Vivemos na crise da modernidade: tempo de valorização do indivíduo, da
liberdade, da emoção… É um momento muito propício para se acolher a pessoa do
Espírito Santo, figura um tanto esquecida.
É preciso considerar que estamos deixando o tempo da tradição. É muito
difícil, porque temos um peso muito forte da tradição, da instituição, daquilo
que já está pronto. Caminhamos para o tempo da decisão – e esta é a ação típica
do Espírito: discernir e escolher, caminhos para a decisão. Uma Igreja sem o
Espírito valoriza a imposição, o rigorismo, a intransigência. Pela presença do
Espírito, todas as realidades eclesiásticas deve se transformar em fonte de
paz, de alegria e liberdade.
Por outro lado, o Espírito ainda é um grande desconhecido. Às vezes não
sabemos quem é ele, como e onde age. Por vezes, as pessoas restringem sua ação
aos fenômenos extraordinários, aos milagres e êxtases. Há uma sede pelo
extraordinário que causa desequilíbrio da fé.
É o Espírito que age na Igreja. “Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’,
a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). É Ele que nos faz pregar a Palavra de
Deus, é Ele que faz brotar a caridade, que une, inspira, motiva… Todo bem
realizado, mesmo por aqueles que não creem no Cristo, é obra do Espírito. É ele
que mora dentro de nós: a experiência de interioridade, de perceber a presença
divina em nós é possível pela habitação do Espírito em nós.
Hoje, no Evangelho, o Ressuscitado
sopra o Espírito. O Antigo Testamento usa o termo Ruah para revelar o que o Novo Testamento revela
como uma pessoa divina: significa sopro, respiração, ar, vento. O Espírito,
portanto, é o hálito de Deus, o sopro divino que nos move. Como o vento tem o
seu dinamismo, como o ar nos faz viver, assim é o Espírito de Deus.
Sem o Espírito há a confusão, a disputa pelo poder, pelos próprios
interesses, o anseio egoísta de subir ao cume do orgulho, como aconteceu na
construção da Torre de Babel. Em Babel houve a confusão diabólica (=que desune,
que se atravessa para atrapalhar), já em Pentecostes todos se entendiam mesmo
falando línguas diversas. Há uma só língua pela graça do Espírito. Hoje é
necessário falar a mesma língua, observar mais o que nos une e deixar de lado
as diferenças. Para isso, faz-se necessário uma abertura ao Espírito que
arranca o que divide.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba - PR
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