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sábado, 2 de agosto de 2014

Catequese: Perspectiva cristológico-biblica

Viram o Senhor e conheceram coisas maravilhosas: que coisas são estas?


A catequese é uma ação evangelizadora privilegiada, que visa ajudar outros a encontrarem o Senhor Jesus, “caminho”, que nos conduz a Deus, “verdade” que ilumina a existência e “vida” em plenitude, que satisfaz todas as buscas humanas. Os catequistas são mistagogos /pedagogos, que têm a missão bonita de conduzir outros a Jesus.


Antes de tudo, eles mesmos devem estar com Jesus e sentir-se felizes por tê-los encontrado, como aqueles primeiros discípulos, que já haviam passado algum tempo com Ele, gostaram, ficaram entusiasmados e começaram a contar para os outros o que viram: “ Encontramos Aquele, de quem escreveu Moisés na Lei, e também os profetas: Jesus de Nazaré”(Jo 1,45). Diante do ceticismo de Natanael e de sua pergunta irônica – de Nazaré, pode vir algo de bom? – Filipe não desiste e convida: “Vem ver” (cf.1,46), pois já conhece Jesus e sabe que é bom, é belo, é prometedor estar com ele; por isso convida o amigo a “ver” pessoalmente e tem a certeza de que Natanael também vai gostar.


Cena semelhante encontramos no final do Evangelho de São João, quando Jesus aparece aos apóstolos, sem que Tomé estivesse com eles. Quando lhe contam, cheios de alegria – “vimos o Senhor!”- Tomé responde, incrédulo e desanimado: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser os dedos nas marcas dos pregos em suas mãos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei”(Jo 20, 24-25). Tomé quer ver, tocar, constatar pessoalmente, para crer, depois. Jesus lhe aparece e tira as dúvidas. Tomé cai de joelhos e faz a profissão de fé mais completa em Jesus – a fé da Igreja apostólica, que conservamos e professamos também nós: “Meu Senhor e meu Deus” (cf.Jo 20, 26-29).

Tornaram se testemunhas qualificadas: de que forma isto pode acontecer?


Tomé, como os outros apóstolos, “viram” Jesus e isso, na linguagem bíblica, sobretudo de S. João, significa que conheceram profundamente, para além das aparências. Viram fundo e conheceram a verdade luminosa que está por trás das aparências. Os apóstolos estavam plenamente convencidos dessa verdade e, por isso, puderam tornar-se as testemunhas qualificadas de Jesus e do Evangelho. Quem não tem uma profunda experiência da fé cristológica, enraizada no encontro vivo com o Senhor ressuscitado, qual testemunho pode dar aos outros? Sua catequese será fraca, feita apenas de ensinamentos intelectualizados e que não transmitem entusiasmo e convicção aos outros. 

No inicio da pregação do Evangelho, quando os apóstolos são presos e torturados, eles não desistem nem escondem que são discípulos de Cristo. Ficam até felizes por terem sido considerados dignos de sofrer pelo nome do Senhor (cf. At5, 41). Diante das autoridades, que lhes querem proibir de anunciar o Evangelho (censura, estado laico, discriminação religiosa...) eles respondem: “Vejam vocês mesmos se é mais importante obedecer a Deus antes que os homens.Nós mesmos não deixamos de falar daquilo que vimos e ouvimos” (cf.At4,20). Os apóstolos dão testemunho de Jesus não apenas por que têm idéias bonitas ou grandiosas sobre Ele, mas porque “viram o Senhor”, estiveram com ele e conheceram coisas maravilhosas.


O mesmo se pode ler em São Paulo. Cheio de ardor juvenil, no seu modo de entender, achava ser a coisa mais certa do mundo perseguir, prender, reprimir os cristãos (Cf.At9). Mas depois do seu encontro com Cristo, que o envolveu de tanta luz a ponto de ficar cego, e após ouvir as palavras de Jesus – “Saulo, Saulo por que me persegues?”-, ele começa a ver as coisas de um modo novo, totalmente diverso. E se torna o grande discípulo missionário, apaixonado por Jesus, que foi capaz também de sofrer por Ele e de viver inteiramente dedicado a Cristo. “ O meu viver é Cristo” (cf.F1 1,21). “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!” (cf.Gl 2,20).


“Verás a glória de Deus”: Como isto é possível, hoje?


Mas voltemos no caso de Natanael. Quando finalmente, ele “vê” Jesus, ouve esta observação do Mestre: “Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi”. Todo surpreso e admirado, Natanael pergunta: “Como me conheces”? De fato, Jesus vê e conhece cada um, como o Pai celeste, que vê o coração e conhece cada um pelo nome e fica a espera de encontrar cada pessoa. Natanael vai encontrar Jesus, mas é Deus que quer encontrar Natanael... A catequese precisa ajudar as pessoas a conhecerem o amor de Deus e seu desejo salvador de comunicar-nos vida e felicidade. Natanael sente-se atraído e encantado por Jesus e logo exclama: - “Mestre tu é o Filho de Deus!” É a profissão de fé da Igreja em Jesus ressuscitado.


A catequese não deve apenas falar de Jesus às pessoas, das coisas de Deus e da Igreja, mas precisa ajudá-las a falar com Deus e a professar a sua fé. A participação na vida litúrgica será a conseqüência natural de uma boa catequese. Enquanto não chegar a isso, a catequese ainda foi insuficiente e incompleta. Por isso, atualmente, a catequese é entendida como um caminho progressivo de iniciação à vida cristã, para levar à firme adesão a Jesus Cristo e a Igreja e também ao seguimento de Jesus. 

Natanael ficou impressionado quando se deu conta de que já era conhecido por Jesus, antes mesmo de tê-lo visto e encontrado. Jesus o surpreende ainda mais quando lhe promete: "Verás coisas ainda maiores do que estas. Verás o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (cf.Jo 1, 50-51); promete-lhe que “verá” a glória do céu . Em outro lugar, na ressurreição de Lázaro, Jesus diz a Marta: ”Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?”(Cf.Jo 11,40). A catequese confronta as pessoas com as realidades e os anseios mais profundos da existência humana, alimentando a fé e a esperança e introduzindo a pessoa no mistério do desígnio salvador de Deus para conosco. O cristão caminha na fé e se prepara ao longo da vida para “ver coisas maiores”, aquelas que Deus preparou para aqueles que o amam (cf 1Cor 2,9).


O Papa Bento XVI disse que nossa Igreja não cresce pela imposição de sua fé, mas pela atração das coisas bonitas e elevadas, que ela tem para anunciar as pessoas. A catequese é um momento privilegiado para atrair as pessoas para Deus e a Igreja.


Essas reflexões levam a algumas conclusões úteis para a catequese:

A. A finalidade da catequese é proporcionar e intermediar um encontro vivo com Jesus Cristo e com Deus.
B. O papel do catequista é o de um mediador desse encontro: Ele convida os catequizandos a encontrar Jesus e os conduz a Ele.
C. Método da catequese inclui o testemunho convicto da fé do catequista: Ele não apenas fala de Deus e da Igreja, mas ajuda a falar com Jesus e com Deus e a sentir se parte da Igreja;
D. A catequese não se deve contentar em mostrar o sentido das coisas deste mundo; mas precisa falar das "coisas maiores”, que só Deus é capaz de fazer, nas quais cremos e esperamos;
E. Natanael sentiu-se atraído e arrebatado por Jesus. A catequese deve ser contagiante e despertar nos catequizandos um forte desejo de “conhecer” Jesus e as coisas de Deus e da Igreja. Abelhas não são atraídas por vinagres, mas por mel... Temos muita coisa belíssima da nossa fé e da vida da Igreja para contar e mostrar aos catequizandos.


CONVERSANDO:

a. O que o texto sugere como práticas possíveis de se concretizar no dia a dia do catequista?
b. O catequista mistagogo é alguém que guia o catequizando para Jesus e expressa com sua vida o que os discípulos viveram: “Nós encontramos o Senhor, Vem e vê!”. Na sua prática catequética, o que significa: “nós encontramos o Senhor”.?



FONTE:

VII SULÃO DE CATEQUESE. Mistagogia: Novo caminho formativo de catequistas. pg. 9-12. S.Jose do Rio Preto – SP. 19 a 21 de agosto de 2011.

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