso, ou é
porque não gosta ou não é incentivado.
A educação não mudou. Nós continuamos
tendo a função de dar educação e limites para os nossos filhos. Agora, colocar
a culpa na rede, pelo empobrecimento das relações, não tem sentido. Se as
relações não estão boas, não estão funcionando, é porque tem mais coisa errada
aí. Não é porque existe a internet.
Ser
missionário digital
O Papa Francisco disse uma
coisa que acho maravilhosa: “A internet é
dom de Deus”. Pensemos agora que, com a internet, nós conseguimos nos
encontrar com pessoas que estão do outro lado do planeta e, em tempo real. A
internet veio tirar os empecilhos das relações que são a distância e o tempo.
Então, isso só pode ser “dom de Deus”. E como dom de Deus a gente tem que
aproveitar e fazer bom uso dele, principalmente na Nova Evangelização.
Por mais que o mundo tenha
mudado, que as pessoas tenham excesso de compromissos e não tenham mais “tempo
para nada”; elas ainda são seres humanos e buscam: relação, reconhecimento e
valorização. Elas precisam de Deus na vida delas. Talvez não tenham mais tempo
de ir a Igreja ou tenham perdido o sentido do que é “ir à Igreja”, assim, a
gente tem que aproveitar o tempo em que elas estão “na rede” para levar um
pouco da Igreja até elas. Inclusive esta é uma das ideias que permeia o novo
documento da CNBB “Comunidade de Comunidades”: sair do espaço das quatro paredes
e ir onde estão as pessoas, ir às comunidades, tanto físicas, reais, como nas
comunidades digitais. Não podemos nos
sentar e esperar que as pessoas apareçam: temos que buscá-las. Julgamos muito
achando que as pessoas esqueceram Deus. Ninguém esqueceu Deus. Só que
precisamos pensar que hoje o espaço das pessoas é diferente, o tempo é
diferente. E se não nos adequarmos a isso, vamos perder muito como Igreja.
Adequar-se
aos novos tempos
Vemos muito isso na
catequese. As crianças, aos 09, 10 anos, já tem um celular, a maioria está na rede.
Por mais que a rede não seja exatamente para estas crianças, elas estão lá. E
como você vai ignorar isso? Como você vai proibir a sua turminha de 15 crianças
de por a mão no celular ou esquecer-se dele? O celular faz parte da vida delas.
Proibir o celular é dizer, de certa forma, que não tem espaço para ela na
Igreja. A pessoa é o mundo “real” e o mundo “digital”. Eu tenho que aceitar as
pessoas com esta dualidade. Não posso ignorar uma parte da vida das pessoas
para promover a evangelização.
A
pessoa comanda a máquina
No final de julho, tivemos
em Aparecida-SP, o 4º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação, cujo tema
foi “Desafios e possibilidades de Evangelização na Era Digital”. Tive a
oportunidade de participar deste encontro e lá refletir, junto com mais 900
pessoas do Brasil todo e alguns padres de Roma, sobre a importância desse tema.
Acredito que isso seja de suma importância para o catequista, que trabalha mais
diretamente com a evangelização. Não há como ignorar a internet como espaço
para isso.
Tivemos neste encontro, a
presença do padre Antonio Spadaro, que é um dos assessores do Conselho
Pontifício para as comunicações. Ele tem desenvolvido um trabalho muito
interessante a respeito da valorização das redes, de tirar esse conceito que
temos na nossa cabeça, de que o computador é uma “máquina” somente. Pode até
ser. Mas, atrás daqueles fios, cabos, parafusos e conexões, têm pessoas. Então,
nós estamos nos relacionando com PESSOAS, por meio de uma máquina e não nos
relacionando com uma coisa irreal.
Jovem
hoje tem muito mais informação
O padre Antonio Spadaro,
comentou numa das conferências do encontro, a questão dos “selfies”, aquelas
fotos que os jovens costumam tirar de si mesmos ou junto com os amigos para
postar na rede. Ele falou uma coisa muito interessante a respeito: o selfie
hoje é a melhor expressão que podemos ter desse “mundo novo”. Por que o jovem
tira uma foto de si mesmo, em qualquer momento, e posta na rede? Porque ele não
quer mais “assistir” aos acontecimentos, não quer ser apenas “espectador”, quer
participar do mundo, como protagonista. E, às vezes, nós encaramos este tipo de
imagem como exibicionismo. Isso é perigoso? É. Mas, aí cabe aquilo que eu já
disse: orientação dos pais.
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Turma de catequese da Catequista - 1º Etapa em preparação para a Eucaristia. |
Se analisarmos bem a fundo,
vemos que o jovem de hoje tem muito mais conhecimento e informação do que seus
pais. Quando eu tinha 12 anos – e nem faz tanto tempo assim – acho que não
sabia nem telefonar. E hoje, o que uma criança de 12 anos sabe fazer com um
aparato tecnológico. Por isso, é preciso que o adulto tome cuidado: uma das
referências para se deter autoridade, é deter conhecimento. Se tivermos menos
conhecimento, vamos perdendo autoridade frente aos nossos filhos.
Ver
o lado bom
Pensando bem, a internet
veio para preencher várias lacunas no relacionamento humano, na falta de tempo.
Eu sei que tem muita coisa ruim, mas, eu procuro ver mais o lado bom. O ruim
está no mundo, de qualquer forma. Temos que pensar no lado bom, no que a gente
pode fazer de bom e bem para as pessoas. Este tipo de relação precisa ser
valorizada. Estamos numa região metropolitana, com quase um milhão de
habitantes. Muita gente, e a maioria está só. Precisamos valorizar as relações
entre as pessoas, seja ela, real ou digital.
*
Ângela Rocha em entrevista a Eli Araújo, para o “O Cenáculo” – Boletim Informativo
da Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos de Londrina –PR. Setembro/2014 -Ano 21 nº 230 - AGOSTO/2014.
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