7º DOMINGO DO TEMPO COMUM
1.Que tal o texto
em poesia! (Louraini Christmann)
Para iniciar, quero propor a leitura
desse texto “em versos populares”, escritos por Severino Batista (A Palavra na
Vida, 146, CEBI). Que tal iniciar a pregação lendo esses versos? Ou melhor
ainda: Você mesmo(a) pode compor seus versos, que dirão criativamente o que o
texto diz.
1 – Ali seu rosto em
clarão
Igual ao sol brilhava
Sua veste reluzente
Em brancura se tornava
Eis que Moisés e Elias
Muita atenção lhe prestavam.
2 – Pedro pediu a
palavra
Dizendo: Senhor, atenção
É bom estarmos aqui
Se queres na ocasião
Três tendas para os três
Eu farei com perfeição.
3 – Uma será para ti
Outra pra Moisés eu dou
Outra pra Elias faço
Eis que uma nuvem baixou
Mais luminosa que tudo
E tudo ali rodeou.
4 – Daquela nuvem se
fez
Ouvir com toda atenção
Uma voz que lhe dizia
Meu filho do coração
Amado em quem pus
Toda minha perfeição.
5 – Ouvindo estas
palavras
Os três discípulos caíram
Com a face sobre a terra
Muito medo eles sentiram
Mas Jesus os levantou
Rápido que eles não viram.
6 – Quando eles
desciam
Jesus começou a falar
Não conteis para ninguém
Proibiu-lhes de contar
Que viram o filho do homem
Só quando ressuscitar.
2. Mateus pergunta: Quem somos nós? E
qual é a nossa missão?
O Evangelho de Mateus quer dar essa
resposta em uma época em que o judaísmo tenta se adaptar ao novo em Jesus. Ele
é, sim, o Messias (Mt 17.5). Para sempre Jesus estará com a gente (Mt 28.20),
mesmo que no presente passemos pelas mais diversas crises.
Carlos Mesters, Mercedes Lopes e
Francisco Orofino definem a função do Evangelho de Mateus assim: “Neste
Evangelho, as comunidades de judeu-cristãos encontravam uma fonte de consolo
para o momento presente, uma nova maneira de entender o passado e uma prática
que abria o caminho para o futuro com Deus” (na introdução ao livro “Travessia – Quero Misericórdia e
não Sacrifícios” – Palavra da Vida – 135/136 – CEBI).
Em nosso texto me parece que aparecem
justamente estes elementos: consolo para o presente: a visão; nova maneira de
entender o passado: agora a mensagem de Moisés e Elias é radicalizada ou
completada por Jesus; prática que abre o caminho para um futuro com Deus: as
palavras de Deus para os discípulos – “Ouçam o que ele diz” – e a palavra de
Jesus – “Não tenham medo”.
Bom pensar que esse texto poderia ser
um pouco o resumo do evangelho todo.
Paralelos
Mateus, Marcos e Lucas narram a mesma
passagem. Antecede sempre o anúncio da cruz e vem logo após o anúncio da
boa-nova da cura de um menino. E nos três também aparecem claramente os
discípulos de Jesus negando a cura ao menino, os mesmos discípulos dentre os
quais Pedro, Tiago e João, que de imediato queriam construir tendas para este
Jesus brilhante e glorioso. É! Temem o Jesus da cruz, que desafia a cura,
inclusive do menino ao qual negam a cura, e querem prender a si o Jesus da
glória, do brilho.
É claro que a cruz angustia. É claro
que ela preocupa. Mas Jesus não pode voltar atrás e isto Pedro não entende e
não aceita. “Arreda, Satanás” para Pedro (Mt 16.23). Mas parece que o tal de
Satanás continua firme nos discípulos, agora na vontade de perpetuar uma paz
gloriosa, uma paz fictícia, uma paz sem paz. E para Jesus poder iniciar a
construção da paz verdadeira é preciso que ele passe pela cruz. Não tem outro
jeito.
3. “Senhor, como é bom estarmos aqui”
Sim, é bom ver Jesus daquele jeito, com
o rosto brilhante como o sol, com as roupas brancas como a luz. É um momento
forte.
Sim, é bom estar aí. Também para Jesus.
Por isso sobe para um alto monte, onde sempre acontecem momentos importantes.
Pois ele precisa também se alimentar de um momento importante, especial,
sublime, como também nós precisamos.
O momento no alto do monte, da reza, da
busca por energia para enfrentar a vida, é um momento do coração, não da razão.
E o coração precisa desses momentos. Ah, como precisa!
Também é importante saber adorar esse Deus
com toda a intensidade por um outro motivo: isso faz a gente se desprender da
gente mesmo. Isso nos impede de adorar a nós mesmos.
Armar barraca para a glória
Mas Pedro, Tiago e João querem
perpetuar esse momento, querem ficar só nele, querem esquecer a cruz. Por isso
propõem a construção de uma barraca. A barraca seria a maneira de segurá-lo
desse jeito, de garantir que ele não viesse de novo com aquela conversa da
cruz. Ali, brilhando, reluzindo ao lado de Elias e Moisés, seria muito mais
fácil assumi-lo.
Nós, muitas vezes, sentimos também essa
tentação. Desenvolver uma fé descomprometida, apenas contemplativa, é também
hoje armar barraca para a glória, é também hoje ignorar a passagem pela cruz.
Imaginar Jesus eternamente ao lado de Elias e Moisés, conversando com eles, é
não querer seguir o rumo da cruz.
É preciso saber levantar-se depois dos
momentos de glória, depois dos momentos de se ajoelhar. Jesus faz isto também.
Busca momentos de se reabastecer e vai à luta. Este ir à luta começa aí não
aceitando a proposta de Pedro.
4. “Escutem o que ele diz!” (Mt 17.5c)
Aí o próprio Deus coloca a sua
proposta. Deus leva a visão para a audição: “Escutem o que ele diz”. É preciso
ouvir o que Jesus diz, porque “este é seu Filho querido, este lhe dá muita
alegria” (Mt 17.5).
Ao ouvirem essa voz, os discípulos
tremem na base. Sabem já o que isso significa. Já ouviram tanto ele dizendo,
desafiando, convocando…
“Levantem-se e não tenham medo” (Mt
17.6b). É preciso levantar-se e viver o que ele diz. Para isso necessita-se de
coragem, de energia, de fibra. Não é fácil ser seguidor de alguém que assume o
sofrimento. Bem mais fácil seria seguir um Jesus que aceitasse a instalação de
uma confortável barraca ao lado de Elias e Moisés, personagens gloriosos da
história de Israel.
5. Jesus é mais brilhante do que Elias e
Moisés
Jesus é o filho amado de Deus. Não
Elias, nem Moisés. Só Jesus. Isto o deixa em destaque. Elias e Moisés lembram
Deus revelando sua palavra. Mas Jesus é mais do que isso. Jesus é o verbo que
se fez carne. Eles são importantes, sim. Estão aí, no alto do monte,
conversando com Jesus. Mas Jesus é o filho amado que a gente precisa ouvir e
seguir.
Depois da visão, Moisés e Elias
desaparecem. Fica bem claro quem é que interessa dali para frente. A mensagem
do evangelho passa a valer mais do que a lei e os profetas. Mas o importante é
que Jesus faz essa ponte entre essas mensagens, todas com o seu devido valor,
devidamente explicadas, vividas no decorrer do evangelho de Jesus.
Somem tradições e costumes. Fica Jesus.
Jesus aparecendo com o rosto brilhante
e as roupas brancas como a luz quer ser a prova de que é o Messias tão
esperado. Ele tem a ver com os anjos, ele tem a ver com Deus. É o seu filho
amado, que lhe dá tanta alegria.
6. O momento do brilho entre as cruzes
hoje
Como necessitamos de momentos de brilho
também entre as nossas cruzes hoje! E é a vida comunitária, vivida com
responsabilidade e intensidade, que dá isso para a gente. Precisamos poder
também transfigurar comunitariamente, na base da história que a gente já viveu,
na base de tudo o que a gente já aprendeu, na base da vida.
As nossas celebrações comunitárias
deveriam ser esses momentos fortes de brilho e glória.
Deveriam iniciar com canções marcantes,
que possam nos emocionar. Os nossos cultos precisam ser um preparo para a vida,
um fortalecimento para a vida, porque a vida não é uma beleza o tempo todo.
Penso que, no geral, a gente, como igreja de origem luterana e alemã, dá muita
ênfase à razão em detrimento da emoção. Não é necessário explicar tudo em
nossas celebrações. Não é preciso entender tudo. Mas é preciso sentir tudo, é
preciso conseguir juntar as coisas que a gente sente com a vida do dia a dia,
onde a gente sente muito.
7. “Não tenham medo! Levantem-se” (Mt
17.6b)
Mas não dá para ficar no momento do
brilho. Isto é muito pouco. Não dá para perpetuar o momento da glória. Este
Jesus glorioso também anuncia a cruz. Pois não dá para negar a cruz. Ela
precisa ser assumida em todas as suas dimensões. É preciso que nos levantemos
do êxtase e que não tenhamos medo.
Pedro quer se apoderar de Jesus, quer
construir uma barraca para prendê-lo a esse momento de glória; ele merece uma
indireta bonita de Deus: Ouçam o que Jesus diz! Isto é o que importa. Será que
a gente não merece também uma indireta dessas? Eu penso que não, simplesmente
porque em muitas de nossas comunidades nem há esse momento de brilho. Há
celebrações frias, racionais, estáticas. Há muitas celebrações sem celebração
alguma. Lastimável, mas é.
8. A celebração como um todo, liturgia e
pregação
A celebração precisa ser bonita,
precisa mexer com a emoção, como todas, aliás. Mas esta em especial deve
lembrar-nos de que temos a necessidade também dos nossos momentos de brilho.
Precisamos sentir a glória de Jesus inundando aquele momento todo especial na
companhia da comunidade reunida. Penso que deveria ser pensado especialmente em
detalhes brilhantes, talvez inclusive lembrando coisas do passado (Moisés e
Elias), importantes para nós. Uma pessoa poderia ser vestida de uma maneira
chamativa, talvez uma menina vestida de anjo com muito brilho. Assim, em época
fora do Natal, chamaria bastante a atenção. Esse anjo poderia ser despido do
brilho durante a pregação, restando nele roupas rústicas, que lembram trabalho,
sofrimento, cruz, que lembram o trabalho do dia a dia. Ele poderia estar
prostrado e ser convidado a se levantar e seguir o caminho. Poderia ser
convidada uma pessoa da comunidade para estender a mão ao anjo agora despido de
brilho. Essa poderia ser convidada a dirigir-lhe uma palavra de Jesus, já que
Deus fala que é preciso ouvir o que este nos diz.
Quanto aos passos da pregação, penso
que poderiam ser seguidos os mesmos desta minha meditação. Organizei esta de
tal maneira que isso fosse possível.
Aclamação do evangelho
Penso que ficaria bem simplesmente
repetir a leitura de 1 Pe 1.19b: “Vocês fazem bem em prestar atenção nesta
mensagem, porque ela é como uma luz que brilha em lugar escuro, até que o dia
amanheça, e a luz da estrela da manhã brilhe no coração de vocês”.
Bibliografia
BATISTA, Severino. O Evangelho de Mateus em Versos
Populares – A Palavra na Vida 146. CEBI, 2000.
MALSCHITZKY, Harald. Auxílio sobre Mt 17.1-9 – Proclamar Libertação Vol. XVIII,
São Leopoldo: Sinodal, 1992.
MESTERS, Carlos; LOPES, Mercedes; OROFINO, Francisco. Travessia – Quero misericórdia e
não sacrifícios – A Palavra na Vida 135/136, CEBI, 1999.
VASCONCELOS, Pedro Lima; RODRIGUES da Silva, Rafael. Feliz quem tem fome e sede
de justiça, a Boa Notícia segundo a comunidade de Mateus – A Palavra na Vida
134, CEBI, 1999.
Louraini Christmann é autora do livro A vida em poesia, publicado
pelo CEBI.
Fonte:
www.luteranos.com.br
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