A Vinha é o Reino de
Deus...
Nosso Deus é imprevisível.
Ele não age dentro de nossos esquemas humanos. Ele age como quer, sem que
possamos controlar seu modo de agir. Não podemos controlar Deus, manipulá-lo,
fazer dele o que queremos. Há o grande perigo de criar um Deus de acordo com os
nossos critérios e, pior, proclamar um deus falso, um ídolo.
Temos a tendência de
construir um Deus previsível e domesticado, de acordo com nosso modo de pensar.
Por isso, adverte o profeta Isaías: os meus pensamentos não são como os vossos
pensamentos (1ª leitura).
Também não temos o direito
de questioná-lo, de prova-lo como fizeram os funcionários da primeira hora do
Evangelho. A graça da vida de fé está em crer na imprevisibilidade divina como
uma resposta gratuita de quem acolhe a vontade de Deus.
Jesus conta a parábola dos
trabalhadores da Vinha. A Vinha é o Reino de Deus e os trabalhadores somos
todos nós. O ensinamento de Jesus nos coloca diante de um pensamento divino que
não se encaixa facilmente com o pensamento humano – a gratuidade.
O Senhor convida e dá à
todos o mesmo salário , o que parece injusto. Para Jesus, Deus não fez curso de
contabilidade, nem de matemática; não está sempre de lápis na mão a fazer as
contas das pessoas para que lhe paguem
conforme seu merecimentos. Todos merecem o mesmo, ao seu critério, principalmente
os que são excluídos, como acontecia com várias categorias de pessoas na sociedade
palestinense no tempo de Jesus: mulheres, crianças, pequenos, pobres,
analfabetos, doentes, prostitutas, estrangeiros, cobradores de impostos... Não
precisavam fazer todos os ritos e prescrições de purificação para voltar a Deus
. O que importava e importa ´´e crer em Jesus, crer no Reino, trabalhar na
Vinha...E entender a matemática
inovadora de Deus coloca-nos na realidade deste Reino,que deve mudar o nosso
modo de avaliar a nossa própria vida e as pessoas.
Os trabalhadores do
evangelho não se alegraram com o benefício dos últimos. Aqui está o alerta para
que ninguém se julgue mais santo, mais espiritualizado, mais envolvido com o
tralho do Reino. Quem se julga melhor que os demais já se exclui de odo
automático da dinâmica do Reino. Tal dinamismo não está fundado na justiça da
falsa hipocrisia, mas da gratuidade amorosa e misericordiosa do Deus de Jesus
Cristo.
Como aqueles trabalhadores
muitas lideranças das comunidades correm o risco de se identificar com os empregados reclamões. A
Igreja pode ser o esconderijo daqueles que querem benefícios pessoais,
manipulando o trabalho pastoral em favor de si mesmos. Vir a Igreja ou trabalhar nas pastorais não é
garantia de salvação. O caminho eclesial pé a mediação para que o Reino seja acolhido na vida. Para
isso, é necessário purificar o coração
para que nele haja apenas espaço para a reta intenção. É imprescindível
que se elimine qualquer julgamento, bem como qualquer desejo egoísta de
engrandecimento. Se colocar na humildade de quem não merece é o caminho para se
tornar merecedor : eis um dos paradoxos do Reino de Deus.
Nossa postura de discípulos
deve ser de abertura, diferente dos empregados que reclamam. Constata-se em
nossas Igrejas a discriminação de pessoas que não cumprem as determinações
legais. Nem sempre os novos participantes são bem aceitos para ingressarem nos
grupos de nossas comunidades. Muitos rostos novos se aproximam de nossas com
uma fé simples e um entusiasmo grandioso e não encontram espaço de acolhida ou
não são convidados a ingressar nos grupos. Os que demonstram muito entusiasmo pela
alegria da novidade da vida em Cristo e da comunidade podem ser facilmente mal
avaliados. A alegria de quem recebe sua moeda depois de ter chegado tardiamente
para o trabalho pode ser muito maior daquele que já está na Vinha há muito
tempo, apenas por obrigação.
O Evangelho de hoje nos
adverte contra a inveja, ou seja, o ódio pela felicidade do outro. É um sentimento inadequado para
quem se deixou tocar pelo amor de Jesus Cristo. Se já é demais não se alegrar
com o benefício de quem nos fere, pior
ainda é odiar o ganho alheio. É preciso
ter a grandiosidade de alma para saber que Deus ama a todos.
Deus quer a nossa conversão:
“Buscai o Senhor enquanto pode ser achado” (cf. Is 55,6). E
como nos diz São Paulo: “Para mim viver é Cristo” (cf.
Fl 1,2).
Trabalhar na vinha do Senhor é se converter, configurando a vida ao modo de
viver do próprio Cristo. Hoje todos nós ganhamos do mesmo salário, da mesma
moeda. É bem mais que um salário terreno, pois recebemos o Corpo e Sangue do
Senhor. Convertidos ao amor do Senhor, que ninguém, fique com inveja, pois tem
para todos e ainda sobre. É sempre assim na mesa do Reino de Deus.
Pe. Roberto Nentwig
Nenhum comentário:
Postar um comentário