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quinta-feira, 15 de junho de 2017

ALGUMAS COISAS QUE ME TIRAM DO SÉRIO NA CATEQUESE...

Recentemente, provocamos em nosso grupo de discussão e partilha, um Dia da Revolta, onde os catequistas foram incentivados a buscar aquilo que não acontece ou que não deveria acontecer na catequese de suas comunidades e comentar. A lista ficou, simplesmente, ENORME! Colocamos aqui algumas:
  • Catequistas preguiçosos, aqueles que mesmo não tendo muitos compromissos não participam de encontro de formação, retiros ou reuniões. Sua catequese é apenas o encontro semanal e acha que assim está bom.
  • Catequistas que insistem em chamar encontros de catequese de “aula”, seus catequizandos de “alunos” e agem como se fossem professores de escola.
  • Pais que mentem, inventando histórias para justificar ausências dos filhos em momentos importantes da catequese.
  • Padres que não comparecem nem para dar um “oi” em reuniões com os pais ou em encontros dos próprios catequistas.
  • Encontros/reuniões com pais/responsáveis, que iniciam depois do horário marcado e terminam muito tempo depois do horário previsto e acontecem sem um planejamento prévio.
  • Reuniões de catequistas onde somente são dados recados;
  • Celebrações de crisma e primeira comunhão com homenagens e mais homenagens, procissões e mais procissões, tornando o rito cansativo e enfadonho.
  • Crianças que mal sabem ler, fazendo as leituras da missa simplesmente para agradar o seu catequista;
  • Catequista que não acolhe suas crianças e não sorri.
  • Encontro de catequistas sem oração.
Estas frases aí de cima, eu peguei do Alberto Meneguzzi, de um dos textos dele. Agora, vamos às minhas, Ângela Rocha, “fora do sério”:
  • Catequista que acha que não precisa de formação, já “viu tudo”.
  • Ritualismo disfarçado de pedagogia catecumenal. Quando alguém diz que sua paróquia faz catequese catecumenal – IVC e tudo que acontece lá é entrega de símbolos, sem catequese nenhuma a respeito, sem participação das outras pastorais e sem envolvimento da comunidade.
  • Coordenadores (as) olhando só no próprio umbigo, que não partilham, não delegam, não conversam com a equipe e decidem tudo sozinhos (as).
  • Fantoche e “teatrinho” com “bichinhos” e outras “coisinhas” no meio da missa.
  • Pais que nunca sabem de nada, nunca vão em encontro, reunião, missa... e querem nos convencer de que “se importam” com a religião dos filhos.
  • “Crianças” recém-saídas da crisma colocados como catequistas de turmas (sem falar naquelas que sequer saíram da crisma!).
  • ......................

Colaborações do grupo:
  • Catequistas que vivem reclamando que a igreja não investe na catequese, mas, quando tem formação inventam mil desculpas para não ir.
  • Coordenação autoritária e sem formação nenhuma para coordenar, só cobra dos catequistas, mas, não dá exemplo não busca formação.
  • O que mais me incomoda são pessoas que chegam para a catequese sem vocação, achando que ser catequista é ser voluntário, onde participa quando pode e se der tempo. 
  • Catequistas que ainda acreditam que dinamizar os encontros “atrasa” os conteúdos.
  • Catequistas sem compromisso com horário, chegando sempre atrasadas.
  • Catequistas que vivem reclamando, mal-humoradas, sem carinho pelas crianças.
  • Quando numa formação ou encontro para catequistas, a preocupação é mais com o “cenário”, lembranças, comes e bebes do que com o conteúdo das formações, assembleias ou celebrações; 
  • Padre que não acompanha o planejamento pedagógico/teológico da catequese e acha que as crianças/jovens/adultos não estão "preparados" porque, no único encontro que teve com eles, eles não sabiam a sequência correta dos 10 mandamentos ou quantos livros tem a bíblia;
  • Catequista que acha que sabe e deve fazer tudo sozinho. Ele por si só já basta, não partilha, não quer ajuda de nenhum um outro catequista.
  • Coordenação que não faz uma reunião com os catequistas.
  • Jovens da crisma sem compromisso (faltosos nos encontros), pais dos jovens do mesmo jeito, sem compromisso. 
  • Catequistas que se "especializam" numa determinada fase/etapa e, saiu dali, é incapaz de trabalhar com outras turmas/conteúdos.
  • Catequista que faz “chamada” no encontro.
  • Catequista que cobra oralmente os dez mandamentos, sacramentos, orações, como se fosse “prova” escolar.
  • ....................
NÃO! NÃO É NÃO!

Tem mais! Mas, vamos deixar por enquanto, e pensar aqui um pouco...

Analisando aqui o nosso “DIA DA REVOLTA”, onde listamos tanta coisa que nos tira do sério na catequese, vejo que as coisas não mudam muito de um lugar para outro. Os problemas pastorais são os mesmos.

Claro que nem tudo são Sombras, temos também muitas Luzes a iluminar o caminho. Andei fazendo uma retrospectiva de minhas ações e atuação na catequese nos últimos dez anos e posso dizer, sem titubear, que andei enveredando por caminhos maravilhosos. Nem tudo são flores, mas, elas aparecem. Vamos ainda fazer o “Dia da Alegria” (risos).

A catequese, para quem é verdadeiramente vocacionado, é uma “paixão”, como a de Cristo; nós somos capazes de “morrer” (sacrifícios, renúncias, trabalho) por ela. Depois de um começo equivocado, sem saber exatamente por onde andar (por falta de conhecimento!), passei a amar a catequese. Os encontros semanais com as crianças, falar de Jesus, de fé, da história da Salvação, os estudos, dividir com os catequizandos minha vida e minha experiência de fé, me fizeram uma pessoa melhor e, penso, uma boa catequista. Levar o outro, a aprofundar o “encontro” com Jesus, não tem preço! Nós ajudamos a construir e nos construímos também.

Mas, esta coisa de não ser vocacionado, lembra uma coisa “sombria” na nossa catequese: a terrível falta de comprometimento com a formação do catequista. Tanto por ele mesmo, quanto por parte das lideranças paroquiais. Importa é ter catequista para atender a demanda, o ser, fica em segundo plano. O saber e o saber fazer, pior ainda. Isso faz o ardor esfriar e muita gente desistir.

Essa consciência me levou a estudar muito: a conhecer muito mais a Bíblia, o magistério da Igreja e os documentos da catequese. Enfrentei, a duras penas, um curso de especialização em Catequética. Metade dele por minha conta, por meu esforço e determinação, e posso garantir que não foram 360 horas de estudo e mais 150 horas de viagem, em vão. Nunca faltei às formações disponíveis e procuro sempre fazer cursos de aperfeiçoamento, tanto sobre religião quanto na área de ensino.

E nunca é em vão, dedicar-se a ler, novamente, e de novo se for preciso, o Diretório Nacional de Catequese - DNC, como se fosse a primeira vez; a reler sempre o documento Catequese Renovada; a estar por dentro de tudo que se fala sobre Iniciação à Vida Cristã, sobre pedagogia catecumenal; a ler os Documentos do Papa; conhecer o que falam pedagogos e psicólogos sobre o tratamento com crianças e adolescentes; enfim... Isso faz com que “missionariar” fique mais fácil. E eu partilho o que sei, procuro sempre expressar minha opinião, mas, corroborada pela minha prática e pelo que a Igreja e os estudiosos da catequese e das ciências que nos apoiam, dizem.

Só que isso, não torna nosso caminho mais suave e nem facilita muito a missão na catequese. Aliás, em alguns momentos, dificulta mais. Principalmente, quando se entra em embates com algumas pessoas que acreditam que não precisa nada disso. Que basta uma carga de boa vontade e rezar para que o Espírito Santo nos ilumine. Fora disso, é “estrelismo” nosso querer saber mais.

Claro, a boa vontade deve existir sempre. Afinal, a catequese é um serviço de dedicação, de doação, não remunerado. Sem ela não existiriam catequistas. Mas, não é só ela...

E quanto a iluminação do Espírito Santo – imprescindível - acredito que ele mora no coração de todos aqueles que tem fé, que acreditam verdadeiramente no projeto de Jesus de um mundo melhor, de um Reino onde todas as criaturas vivam em paz. E o Espírito Santo se manifesta sempre na obra e na vida daqueles que estão imbuídos de fazer o bem, o que é correto, o que é justo e necessário. Ele está em nós pelo Batismo e não é um “poder mágico” a ser invocado quando necessário.

Mas, apesar da minha dedicação à catequese, meus caminhos não têm sido lá muito "maravilhosos" nestes últimos anos. Já tive muitos problemas com o dito "sistema" que ainda impera em algumas paróquias: coordenações autoritárias e autocráticas; padres sem tempo para a catequese ou praticando uma administração excessivamente centrada.

Mas, felizmente encontrei, em muitas paróquias, padres abertos, dispostos e trabalhando com os leigos engajados em perfeita sintonia. Nestas comunidades, a evangelização caminha, a catequese não fica estagnada, ultrapassada. São párocos que se preocupam em mudar a Igreja ouvindo os leigos que tem conhecimento e certificação para pensar, planejar e melhorar a ação da Igreja. Estas paróquias avançam e estão à frente na evangelização. Temos bons exemplos disso também.

E há, também, o velho problema dos catequistas que entendem a catequese só como um “voluntariado”. Onde vão nas horas em que sobra e fazem só o que é possível naquele tempo. E, muitas vezes, mal o que cabe naquele tempo... A catequese se restringe a ir aos encontros com os catequizandos; somados a isso: faltas, atrasos, improvisos, etc. Encontros de planejamento? Formações?  Missa? Eventos da Igreja? Festas da paróquia? Ah não! Não tenho tempo para isso não! Não se tem a concepção de que ser catequista e fazer serviço voluntário, são coisas completamente diferentes!

Ao serviço voluntário eu vou nas horas vagas, nos dias em que me são possíveis e faço aquilo que é necessário naquele momento. Não preciso planejar como será minha próxima ida lá, a não ser se será de carro ou a pé. E se não posso ir hoje, vou amanhã. Não penso se o que estou fazendo tem reflexos futuros ou qual o objetivo que a entidade precisa atingir, simplesmente, faço aquilo que é preciso. Também não tenho grandes responsabilidades no planejamento da execução de tarefas, a não ser fazer bem feito aquilo que me é destinado. Vê-se, nesse último quesito, que a catequese as vezes, nem nisso se assemelha. 


E esse é um problema muito sério: A falta de compromisso com a própria Igreja.

Esse é um modelo, típico do regime da cristandade, onde predomina o "eclesiocentrismo", explicado por Brighenti (2000, pg. 33), como sendo a teologia central de nossa Igreja do "Corpo Místico" (onde Jesus é a cabeça e os batizados os membros), meramente transferido para a igreja/instituição como: o Clero é a cabeça e os leigos, seus membros colaboradores; isso faz com que a realização das ações dependa da vontade do clero e os leigos meramente obedecem às suas "ordens".

Isso faz com que os leigos não se sintam exatamente "responsáveis" pelos atos que praticam e suas consequências no futuro da nossa Igreja. A falta de comprometimento na ação catequética, isenta o catequista de pensar em objetivos a serem atingidos, na gradualidade dos conteúdos da fé a serem ensinados e na própria sobrevivência da fé e da religião num mundo cada vez mais distante dos ideais cristãos.

Só que... falar disso é perigoso. Ninguém que queira ter um "futuro" numa pastoral, pode falar abertamente que não concorda com isso ou aquilo. Invariavelmente a conversa chega aos ouvidos do coordenador, do padre, e lá, tem uma conotação bem diferente. Já fui taxada de “revolucionária” e proibida de dar formações em paróquias, porque ousei dizer aos catequistas que as coisas deveriam ser diferentes, que há outro jeito de fazer as coisas, que cada um pode colaborar com o seu dom para construir uma unidade.

Agora, grave, gravíssimo mesmo, é não pensar nas pessoas envolvidas em todo o processo catequético. Aliás, nem se pensa muito na catequese como um processo que vai levar o "iniciado" a um exercício de “discipulado missionário”. Normalmente, não se vai além de tarefas em torno de se receber os sacramentos. O que se vai fazer depois, não é uma grande preocupação.

Muitas e muitas vezes, minha revolta com o “sistema”, diz respeito ao seguinte: estou cansada de "ter paciência", de "esperar", de fazer as coisas "de mansinho". Esses “passos de formiguinha” me irritam. As formigas constroem formigueiros e comunidades enormes num tempo em ainda estamos filosofando se somos formigas ou não. Frei Bernardo Cansi, catequista tão comprometido, já morreu e muita gente boa também, esperando as coisas acontecerem. Temos hoje muitos padres e outras tantas pessoas preocupadas com o futuro da catequese em nossa Igreja. E muitos estão envelhecendo sem que nada aconteça. Penso que, enquanto espero, estou sendo conivente com muita coisa errada. Estou só fazendo "voluntariado" e não é isso que Jesus nos pediu.

Ângela Rocha
Equipe Catequistas em Formação

* A citação que fiz é do livro "Reconstruindo a Esperança: como planejar a ação da Igreja em tempos de mudança", de Agenor Brighenti, editado pela Paulus: 2000. E pensem só... um livro que fala de mudanças, publicado há 17 anos... E os problemas ainda são os mesmos!

Você também tem coisas que te tiram do sério? Vamos fazer o “DIA DA REVOLTA” e botar para fora! Coloque aqui nos comentários as situações que acontecem na catequese e que não deveriam acontecer.  Vamos “lavar a alma” e depois botar nosso espírito para corrigir isso!


Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssimo texto. Como mudar o sistema?