Recentemente, provocamos em
nosso grupo de discussão e partilha, um Dia da Revolta, onde os catequistas
foram incentivados a buscar aquilo que não acontece ou que não deveria
acontecer na catequese de suas comunidades e comentar. A lista ficou,
simplesmente, ENORME! Colocamos aqui algumas:
- Catequistas preguiçosos, aqueles que mesmo não tendo muitos compromissos não participam de encontro de formação, retiros ou reuniões. Sua catequese é apenas o encontro semanal e acha que assim está bom.
- Catequistas que insistem em chamar encontros de catequese de “aula”, seus catequizandos de “alunos” e agem como se fossem professores de escola.
- Pais que mentem, inventando histórias para justificar ausências dos filhos em momentos importantes da catequese.
- Padres que não comparecem nem para dar um “oi” em reuniões com os pais ou em encontros dos próprios catequistas.
- Encontros/reuniões com pais/responsáveis, que iniciam depois do horário marcado e terminam muito tempo depois do horário previsto e acontecem sem um planejamento prévio.
- Reuniões de catequistas onde somente são dados recados;
- Celebrações de crisma e primeira comunhão com homenagens e mais homenagens, procissões e mais procissões, tornando o rito cansativo e enfadonho.
- Crianças que mal sabem ler, fazendo as leituras da missa simplesmente para agradar o seu catequista;
- Catequista que não acolhe suas crianças e não sorri.
- Encontro de catequistas sem oração.
Estas
frases aí de cima, eu peguei do Alberto Meneguzzi, de um dos textos dele. Agora,
vamos às minhas, Ângela Rocha, “fora do sério”:
- Catequista que acha que não precisa de formação, já “viu tudo”.
- Ritualismo disfarçado de pedagogia catecumenal. Quando alguém diz que sua paróquia faz catequese catecumenal – IVC e tudo que acontece lá é entrega de símbolos, sem catequese nenhuma a respeito, sem participação das outras pastorais e sem envolvimento da comunidade.
- Coordenadores (as) olhando só no próprio umbigo, que não partilham, não delegam, não conversam com a equipe e decidem tudo sozinhos (as).
- Fantoche e “teatrinho” com “bichinhos” e outras “coisinhas” no meio da missa.
- Pais que nunca sabem de nada, nunca vão em encontro, reunião, missa... e querem nos convencer de que “se importam” com a religião dos filhos.
- “Crianças” recém-saídas da crisma colocados como catequistas de turmas (sem falar naquelas que sequer saíram da crisma!).
- ......................
Colaborações do grupo:
- Catequistas que vivem reclamando que a igreja não investe na catequese, mas, quando tem formação inventam mil desculpas para não ir.
- Coordenação autoritária e sem formação nenhuma para coordenar, só cobra dos catequistas, mas, não dá exemplo não busca formação.
- O que mais me incomoda são pessoas que chegam para a catequese sem vocação, achando que ser catequista é ser voluntário, onde participa quando pode e se der tempo.
- Catequistas que ainda acreditam que dinamizar os encontros “atrasa” os conteúdos.
- Catequistas sem compromisso com horário, chegando sempre atrasadas.
- Catequistas que vivem reclamando, mal-humoradas, sem carinho pelas crianças.
- Quando numa formação ou encontro para catequistas, a preocupação é mais com o “cenário”, lembranças, comes e bebes do que com o conteúdo das formações, assembleias ou celebrações;
- Padre que não acompanha o planejamento pedagógico/teológico da catequese e acha que as crianças/jovens/adultos não estão "preparados" porque, no único encontro que teve com eles, eles não sabiam a sequência correta dos 10 mandamentos ou quantos livros tem a bíblia;
- Catequista que acha que sabe e deve fazer tudo sozinho. Ele por si só já basta, não partilha, não quer ajuda de nenhum um outro catequista.
- Coordenação que não faz uma reunião com os catequistas.
- Jovens da crisma sem compromisso (faltosos nos encontros), pais dos jovens do mesmo jeito, sem compromisso.
- Catequistas que se "especializam" numa determinada fase/etapa e, saiu dali, é incapaz de trabalhar com outras turmas/conteúdos.
- Catequista que faz “chamada” no encontro.
- Catequista que cobra oralmente os dez mandamentos, sacramentos, orações, como se fosse “prova” escolar.
- ....................
NÃO! NÃO É NÃO!
Tem mais! Mas, vamos
deixar por enquanto, e pensar aqui um pouco...
Analisando
aqui o nosso “DIA DA REVOLTA”, onde listamos tanta coisa que nos tira do sério
na catequese, vejo que as coisas não mudam muito de um lugar para outro. Os problemas
pastorais são os mesmos.
Claro
que nem tudo são Sombras, temos também muitas Luzes a iluminar o caminho. Andei
fazendo uma retrospectiva de minhas ações e atuação na catequese nos últimos dez
anos e posso dizer, sem titubear, que andei enveredando por caminhos
maravilhosos. Nem tudo são flores, mas, elas aparecem. Vamos ainda fazer o “Dia
da Alegria” (risos).
A
catequese, para quem é verdadeiramente vocacionado,
é uma “paixão”, como a de Cristo; nós somos capazes de “morrer” (sacrifícios,
renúncias, trabalho) por ela. Depois de um começo equivocado, sem saber
exatamente por onde andar (por falta de conhecimento!), passei a amar a
catequese. Os encontros semanais com as crianças, falar de Jesus, de fé, da
história da Salvação, os estudos, dividir com os catequizandos minha vida e
minha experiência de fé, me fizeram uma pessoa melhor e, penso, uma boa
catequista. Levar o outro, a aprofundar o “encontro” com Jesus, não tem preço!
Nós ajudamos a construir e nos construímos também.
Mas,
esta coisa de não ser vocacionado, lembra uma coisa “sombria” na nossa
catequese: a terrível falta de comprometimento com a formação do catequista.
Tanto por ele mesmo, quanto por parte das lideranças paroquiais. Importa é ter
catequista para atender a demanda, o ser, fica em segundo plano. O saber
e o saber fazer, pior ainda. Isso faz o ardor esfriar e muita gente
desistir.
Essa
consciência me levou a estudar muito: a conhecer muito mais a Bíblia, o
magistério da Igreja e os documentos da catequese. Enfrentei, a duras penas, um
curso de especialização em Catequética. Metade dele por minha conta, por meu
esforço e determinação, e posso garantir que não foram 360 horas de estudo e
mais 150 horas de viagem, em vão. Nunca faltei às formações disponíveis e
procuro sempre fazer cursos de aperfeiçoamento, tanto sobre religião quanto na
área de ensino.
E
nunca é em vão, dedicar-se a ler, novamente,
e de novo se for preciso, o Diretório
Nacional de Catequese - DNC, como se fosse a primeira vez; a reler sempre o
documento Catequese Renovada; a estar
por dentro de tudo que se fala sobre Iniciação à Vida Cristã, sobre pedagogia
catecumenal; a ler os Documentos do Papa; conhecer o que falam pedagogos e psicólogos
sobre o tratamento com crianças e adolescentes; enfim... Isso faz com que “missionariar” fique mais fácil. E eu
partilho o que sei, procuro sempre expressar minha opinião, mas, corroborada
pela minha prática e pelo que a Igreja e os estudiosos da catequese e das
ciências que nos apoiam, dizem.
Só
que isso, não torna nosso caminho mais suave e nem facilita muito a missão na
catequese. Aliás, em alguns momentos, dificulta mais. Principalmente, quando se
entra em embates com algumas pessoas que acreditam que não precisa nada disso. Que
basta uma carga de boa vontade e rezar para que o Espírito Santo nos ilumine.
Fora disso, é “estrelismo” nosso querer saber mais.
Claro,
a boa vontade deve existir sempre. Afinal, a catequese é um serviço de
dedicação, de doação, não remunerado. Sem ela não existiriam catequistas. Mas,
não é só ela...
E
quanto a iluminação do Espírito Santo – imprescindível - acredito que ele mora
no coração de todos aqueles que tem fé, que acreditam verdadeiramente no
projeto de Jesus de um mundo melhor, de um Reino onde todas as criaturas vivam
em paz. E o Espírito Santo se manifesta sempre na obra e na vida daqueles que
estão imbuídos de fazer o bem, o que é correto, o que é justo e necessário. Ele
está em nós pelo Batismo e não é um “poder mágico” a ser invocado quando
necessário.
Mas,
apesar da minha dedicação à catequese, meus caminhos não têm sido lá muito
"maravilhosos" nestes últimos anos. Já tive muitos problemas com o
dito "sistema" que ainda impera em algumas paróquias: coordenações
autoritárias e autocráticas; padres sem tempo para a catequese ou praticando
uma administração excessivamente centrada.
Mas,
felizmente encontrei, em muitas paróquias, padres abertos, dispostos e
trabalhando com os leigos engajados em perfeita sintonia. Nestas comunidades, a
evangelização caminha, a catequese não fica estagnada, ultrapassada. São párocos
que se preocupam em mudar a Igreja ouvindo os leigos que tem conhecimento e
certificação para pensar, planejar e melhorar a ação da Igreja. Estas paróquias
avançam e estão à frente na evangelização. Temos bons exemplos disso também.
E
há, também, o velho problema dos catequistas que entendem a catequese só como
um “voluntariado”. Onde vão nas horas em que sobra e fazem só o que é possível naquele
tempo. E, muitas vezes, mal o que cabe naquele tempo... A catequese se
restringe a ir aos encontros com os catequizandos; somados a isso: faltas,
atrasos, improvisos, etc. Encontros de planejamento? Formações? Missa?
Eventos da Igreja? Festas da paróquia? Ah
não! Não tenho tempo para isso não! Não se tem a concepção de que ser
catequista e fazer serviço voluntário, são coisas completamente diferentes!
Ao
serviço voluntário eu vou nas horas vagas, nos dias em que me são possíveis e
faço aquilo que é necessário naquele momento. Não preciso planejar como será
minha próxima ida lá, a não ser se será de carro ou a pé. E se não posso ir
hoje, vou amanhã. Não penso se o que estou fazendo tem reflexos futuros ou
qual o objetivo que a entidade precisa atingir, simplesmente, faço aquilo que é
preciso. Também não tenho grandes responsabilidades no planejamento da execução
de tarefas, a não ser fazer bem feito aquilo que me é destinado. Vê-se, nesse
último quesito, que a catequese as vezes, nem nisso se assemelha.
E
esse é um problema muito sério: A falta de compromisso com a própria Igreja.
Esse
é um modelo, típico do regime da cristandade, onde predomina o "eclesiocentrismo", explicado por
Brighenti (2000, pg. 33), como sendo a teologia central de nossa Igreja do
"Corpo Místico" (onde Jesus é a cabeça e os batizados os membros), meramente
transferido para a igreja/instituição como: o Clero é a cabeça e os leigos,
seus membros colaboradores; isso faz com que a realização das ações dependa da
vontade do clero e os leigos meramente obedecem às suas "ordens".
Isso
faz com que os leigos não se sintam exatamente "responsáveis" pelos
atos que praticam e suas consequências no futuro da nossa Igreja. A falta de
comprometimento na ação catequética, isenta o catequista de pensar em objetivos
a serem atingidos, na gradualidade dos conteúdos da fé a serem ensinados e na
própria sobrevivência da fé e da religião num mundo cada vez mais distante dos
ideais cristãos.
Só
que... falar disso é perigoso. Ninguém que queira ter um "futuro"
numa pastoral, pode falar abertamente que não concorda com isso ou aquilo.
Invariavelmente a conversa chega aos ouvidos do coordenador, do padre, e lá,
tem uma conotação bem diferente. Já fui taxada de “revolucionária” e proibida
de dar formações em paróquias, porque ousei dizer aos catequistas que as coisas
deveriam ser diferentes, que há outro jeito de fazer as coisas, que cada um
pode colaborar com o seu dom para construir uma unidade.
Agora,
grave, gravíssimo mesmo, é não pensar nas pessoas envolvidas em todo o
processo catequético. Aliás, nem se pensa muito na catequese como um
processo que vai levar o "iniciado"
a um exercício de “discipulado
missionário”. Normalmente, não se vai além de tarefas em torno de se
receber os sacramentos. O que se vai fazer depois, não é uma grande
preocupação.
Muitas
e muitas vezes, minha revolta com o “sistema”, diz respeito ao seguinte: estou
cansada de "ter paciência", de "esperar", de fazer as
coisas "de mansinho". Esses “passos de formiguinha” me irritam. As
formigas constroem formigueiros e comunidades enormes num tempo em ainda
estamos filosofando se somos formigas ou não. Frei Bernardo Cansi, catequista tão
comprometido, já morreu e muita gente boa também, esperando as coisas acontecerem.
Temos hoje muitos padres e outras tantas pessoas preocupadas com o futuro da
catequese em nossa Igreja. E muitos estão envelhecendo sem que nada aconteça. Penso
que, enquanto espero, estou sendo conivente com muita coisa errada. Estou só
fazendo "voluntariado" e não é isso que Jesus nos pediu.
Ângela Rocha
Equipe Catequistas em Formação
*
A citação que fiz é do livro "Reconstruindo
a Esperança: como planejar a ação da Igreja em tempos de mudança", de
Agenor Brighenti, editado pela Paulus: 2000. E pensem só... um livro que fala
de mudanças, publicado há 17 anos... E os problemas ainda são os mesmos!
Você também tem coisas que
te tiram do sério? Vamos fazer o “DIA DA REVOLTA” e botar para fora! Coloque
aqui nos comentários as situações que acontecem na catequese e que não deveriam
acontecer. Vamos “lavar a alma” e depois botar nosso espírito para
corrigir isso!
Um comentário:
Belíssimo texto. Como mudar o sistema?
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