Quem é nosso Deus? Celebrar o Deus
Trindade é resgatar uma imagem positiva de Deus. Por muitos séculos, preferimos
falar de Deus a partir de categorias filosóficas que não são mais compreensíveis
como substância, consubstancial…
Ainda pior é a imagem
idolátrica de um deus frio, distante, carente de humanização, punidor. Até
mesmo chamar Deus de onipotente pode
atrapalhar. Acostumamo-nos mais com sua onipotência do que com o seu amor, com
sua misericórdia…
Moisés já tinha uma imagem positiva de Deus, embora estejamos ainda no
Antigo Testamento: “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e
fiel” (Ex 34,6). O Povo da Bíblia já tinha uma imagem de Deus-conosco, um Deus
que caminha próximo. Não era um deus punitivo que se fixava nas culpas, sedento
por condenar, por exigir contas. Deus Pai é este Deus amoroso, misericordioso…
É este mesmo o Deus que experimentamos?
Deus não é só amor em si, mas amor
para o mundo: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que
não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Este
versículo é a síntese do sentido do mistério da encarnação e redenção: Deus
Filho veio para nos salvar, para nos trazer vida, para doar a sua vida. A revelação
é sempre um sair de si, por isso, uma graça. A
vida dos seguidores do Senhor crucificado-ressuscitado é uma busca constante de
sair de si mesmo, de livrar-se do narcisismo egoísta. Deus não ficou fechado em
sua onipotência, mas se fez fraqueza, fez-se humano, fez-se limite,
despojou-se…
Deus Espírito Santo age agora na história. É o sopro divino que nos
impulsiona, que nos dá vida, que enche nossa vida de sentido. O Espírito Santo
é o amor de Deus derramado em nossos corações, é a experiência íntima do amor,
do sentido, da vida, da paz… É preciso olhar para dentro de si mesmo e perceber
a presença amorosa de Deus…
Nossa relação com cada uma das pessoas é também importante. O PAI nos
lembra que Deus está acima de nós, dando a sua lei, manifestando a sua vontade.
O FILHO nos lembra que Deus está ao nosso lado, caminha conosco, dá a sua vida,
ensina quem é o ser humano… O ESPÍRITO nos lembra que Deus está dentro de nós,
inspira-nos e nos conduz com o seu sopro.
Um Deus relacional nos conduz à relação, à uma cultura do encontro. Deus
se relaciona em si, Deus sai de si e se relaciona conosco. E sua relação
respeita a nossa liberdade, não invade, não arromba… Assim, não anunciamos a
intolerância religiosa, a falta de respeito pelas diferenças. Entendemos as
pessoas e as culturas em suas diferenças. Somos também convidados a viver a
comunhão na diferença, como Deus é uma comunhão de três diferentes.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba - PR
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