... é aquilo que produz, dentro de nós, uma mudança...
Se formos procurar definições formais
veremos que espiritualidade, vem do latim "spiritus", é o conjunto de atitudes, crenças e práticas que
fazem parte da vida das pessoas e as ajuda a alcançar realidades mais sensíveis
e a ter um relacionamento com o transcendente - no nosso caso Deus - consigo
mesmo, com o outro e com o mundo. Está presente em todas as religiões e também
nas pessoas. Ou seja, uma pessoa pode ter espiritualidade, sem estar ligada a
nenhuma Igreja ou religião.
Mas falando um pouco da
espiritualidade que "liga" as pessoas à nossa religião, podemos dizer
que é a dimensão da pessoa humana que traduz o modo de viver, característico
daquele que acredita e busca alcançar a plenitude da sua relação com Deus, com
as pessoas que a cercam, com a natureza e com a sociedade em que vive.
E como saber se determinada
pessoa possui "espiritualidade"?
Eu diria que essa pessoa
"transpira" isso. Você observa no modo em que ela vive, não só a
dimensão religiosa como a maneira como ela trata as outras pessoas e o mundo
que a cerca. Ela é uma pessoa "diferente". Que causa “impacto” em nós
a cada encontro. E este “impacto” pode ser de uma paz infinita assim como de
uma inquietação infinita.
Algumas pessoas confundem
espiritualidade com religiosidade.
Não é a mesma coisa. A
religiosidade é o esmero e o fervor em cumprir com as obrigações de uma
religião, ou seja, está mais relacionado ao conjunto de crenças naquilo que é
divino, sagrado e ao exercício de algumas atividades relacionadas a essas
crenças. E algumas pessoas podem levar a religiosidade ao extremo, chegando até
ao fanatismo religioso não aceitando outras crenças, que não as suas.
Tornando-se intransigentes e intolerantes para com aqueles que não professam a
mesma religião ou tem a mesma fé.
Enfim, não é fácil saber se
realmente possuímos "espiritualidade". Crer em Deus, ir à missa todos
os domingos, comungar, confessar, rezar terços, fazer adoração, rezar sempre,
não dá à pessoa a característica da "espiritualidade". Penso que a
espiritualidade está mais relacionada ao modo como ela coloca essa fé interior no
seu modo de viver. Em como pratica aquilo em que crê. Ou sejam o Deus do
interior dela transcende para o exterior.
E agora vamos lá. VAMOS FAZER
UM TESTE!
Vamos ver se somos realmente
pessoas "espiritualizadas". Como você encara um texto escrito por
Leonardo Boff (que muito católico torce o nariz porque é teólogo da
libertação), baseado na filosofia do Dalai Lama (monge tibetano budista)?
O
texto fala de "espiritualidade". E espiritualidade tem muito a ver
com o "como" interpretamos as coisas. Você consegue deixar de lado as
crenças religiosas, profundamente arraigadas em você, e "entender"
essa visão de duas pessoas que professam a religião diferente de nós?
"Afinal, o que é espiritualidade? Uma vez
fizeram esta pergunta ao Dalai-Lama e ele deu uma resposta extremamente
simples:
- “Espiritualidade é aquilo que produz no ser
humano uma mudança interior”.
Não entendendo direito, alguém perguntou novamente:
- Mas se eu praticar a religião e observar as
tradições, isso não é espiritualidade?
O Dalai-Lama respondeu:
- Pode ser espiritualidade, mas, se não produzir em
você uma transformação, não é espiritualidade. E acrescentou:
- Um cobertor que não aquece deixa de ser cobertor.
Então atalhou a pessoa:
- A espiritualidade muda ou é sempre a mesma coisa?
E o Dalai-Lama falou:
- Como dizem os antigos, os tempos mudam e as
pessoas mudam com ele. O que ontem foi espiritualidade hoje não precisa mais
ser. O que em geral se chama de espiritualidade é apenas a lembrança de antigos
caminhos e métodos religiosos.
E arrematou:
- O manto deve ser cortado para se ajustar aos
homens. Não são os homens que devem ser cortados para se ajustar ao manto.
Parece-me que o principal a ser retido desse
pequeno diálogo com o Dalai-Lama é que ESPIRITUALIDADE É AQUILO QUE PRODUZ
DENTRO DE NÓS UMA MUDANÇA. O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está
pronto, está sempre se fazendo, física, psíquica, social e culturalmente.
Mas há mudanças e mudanças. Há mudanças que não
transformam nossa estrutura de base. São superficiais e exteriores, ou meramente
quantitativas. Mas, há mudanças que são interiores. São verdadeiras
transformações alquímicas, capazes de dar um novo sentido à vida ou de abrir
novos campos de experiência e de profundidade rumo ao próprio coração e ao
mistério de todas as coisas. Não raro, é no âmbito da religião que ocorrem tais
mudanças. Mas nem sempre.
Hoje a singularidade de nosso tempo reside no fato
de que a espiritualidade vem sendo descoberta como dimensão profunda do humano,
como o momento necessário para o desabrochar pleno de nossa individuação e como
espaço da paz no meio dos conflitos e desolações sociais e existenciais."
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Do
livro: “ESPIRITUALIDADE – Um Caminho de Transformação” de Leonardo Boff.
Ângela Rocha
Catequista
Catequista
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